
Um assassino profissional chamado Amador poderia ser uma ironia infeliz, porém, acaba resumindo muito bem "Comeback: um matador nunca se aposenta", último filme da carreira de Nelson Xavier.
Amador é um amante de sua arte de matar, orgulhoso do passado repleto de chacinas, a ponto de carregar um álbum com seus "feitos", hoje é o retrato infeliz de um ser frágil, aposentado do seu ofício que vive de instalar máquinas caça-níquéis em cidades do interior. Nelson Xavier constrói com maestria esse homem e seus dilemas internos.

Apesar de paisagens amplas e cenários arejados que nos lembram um pouco o velho oeste americano, o filme acaba construindo essa atmosfera claustrofóbica exatamente pelo sentimento desse homem e seu orgulho ferido. A virada na trama que o faz buscar provar ainda ser o mesmo acaba sendo um gancho para tentar construir um filme de gênero, um thriller. Porém, não haveria necessidade de encaixá-lo assim.

Erico Rassi, em sua estreia, consegue imprimir boas escolhas com sua câmera, compondo o quadro com muita penumbra, algumas cenas apenas silhuetas, reforçando a atmosfera sombria do tema. Amador é mostrado muito de perfil, mesmo em planos próximos, construindo sua persona enigmática ainda que precisemos nos aproximar de seus pensamentos mais íntimos.
Comeback pode não ser daqueles grandes filmes que ficarão para a história do cinema, mas é um belo fechar de panos para um ator que nos brindou com tantos belos momentos em sua extensa carreira. Uma despedida melancólica e emocionante. Digna de Nelson Xavier.
Comeback (Comeback, 2017 / Brasil)
Direção: Erico Rassi
Roteiro: Erico Rassi
Com: Nelson Xavier, Marcos de Andrade, Gê Martu, Everaldo Pontes, Eucir de Souza
Duração: 89 min.