
Quando a produção de Assassin´s Creed foi anunciada, gerou grande expectativa. Dirigido por Justin Kurzel e estrelado por nomes como Michael Fassbender, Marion Cotillard e Jeremy Irons, o filme tinha tudo para ser uma grande obra. Finalmente, uma grande obra adaptada de um game. Porém, tudo não passou de promessa.
Nunca joguei o game da Ubisoft, é bom ressaltar, mas também não vem ao caso, afinal estamos avaliando um filme e ele tem que se justificar em si mesmo, sem precisar de muletas de outras experiências. Ainda que precisemos ter a consciência das camadas de espectador, entre fãs dos jogos, curiosos que tem alguma familiaridade com os mesmos e aqueles que não tem nenhum contato com eles. Alguns irão aos cinemas sem nem ao menos saber se tratar de uma adaptação de um game.
Há no filme uma excelência plástica já apreciada em Macbeth, filme anterior do diretor. A fotografia é muito bem pensada e funciona, seja no tempo atual, dentro do laboratório, ou na Espanha do século XV. As tomadas aéreas promovem um prazer estético ímpar, com a luz sempre difusa e uma sensação de liberdade que tem a ver com a temática da obra. As cenas de ação também são bem orquestradas. Falta, à obra, ritmo, um roteiro que nos instigue e personagens mais carismáticos. É difícil comprar uma ideia e embarcar em uma história de fantasia se o roteiro não nos conduz de maneira orgânica a isso. E não digo com isso que a trama seja confusa, é até bem simples. Templários e Credo lutam há séculos pela posse de um artefato místico que teria a chave do livre-arbítrio humano. Um quer possuí-lo para controlá-lo e o outro quer escondê-lo para proteger a liberdade de cada um. Essa é a base e é até interessante se não fossem alguns exageros de ambos os lados.
O maniqueísmo toma conta do universo de uma maneira quase cega, a ponto dos próprios seguidores do credo acabarem contraditórios, já que defendem tanto o livre-arbítrio e o não fanatismo. Muitas vezes, eles parecem mais fanáticos que os templários. E falo isso principalmente pelo comportamento dos membros no tempo presente. Já que não é apenas Callum Lynch, personagem de Michael Fassbender, que está servindo de cobaia para os experimentos da Abstergo. A ideia do Animus, máquina que consegue captar as memórias genéticas dos nossos ancestrais também é bem interessante. Porém, fica uma sensação confusa na mitologia daquele mundo a maneira como é apresentado, principalmente por alguns detalhes que vão se desenrolando ao longo da trama. E principalmente da resolução. A própria jornada de Callum se torna quase tola com etapas esquemáticas e simplistas para se chegar ao objetivo que é descobrir onde está a Maçã do Éden.
Ainda que tenha uma produção caprichada, com ótimos atores em performances corretas e um diretor capaz de bons feitos, Assassin´s Creed acaba se tornando uma obra ruim. Na verdade, nada parece funcionar na tela. Uma pena, pois o universo criado pelo game parecia abrir portas para incríveis histórias.
Assassin´s Creed (Assassin´s Creed, 2017 / EUA)
Direção: Justin Kurzel
Roteiro: Michael Lesslie, Adam Cooper, Bill Collage
Com: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Jeremy Irons
Duração: 115 min.

