Home
Andreia Horta
Caco Ciocler
cinebiografia
cinema brasileiro
critica
filme brasileiro
Gustavo Machado
Hugo Prata
Júlio Andrade
Lúcio Mauro filho
Rodrigo Pandolfo
Zecarlos Machado
Elis
Elis
Intensa. Talvez essa seja a melhor palavra para definir Elis Regina. E, como a cantora, sua vida também foi repleta de emoções fortes. São muitos os pontos de conflito, os encontros memoráveis, os shows inesquecíveis. Talvez impossível de caber em um longa-metragem. E assim o filme Elis surge com força e intensidade, mas também repleto de falhas.
Não que a obra precise dar conta de toda a vida de Elis, nem mesmo precisa ser fiel aos acontecimentos. É uma cinebiografia, mas é uma ficção. Escolhas são necessárias. E Hugo Prata parece ter feito uma bem clara: a música e os relacionamentos amorosos. O problema é que isso acabou não sendo tão bem desenvolvido. E mesmo com a ajuda de dois grandes roteiristas como Vera Egito e Luiz Bolognesi, a narrativa nunca se aprofunda na personagem e torna-se confusa em saltos temporais abruptos. Há uma economia narrativa que privilegia muitas vezes momentos que poderiam ser condensados ou suprimidos em detrimento de outros que ficaram de fora.
É um filme extremamente masculino também. Elis em uma entrevista a época da chegada de sua filha Maria Rita, disse que sua vida era muito cercada por homens. Hugo Prata radicaliza isso e só apresenta homens ao seu redor. Amizades famosas como a cantora Rita Lee nem são citadas. As poucas mulheres só surgem em tela para rivalizar com a cantora. Nara Leão, desafeto histórico, e Gal Costa, que, apesar de futuras parceiras, foi introduzida apenas para comparar a "velha" Elis com a inovadora baiana.
Apesar disso, há no filme algo que nos emociona e satisfaz. E o nome é Andreia Horta. A atriz encarna o mito com uma intensidade que chega a nos assustar em alguns momentos. Parece que estamos vendo Elis em tela, principalmente porque a voz que ouvimos é dela. Ainda que alguns momentos possamos perceber a dublagem, tudo se torna muito real e próximo. O jogo corporal da atriz é impressionantemente parecido. O sorriso nos assombra e contagia. O olhar nos intimida e emociona. Feliz, triste, revoltada, realizada. Temos Elis em cena por quase duas horas e isso é um deleite por si só.
Desde a sua chegada ao Rio de Janeiro até sua morte prematura, podemos respirar sua intensidade e suas principais canções. Claro que sentimos falta de parcerias como Milton Nascimento, que também foi um grande amigo, ou Tom Jobim, com quem gravou um dos discos mais importantes da sua carreira. O show Saudade do Brasil também fica de fora e tantos outros momentos memoráveis. Mas vemos a vitória de Arrastão no festival da canção, o Fino da Bossa e Falso Brilhante, por exemplo.
Um destaque é dado para o episódio com o exército. Elis chamou os militares de gorilas e acabou tendo que cantar nas olímpiadas dos ditadores, causando problemas em sua carreira. Foi "enterrada" por Henfil, vaiada em shows, questionada por muitos. Mas com talento conseguiu provar seu ponto de vista e ouvir desculpas do cartunista do Pasquim após a gravação de O Bêbado e o Equilibrista. Só que no filme, esse momento acaba sendo romantizado demais. Tendo inclusive uma cena de suspense desnecessária dela voltando para casa e procurando João Marcelo, com uma trilha sonora over, talvez um dos piores momentos do filme.
Aliás, a trilha sonora original do filme é bastante problemática. As passagens de tempo são muitas vezes criadas com uma trilha de jazz desnecessária em formato de videoclipe. Funciona muito mais quando uma música do próprio repertório de Elis costura as cenas, como um momento em que ouvimos Atrás da Porta ou Aos Nossos Filhos.
Talvez, o melhor do roteiro seja o fechamento do ciclo através de duas músicas de Belchior, outro compositor não citado no filme. Como Nossos Pais e Roupa Velha Colorida dialogam bem entre si e com o sentimento que fica dessa que ainda hoje é considerada a melhor cantora do país. A nostalgia, o passado, não nos servem mais. Mas a gente insiste em revivê-lo com tanta intensidade que é difícil assimilar o novo que sempre vem.
O que fica de Elis é essa nostalgia e saudade de uma cantora intensa que tivemos o prazer de reviver um pouco em tela através de sua voz e uma atriz inspirada. Essa intensidade vale o filme, mesmo com todos os problemas técnicos.
Elis (Elis, 2016 / Brasil)
Direção: Hugo Prata
Roteiro: Hugo Prata, Vera Egito, Luiz Bolognesi
Com: Andreia Horta, Caco Ciocler, Gustavo Machado, Lúcio Mauro Filho, Júlio Andrade, Rodrigo Pandolfo, Zecarlos Machado
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Elis
2016-11-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Andreia Horta|Caco Ciocler|cinebiografia|cinema brasileiro|critica|filme brasileiro|Gustavo Machado|Hugo Prata|Júlio Andrade|Lúcio Mauro filho|Rodrigo Pandolfo|Zecarlos Machado|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Tem uma propaganda em que a Dove demonstra como o padrão de beleza feminino é construído pelo mercado publicitário . Uma jovem com um rost...
-
Muitos filmes eróticos já foram realizados. Fantasias sexuais, jogo entre dominação e dominado, assédios ou simplesmente a descoberta do pr...
-
Brazil , dirigido por Terry Gilliam em 1985, é uma obra que supera todos os rótulos que a enquadrariam como apenas uma distopia . Seu mundo...
-
O desejo de todo ser humano é ser amado e se sentir pertencente a algo. Em um mundo heteronormativo, ser homossexual é um desafio a esse des...
-
Em determinada cena no início da obra, Maria Callas está em pé na cozinha, cantando enquanto sua governanta faz um omelete para o café da m...
-
O dia de hoje marca 133 anos do nascimento de John Ronald Reuel Tolkien e resolvi fazer uma pequena homenagem, me debruçando sobre sua vid...
-
Encarar o seu primeiro longa-metragem não é fácil, ainda mais quando esse projeto carrega tamanha carga emocional de uma obra sobre sua mãe....
-
Agora Seremos Felizes (1944), ou Meet Me in St. Louis , de Vincente Minnelli , é um dos marcos do cinema americano da década de 1940 e exe...
-
Poucas obras na literatura evocam sentimentos tão contraditórios quanto O Morro dos Ventos Uivantes , o clássico gótico de Emily Brontë . A...