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Os Bons Companheiros
Os Bons Companheiros
Baseado no livro de Nicholas Pileggi, Os Bons Companheiros é considerado por muitos como o melhor filme de gangster já feito. Ao contrário de O Poderoso Chefão, que glamouriza o crime, nos apresentando uma saga familiar em nome da honra, aqui temos uma realidade mais crua do crime e suas consequências.
O fascínio aqui é construído para logo depois ser quebrado, já que nos mostra a trajetória de Henry Hill no mundo do crime. Desde garoto, ele sempre sonhou em ser um gangster, começou fazendo pequenos serviços e logo se iludiu com o "poder" e dinheiro que começou a ter. A narração em voz over, como em todos os filmes de Scorsese, ajuda muito na construção das personagens e do clima da obra. A maneira como o protagonista vai apresentando sua ascensão no bairro, demonstra isso.
Ao mesmo o tempo, o filme começa com uma cena de extrema violência, para depois retornar ao início, com ele ainda criança. Aqui, Scorsese e Nicholas Pileggi, que assina o roteiro junto com o diretor, já nos dão o recado. É uma vida violenta, não se iludam com os sonhos de uma criança que pensa que essa é uma solução de vida fácil. Afinal, quem não quer ter o mundo a seus pés?
A fotografia de Os Bons Companheiros também nos ajuda a perceber esse recado, sempre muito avermelhada, não apenas na tonalidade da película em si, como nos objetos de cena. O sangue parece sempre vivo e presente em todos os cenários, mesmo naqueles que parecem mais amenos, como um jantar em família ou uma conversa entre amigos em um bar. Aliás, o bar acaba sendo sempre sinônimo de momentos tensos, principalmente pela instabilidade emocional da personagem de Joe Pesci, o Tommy DeVito.
O trio principal acaba sendo o destaque, seja pela boa construção de personagens ou pela atuação. Ray Liotta faz um belo trabalho como Henry Hill, que transita em diversas personas em sua curva de transformação do garoto deslumbrado até o seu desfecho. É agressivo em diversos momentos, paranoico quando começa a se viciar em drogas, mas nunca parece perder a fragilidade do novato, o que acaba sendo coerente com sua decisão final. Já Robert De Niro dá ao Jimmy o tom exato do gangster irlandês que deseja o poder das famílias italianas, buscando sempre formas de ser maior do que é. Enquanto Joe Pesci constrói a instabilidade do Tommy de uma maneira primorosa, desde o princípio dá para perceber que não se pode confiar em suas reações.
É curioso como o Paul Cicero, personagem do Paul Sorvino, que a princípio seria o "padrinho" de Henry no crime, acaba sendo colocado de lado nas principais ações da trama. Isso tem um pouco da quebra também dessa ideia de clã construída com O Poderoso Chefão, já que o protegido não parece querer ou se importar com a proteção que poderia ter. É como se Scorsese quisesse enviar o recado de que ali é "vida real", onde tudo é mais cru, mesmo as possíveis relações de respeito e laços de honra são frágeis. Tudo nos preparando para o desfecho.
A narrativa do filme flerta com o documental. É como se estivéssemos acompanhando o depoimento de Henry sobre tudo que passou. Os saltos temporais são grandes e, muitas vezes, vemos diversas situações sendo citadas em resumo, parando para compreender melhor algum ponto importante de sua trajetória. A montagem ajuda muito nesse ponto, sendo primorosamente conduzida por Thelma Schoonmaker, dando ritmo e tensão para aquele universo tão cruel.
Os Bons Companheiros está na lista dos grandes filmes de Martin Scorsese, o que não é pouca coisa para um diretor com uma filmografia tão rica. Daqueles que podemos chamar de clássicos modernos. O diretor consegue nos apresentar um universo palpável, com personagens marcantes, através de escolhas de direção certas. Daqueles filmes que merecem ser relembrados de tempos em tempos.
Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1990 / EUA)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Nicholas Pileggi, Martin Scorsese
Com: Robert De Niro, Ray Liotta, Joe Pesci, Paul Sorvino
Duração: 146 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Bons Companheiros
2017-08-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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