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oscar 2017
A Chegada
A Chegada
Com raras exceções como E.T. de Spielberg, filmes de alienígenas sempre mostram os extraterrestres como invasores maus, bélicos e conquistadores. É típico da natureza humana que, há seu tempo, saiu ao mar, conquistando povos e continentes sempre em guerras e dizimação de raças consideradas inferiores. Então, quando doze esferas se instalam em pontos diversos do planeta Terra, é natural que as pessoas tenham medo e imaginem ter que se defender dos intrusos.
Esse sentimento é um dos muitos pontos que Denis Villeneuve utiliza para jogar com a plateia em A Chegada. Ficção científica que utiliza os extraterrestres apenas como pretexto para falar sobre relações humanas. Um filme extremamente sensível e impactante que nos envolve de uma maneira que nos vemos também refletindo sobre nossas próprias vidas. É a eterna dúvida de: se soubéssemos o futuro, faríamos tudo exatamente igual?
Amy Adams é uma linguista chamada para ajudar na tentativa de comunicação com esses seres. Mas mais do que isso, Dra. Louise Banks é uma espécie de chave para o que iremos acompanhar. O roteiro não-linear escrito por Eric Heisserer nos ajuda nessa compreensão, mostrando sua bela relação com a filha em paralelo aos acontecimentos com os extraterrestres.
A atriz consegue conduzir bem esse estado de espírito da personagem que também não segue uma linearidade como ela mesmo aponta em sua fala inicial. O começo, meio e fim parecem perder sentido, nos conduzindo em uma relativização do tempo que assusta e acalma ao mesmo tempo. Pois parece não existir perdas reais nesse aspecto, tudo volta, tudo é cíclico.
É interessante que apesar da presença fundamental do cientista Ian Donnelly, vivido por Jeremy Renner, o filme é da persoangem de Adams. As atitudes são sempre dela desde o primeiro instante que está na frente dos aliens. Seja na tentativa de diálogo com imagens, seja em tirar a roupa de proteção ou seja em atitudes futuras que modificam tudo. Sem falar que é a relação dela com a filha que nos faz embarcar nessa história.
Fora o tema instigante e a maneira como mexe conosco, A Chegada tem ainda uma capacidade de construir sensações que nos deixam ali, próximos às personagens, de uma maneira assustadora. A primeira vez que a dupla entra na esfera, por exemplo, é extremamente bem construída. Seja pelo tempo expandido com planos muitos longos e pausas para apreciação. Seja nos sons da respiração ofegante da doutora Banks. Ou ainda na condução dos enquadramentos que vão nos mostrando aos poucos o caminho até a chegada dos alienígenas.
Não é um filme de ação, nem mesmo de muitos efeitos especiais. A Chegada é intimista. Tudo é construído em sensações e embates psicológicos. Uma forma de comunicação entre diretor e público que vai além de imagens impactantes. E que trazem à tona esses temas como a nossa capacidade de se comunicar e interpretar a intenção do outro. Somos muitas vezes alienígenas para o nosso próprio vizinho. E, de certa, maneira, é essa inabilidade de se comunicar e trabalhar em equipe que faz a humanidade ainda capengar em sua evolução.
A Chegada é mais que um filme. É um tratado sobre a humanidade. Ainda bem que ele nos mostra que o tempo é também relativo e, assim, ainda é possível reconstruirmos nossos caminhos nesse planeta.
A Chegada (Arrival, 2016 / EUA)
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Eric Heisserer
Com: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Chegada
2016-12-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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