A Torre Negra
Baseado no romance de Stephen King, A Torre Negra é daqueles filmes que não empolga, mas também não é uma bomba anunciada. Seu maior pecado talvez seja não ousar. Cenário, tema, roteiro, efeitos, direção, trilha, tudo soa mais do mesmo.
A trama é conhecida, um garoto aparentemente normal que é uma espécie de "o escolhido" em um mundo mágico paralelo que ninguém acredita existir. Aqui, há uma metáfora interessante típica da obra do escritor de uma torre negra que mantem o universo protegido de demônios e que pode ser destruída pelo cérebro de uma criança.
A obra literalmente constrói isso, uma máquina ligada ao cérebro de crianças é capaz de lançar raios na direção da tal torre, abalando-a. O cérebro certo, poderia colocá-la abaixo. Mas a ideia nos faz pensar nessa simbologia. Principalmente em tempos onde vemos antigas teorias segregacionistas retornarem com força. Como o cérebro de uma criança pode proteger ou destruir o mundo em que vivemos? Trabalhar a mente das novas gerações, educá-las, apresentá-las valores corretos, tudo isso conta, e muito.
O filme não chega a ser tão profundo. A ideia é apenas uma aventura mágica onde um pistoleiro, interpretado por Idris Elba, parece ter esquecido seu código e só pensa em se vingar do mago, interpretado por Matthew McConaughey. E no meio deles, o garoto Jake Chambers, vivido por Tom Taylor, um cérebro especial, que tem sonhos com o mundo onde a batalha é travada e parece ser o único capaz de destruir ou salvar o mundo.
Ainda que não tenha muitos recursos, a construção paralela entre os mundos consegue satisfazer. Há uma atmosfera onírica, seja no deserto ou na floresta, por onde o pistoleiro passa. O laboratório onde vive o "Homem de Preto" tem uma direção de arte que nos lembra filmes futuristas dos anos 80, uma estrutura rústica ainda que com aparatos eletrônicos. Há muita simplificação de efeitos, mas não chega a comprometer a ideia central.
A construção do garoto que vê o que ninguém vê e é taxado como louco é que acaba sendo um calo. Não exatamente pela repetição do clichê, mas pelos estereótipos construídos, como o psicólogo, o padrasto e até mesmo a mãe. Tudo soa estranho e tolo, em uma lógica do exagero que busca o efeito da vitimização do protagonista, incompreendido que terá que provar estar certo de alguma maneira.
A Torre Negra acaba sendo daqueles filmes que ficam na faixa média, não marcam, não envolvem, não provocam grandes efeitos. Entretém no momento, podem servir de porta de entrada de ideias e reflexões, porém são facilmente esquecíveis. Uma pena, pois tinha grande potencial.
A Torre Negra (The Dark Tower, 2017 / EUA)
Direção: Nikolaj Arcel
Roteiro: Akiva Goldsman, Jeff Pinkner, Anders Thomas Jensen, Nikolaj Arcel
Com: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Torre Negra
2017-08-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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