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Esteros

Esteros - filme

Estreia no Brasil o filme Esteros, primeiro longametragem do diretor argentino Papu Curotto, que foi premiado com o prêmio especial do júri e prêmio do público no Festival de Gramado de 2016. Baseado na infância do próprio diretor, Esteros é uma história de amor. E, como todas, possui clichês e previsibilidades, mas também uma certa delicadeza.

Matias e Jeronimo são dois amigos de infância que descobrem a sexualidade juntos, quase como uma curiosidade ingênua. Não há tempo para muito mais que isso, já que Matias se muda para o Brasil com a família, perdendo contato com Jeronimo. Quando ele retorna a Paso de Los Libres, na Argentina, com sua noiva, os dois amigos se reencontram e as lembranças retornam em meio a sentimentos não resolvidos.

Esteros - filmeO roteiro de Andi Nachon tenta criar um suspense em relação à trama, mas é complicado criar qualquer suspense quando na primeira cena em que Matias e Jeronimo se olham, é possível deduzir tudo. Pelo menos, é possível perceber que Matias fica incomodado com a presença do amigo de infância e que há uma tensão sexual entre eles. Quando os flashbacks surgem, também é fácil observar que as brincadeiras e olhares, seja jogando espuma um no outro, brincando no rio ou dividindo um chuveiro, não são de simples amigos.

Esteros acaba trazendo, então, uma bela história de amor, com todos os elementos do primeiro amor de infância reprimido e a possibilidade de revivê-lo. Assim como a questão homossexual e seus tabus, principalmente nos olhares do pai de Matias e nas atitudes do garoto e rapaz. Porém, o roteiro não consegue pegar essa boa história e construir uma trama tão envolvente quanto poderia para o filme. Não parece existir conflito, apenas no medo de Matias do olhar do pai que parece o acompanhar mesmo sem a presença do genitor. Tudo converge para o amor dos dois, até mesmo uma chuva, pais que chegam atrasados ou um compromisso da noiva.

Esteros - filmeNão que precise haver um grande conflito ou mesmo ser abordado o preconceito sexual. Porém, da forma como se apresenta, só nos faz imaginar que Matias é um tolo e que tudo aquilo não faz sentido. A economia narrativa é mal construída, pois, diante disso, demora muito nessa preparação e quando algo óbvio acontece, o filme já está acabando.

As personagens femininas também são mal construídas. A mãe de Matias é insignificante na trama. A de Jeronimo só faz tirar fotos e não temos ideia de até que ponto ela entende o que acontece com seu filho e o amigo. Já a noiva de Matias, Rochi, também não é desenvolvida. Nem mesmo o relacionamento dos dois é bem construído, dando a sensação de que é quase uma formalidade para demonstrar que, longe de Jeronimo, Matias seguia uma vida heterossexual. E isso, em nenhum momento, soa como uma ameaça ao destino do verdadeiro casal.

Ainda assim, a direção de Papu Curotto é sensível. Ele utiliza bem as belas paisagens naturais para construir uma relação inocente dos dois. As investidas na infância são delicadas, os poucos carinhos trazem um cuidado. Assim como as cenas deles adultos, onde a tensão sexual é sempre construída com uma dose de sentimento. Sendo mais do que uma simples exploração de um tema que está em voga na atualidade.

Esteros tem problemas em sua estrutura, porém consegue nos sensibilizar diante de uma bela história de amor que tem a natureza como testemunha e ajudante. Não há muito com o que se surpreender. Mas é bonito de acompanhar. Como a vida.


Esteros (Esteros, 2017 / Argentina)
Direção: Papu Curotto
Roteiro: Andi Nachon
Com: Ignacio Rogers, Esteban Masturini, Joaquín Parada
Duração: 73 min.

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