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Fome de Poder

Fome de Poder - filme

Dizem que a história é contada pela ótica dos vencedores. A história do surgimento da McDonald´s não é diferente, por mais que o roteiro de Robert D. Siegel tente fazer jus à iniciativa dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald.

O primeiro plano já é um close de Ray Kroc, interpretado por Michael Keaton, nos vendendo uma máquina de milkshake, ou melhor, um discurso sobre produtividade e lucros. Na verdade, ele está conversando com um possível comprador, mas ao fazer essa escolha de direção, John Lee Hancock nos convida literalmente a conhecer sua história.

A história de Ray Kroc é impressionante, de fato, a de Siegel e Hancock, nem tanto. A começar pelo recorte proposto. O filme não se decide em ser uma cinebiografia ou uma análise sobre o American Way of Life ou uma reflexão sobre o próprio capitalismo. Ao mesmo tempo em que faz o seu recorte pela visão de Kroc, dedica um bom tempo a contar a história pregressa dos irmãos McDonald e inclui nos diálogos ironias dramáticas como quando os irmãos recusam uma oferta da Coca-Cola por que a McDonald´s é uma empresa familiar e não fere seus valores por propaganda. Ou ainda quando entra uma discussão sobre sorvete de verdade vs lucro.

Fome de Poder - filmeO roteiro parece ter receio em aprofundar a discussão e analisar o perfil dos peões em jogo. E isso se reflete na própria economia narrativa da trama. Temos uma longa cena dos três conversando no bar para resumir a história dos dois irmãos até então, que acaba não acrescentando muito ao que já foi dito e não é criativo cinematograficamente. Em contrapartida, a mudança de Kroc de um homem batalhando para pagar suas contas para um rico empresário que pode bater de frente com os irmãos, é resolvida com uma passagem de tempo.

Apesar de o filme escolher o ponto de vista do empresário, ele não nega seu caráter duvidoso e sua ganância. É verdade. E Michael Keaton consegue construir bem esse cara simpático e mal caráter ao mesmo tempo. Não apenas com os irmãos McDonald, como com sua esposa, sempre construída à parte da história. O filme traz também as contribuições que ele teve para tornar a McDonald´s o império que é hoje, não exagerando em sua "genialidade". É um homem persistente que teve uma visão de negócio e acreditou nela.

Fome de Poder - filmeO que o filme não problematiza é a própria empresa. A McDonald´s mudou o mundo com o seu conceito de fast food. Mas isso foi bom ou ruim? Esse conceito de família que os irmãos tinham e se perdeu com as decisões empresariais ajudaram na maneira como nos alimentamos hoje? E as questões de saúde? A qualidade prezada na forma de grelhar o hambúrguer reflete uma qualidade alimentícia?

São questões que ficam de fora da trama, ainda que existam pequenas citações como a já comentada sobre a Coca-Cola. A discussão é: quem foi o gênio criador desse grande negócio. Um negócio feito em conjunto, um conceito que vai além de um único homem, ou mesmo os irmãos que ficaram à parte na história oficial. E que hoje se tornou tão comum, com milhares de lanchonetes repetindo fórmulas com produtos diferentes.

Fome de Poder tem como maior mérito nos contar um pouco dessa impressionante história. E Michael Keaton faz a sua parte para contribuir com o perfil desse homem-chave. Porém, o roteiro acaba raso e com escolhas equivocadas. Assim como a direção não vai muito além do básico. Ainda assim, um filme curioso de se ver. E o pior, nos dá vontade de sair e comer um hambúrguer com batata fritas da rede. Então, cumpre o seu papel.


Fome de Poder (The Founder, 2016 / EUA)
Direção: John Lee Hancock
Roteiro: Robert D. Siegel
Com: Michael Keaton, Nick Offerman, John Carroll Lynch, Patrick Wilson, Linda Cardellini
Duração: 115 min.

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