Home
cinema brasileiro
critica
Douglas Florence
drama
filme brasileiro
Hique Montanari
Nélson Diniz
Thalles Cabral
Yonlu
Yonlu
Jovem, talentoso, inteligente e com sinais de depressão. A história de Vinícius Gageiro reflete a angústia de muitos adolescentes que já pensaram em se matar sem nem saber exatamente o porquê desse sentimento. É o que explica o psiquiatra logo no início do filme. Uma ficção que se utiliza do drama lírico para contar os últimos dias desse jovem artista de codinome Yonlu.
Morto em 2006 após um suicídio que foi influenciado por um fórum online e no qual ele foi narrando os passos à medida em que ia cometendo o ato, Yonlu é uma representação e um alerta para algo que parece crescer nas redes, a maneira leviana como as pessoas se comportam no ciberespaço, protegidas pela tela do computador.
O diretor Hique Montanari representa essa rede suicida com jovem escondidos atrás de cartazes em uma luz predominantemente verde, reconstruindo diálogos possíveis. Com interpretações neutras, os jovens passam as indicações como se fossem receita de bolo, apresentando “métodos” e discutindo erros e acertos possíveis de cada ato. Há uma beleza macabra na encenação que nos impacta e faz refletir sobre essa espécie de fascínio que a morte parece exercer em pessoas diversas.
É importante que toda a construção metafórica e toda a poesia das músicas do jovem artista morto sejam permeadas pela fala didática desse psiquiatra fictício como uma entrevista que conduz o fio narrativo. Uma forma de trazer à reflexão toda a situação, não nos permitindo gatilhos para que embarquemos também nesse chamado de falsa paz, nos trazendo uma dimensão maior do limiar entre segurar ou empurrar um suicida a beira do abismo.
Com uma encenação minimalista quase centrada no quarto do jovem e nesse espaço indefinido que representa a rede cibernética, o filme traz algumas cenas pontuais que ajudam a reforçar a angústia e vazio de Yonlu, como as cenas do colégio, em que as carteiras vazias preenchidas apenas pelos sons dos colegas e professor. Uma forma de baratear a produção também, é verdade, mas que acaba construindo um efeito estético extremamente eficaz.
Os pais também aparecem em algumas poucas cenas, tirando o mito de que o suicida não encontra apoio em casa. A doença, traiçoeira, às vezes dribla qualquer atenção dos familiares ou mesmo dos médicos que o acompanham, buscando o mínimo apoio para cometer o ato. Nesse ponto, a internet fornece não apenas as armas, como uma espécie de corrente negativa que ensina que aquele é mesmo o único caminho.
Yonlu é um filme poético que consegue tratar de um tema tão denso com uma certa leveza, mas sem esquecer de dar o seu alerta. Uma homenagem a um artista, apresentando sua obra, mas também lamentando sua partida prematura.
Yonlu (Yonlu, 2018 / Brasil)
Direção: Hique Montanari
Roteiro: Hique Montanari
Com: Thalles Cabral, Nélson Diniz, Douglas Florence
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Yonlu
2018-09-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|Douglas Florence|drama|filme brasileiro|Hique Montanari|Nélson Diniz|Thalles Cabral|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
E na nossa cobertura do FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil , mais uma vez pudemos conferir uma sessão de dublagem ao vivo . Ou...
-
Terra Estrangeira , filme de 1995 dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas , é um dos filmes mais emblemáticos da retomada do cinema b...
-
Raquel Pacheco seria apenas mais uma mulher brasileira a exercer a profissão mais antiga do mundo se não tivesse tido uma ideia, na época i...
-
“Testemunha ocular da História”, esse slogan de um famoso radiojornal brasileiro traduz bem o papel da imprensa no mundo. Um fotojornalista...
-
Para prestigiar o Oscar de Natalie Portman vamos falar de outro papel que lhe rendeu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar em 2004. Clos...
-
Entre os dias 24 e 28 de julho, Salvador respira cinema com a sétima edição da Mostra Lugar de Mulher é no Cinema. E nessa edição, a propost...
-
Quando Twister chegou às telas em 1996, trouxe consigo um turbilhão de expectativas e adrenalina. Sob a direção de Jan de Bont , conhecido ...
-
Lucky Luke (2009) é uma adaptação cinematográfica de um ícone dos quadrinhos franco-belgas que há décadas encanta os leitores com suas ave...
-
Os Fantasmas Se Divertem (1988), dirigido por Tim Burton , é um marco do cinema que mescla comédia e horror de maneira original. Este fi...