Kubo e as Cordas Mágicas
"Se for piscar, pisque agora." Avisa a narração inicial que é também o bordão de Kubo em suas apresentações na vila onde vive, criando a expectativa para a adrenalina. Kubo e as Cordas Mágicas é uma grande fábula que bebe nas referências orientais para nos contar uma aventura de um garoto e a mística que envolve sua família.
A maneira como o roteiro é construído nos remete à tradição ancestral do contar histórias. A narrativa parece simples, um herói precisa enfrentar um vilão para vingar sua família. Porém, antes, ele precisa encontrar três artefatos mágicos que o deixarão mais poderoso.
Isso nos remete a diversas histórias com Harry Potter tendo que encontrar as relíquias da morte para enfrentar Voldemort. Ou Aang tendo que aprender as dobras de água, terra e fogo antes de enfrentar o senhor do fogo. Mas o que tornar a narrativa mais rica é exatamente a construção do mundo e suas leis, assim como a mitologia por trás da trama.
Kubo tem algo que encanta em sua concepção, a questão dos origâmis que ganham vida com o tocar de suas cordas, a maneira como a magia o cerca, a própria situação do avô ter lhe roubado um olho e o que este alega ser o motivo para isso. O que parecia ser uma simples aventura de herói contra vilão vai ganhando camadas cada vez mais ricas.
A própria simbologia da macaca que era um amuleto e do besouro que era um samurai traz outras questões que enriquecem a trama. Não só pelas revelações futuras, mas pela própria distribuição das referências. Já que uma era o amuleto da mãe e o outro aprendiz do pai.
Fora a história e a mitologia criada, Kubo ainda encanta pelo visual. Desde a primeira cena, tudo parece grandioso e extremante belo, bem construído. O balé dos origâmis é lindo, rico em detalhes. As cenas das lamparinas sendo conduzidas pelo rio emocionam. O jogo de luz e sombras no mar impressiona.
Ainda que não seja um desenho oriental, o fato de beber na fonte dessa cultura faz Kubo ter uma maneira especial de lidar com a morte. Além de ser menos rígido no conceito de bem e mal, o que enriquece a experiência filmica.
No final das contas, Kubo e as Cordas Mágicas traz diversos elementos que envolvem e encantam o espectador, mesmo que em alguns momentos dê sinais de cansaço. Uma bela animação que, não por acaso, compõe os indicados ao Oscar 2017.
Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and the Two Strings, 2016 / EUA)
Direção: Travis Knight
Roteiro: Marc Haimes
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Kubo e as Cordas Mágicas
2017-02-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|critica|infantil|oscar 2017|Travis Knight|
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