
Baseado no livro "A Long Way Home" do próprio Saroo Brierley, Lion é daqueles típicos filmes feitos para emocionar. E não tem nada de errado nisso, ainda mais por se tratar de uma história real. Talvez o único problema do roteiro seja não conseguir dosar tão bem as passagens.
A sinopse, de alguma maneira, entrega o filme inteiro. Saroo é um garotinho indiano que se perde do irmão em uma estação de trem, vai para um orfanato, é adotado por uma família australiana e,após vinte e cinco anos, resolve procurar sua família indiana. É difícil analisar algumas questões sem dar spoilers. Essas revelações, de certa maneira, é que compõem a premissa da obra.

Tocante por ser algo tão simples e ao mesmo tempo tão simbólico. Algo que traduz a situação precária em que viviam, onde o sonho de um garoto poderia ser tão pouco. E a situação de fartura em que vive atualmente, em um país com uma realidade tão distinta como a Austrália e pais ricos que lhe proporcionaram outras oportunidades, além, claro, de amor.
A questão dos pais e da adoção é outro ponto trabalhado na obra. Em determinado momento, a personagem de Nicole Kidman fala que o mundo já tem pessoas suficientes, melhor que colocar novos no mundo, era ajudar e dar oportunidade a esses que já estão aí. Ainda que não desenvolva muito a criação com os filhos adotivos, o filme deixa claro o amor incondicional e o respeito dos filhos, mesmo do irmão adotivo de Saroo que tem problemas psicológicos. E mesmo procurando a mãe e o irmão, o garoto tem o cuidado de não magoar a mãe adotiva.

A direção do estreante Garth Davis também é precisa, sabendo dosar bem as paisagens da Índia, nos dando ao mesmo tempo a sensação de liberdade e claustrofobia. As sequências do trem, por exemplo, com o desespero do garoto preso contrastando com os olhares confusos ou mesmo indiferentes das pessoas ajuda a construir o efeito de angústia. Da mesma forma em que as cenas de Saroo adulto, procurando no Google por sua casa dão a sensação da prisão interna da personagem. As visões do irmão também são bem construídas, ajudando na construção psicológica do mesmo.
Lion: Uma Jornada Para Casa traz o mesmo problema da maioria dos indicados ao Oscar desse ano, subtítulos brasileiros desnecessários. O porquê do Lion é explicado ao final do filme, trazendo muitos significados que ajudam a dar ainda mais força à história. Já a jornada para casa torna tudo meio pobre, como se resumisse a trajetória da personagem a isso. Quase desqualificando sua vida australiana. De qualquer maneira, é um belo filme, que se destaca pela incrível história real e pelas atuações.
Lion: Uma Jornada Para Casa (Lion, 2017 / Austrália / EUA)
Direção: Garth Davis
Roteiro: Luke Davies
Com: Dev Patel, Nicole Kidman, Rooney Mara, David Wenham
Duração: 118 min.