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Histórias de Amor duram apenas 90 minutos
Histórias de Amor duram apenas 90 minutos
Até hoje único filme de ficção dirigido pelo roteirista Paulo Halm é uma curiosa experiência que se utiliza de uma certa metalinguagem, já que o seu protagonista é um aspirante a escritor que narra sua história em voz over. A escolha estilística acaba construindo um ponto de vista único da trama que constrói efeitos instigantes, ainda que através de uma história quase banal.
Zeca é o reflexo de uma geração frustrada, com trinta anos, vivendo da mesada que o pai dá através de uma herança deixada pela mãe, sonha em ser escritor, mas não consegue passar da página cinquenta de seu livro. Vive um casamento rotineiro com Júlia, a quem considera fria por estar sempre muito atarefada. Tudo muda quando ele acredita que sua esposa está tendo um caso com a bela dançarina Carol. Para piorar, em meio à sua fantasia de sofrimento pela traição, ele acaba se apaixonando pela moça que acredita ser a amante de sua mulher.
Triângulos amorosos não são novidades no cinema, são a base das comédias românticas e já foram explorados de todas as maneiras possíveis. Essa estrutura de narrador em primeira pessoa deixando a dúvida sobre acontecimentos também não é original, vide Dom Casmurro. Ainda assim, há na obra uma boa experiência de curva dramática, construindo a dubiedade das situações com um certo humor ácido, nem apelar muito para a possível erotização da fantasia de um homem entre duas belas mulheres.
Na verdade, o que chama a atenção no roteiro é exatamente o perfil de Zeca, esse representante de uma geração de adolescência tardia, que demora a amadurecer e não tem muita experiência de vida. Artistas "nutela" que querem passar sentimentos sem tê-los vividos, buscando inspirações em referências de outros escritores e pouco sabendo, de fato, sobre a vida. Um rapaz que simplesmente vive de herança, sem ter passado por nenhum grande sofrimento e que tem em seu pai um exemplo também frustrante, de um intelectual que ama os livros e não tem "talento suficiente para escrevê-los".
Caio Blat incorpora bem esse garoto trintão que não sabe ainda como deixar as "coisas de menino" para se tornar um homem, como escreveu há dois mil anos Paulo de Tarso. Aliás, a citação a esse trecho bíblico é criativa e divertida, demonstrando o tom informal dos diálogos e relações entre as personagens. Daniel Dantas também está bem como um homem frustrado e com pouco senso de humor. Já Maria Ribeiro e Luz Cipriota cumprem seus papéis sem maior destaque.
A direção de Paulo Halm é segura, ainda que não tão madura quanto o seu texto. Há uma construção de estilo casual, quase amadora, que nos faz muitas vezes ter a sensação de ver registros caseiros e outras onde a fotografia é bem trabalhada e cuidadosa. O ritmo é ágil, dando dinâmica à trama. E é inteligente a maneira como a câmera segue o ponto de vista de Zeca, mesmo quando ele imagina as cenas entre as duas mulheres, sendo possível distinguir realidade de imaginação mesmo que não seja utilizado nenhum recurso para diferenciar as imagens.
Histórias de Amor duram apenas 90 minutos é uma espécie de rito de passagem, como se viver a experiência da possível traição e suas consequências fosse uma forma de Zeca amadurecer. Não que isso seja uma espécie de culto ao estoicismo ou crença de que só no sofrimento crescemos. Mas não deixa de ser uma reflexão curiosa sobre o fato de que é preciso vivenciar emoções para tentar descrevê-las. Crescer é encarar a vida em suas diversas camadas, não dá para fazer isso trancado em um quarto, em frente a um computador, esperando que ideias brotem em sua mente. Essas atitudes só te permitirão requentar ideias conhecidas. Por mais criativo e talentoso que seja um artista, viver ainda é fundamental. Que a gente nunca perca o gosto pela experiência.
Histórias de Amor duram apenas 90 minutos
Direção: Paulo Halm
Roteiro: Paulo Halm
Com: Caio Blat, Maria Ribeiro, Luz Cipriota, Daniel Dantas
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Histórias de Amor duram apenas 90 minutos
2018-07-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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