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Simonal
Simonal
Um dos maiores fenômenos da música popular brasileira, Wilson Simonal podia deixar o microfone que a plateia continuava suas músicas sem muito esforço tal qual era o sucesso que fazia. Mas com a mesma força que o público o ergueu, o derrubou após os boatos de que ele seria delator da ditadura militar. Desde sua morte, há movimentos para esclarecer melhor essa situação, como o recente documentário “Você não sabe o duro que dei”. A ficção dirigida por Leonardo Domingues acaba girando em torno também disso, ainda que não se limite ao fato.
Na verdade, o roteiro do diretor em parceria com Victor Atherino fica no meio do caminho das cinebiografias, pois nem conta a vida inteira do cantor, nem mergulha em um fato específico. Busca abarcar exatamente o período de fama que vai do início da carreira propriamente dita quando conhece Carlos Imperial até o momento em que constata que a mesma acabou, já que público, classe artística e imprensa não estão dispostos perdoar o “dedo duro” da música popular brasileira.
Há uma busca por resgate da imagem do artista, explicando melhor tudo que aconteceu, assim como alguns recursos na curva dramática que trazem um efeito bonito. Mas falta aprofundamento, inclusive da questão racial que é levantada, mas pouco desenvolvida. O fato de um artista negro ter tanto destaque deve ter incomodado muito sim e poderia ser melhor retratado do que só dizer em momentos-chaves. Agora a escolha por não se envolver politicamente também pesou.
“A gente vivendo uma ditadura e você cantando País Tropical”, ele ouve em um certo momento. Elis Regina, o contraponto mais famoso que também foi “enterrada” pelo Pasquim, por exemplo, se posicionou politicamente através de sua música. Claro que sua acusação também foi mais amena, já que cantar no dia do exército é diferente de delatar companheiros. E era branca. Mas há nuanças nos dois casos. O fato é que Simonal foi condenado pela opinião pública e pela classe artística sem direito a um julgamento justo ou mesmo uma oportunidade de esclarecer os fatos. Isso, o filme de alguma maneira faz.
Um grande acerto da obra, por outro lado, foi o elenco. A começar por Fabrício Boliveira que brilha no papel título. Traz para a tela o carisma e a malandragem que o artista gostava de pontuar sem ser caricato. Não busca imitar, mas construir uma persona que se aproxime de Simonal e nos faça crer naquela história. Ísis Valverde também está bem como a esposa Tereza e Leandro Hassum apresenta um ótimo Carlos Imperial em participação especial. A direção também traz bons momentos como o plano sequência inicial e algumas escolhas acertadas como a maneira como é construído o clímax da trama.
O filme ganha o público também pelas apresentações musicais, inclusive com a inserção de imagens reais do Maracanãzinho na famosa apresentação de 1969 quando ele apenas abriria o show de Sérgio Mendes, mas acabou sendo a atração principal pela empolgação do público. Destaque a o hit “Meu limão, meu limoeiro” tocado diversas vezes durante a projeção. Há momentos divertidos como quando deixa o palco no meio da apresentação e alguns momentos de bastidores das músicas que também ajudam a refrescar memórias afetivas.
Simonal cumpre sua proposta de resgate da imagem de um artista controverso. Tem bons momentos de direção, uma atuação impecável e uma sensação nostálgica quando aborda as músicas e o sucesso do artista. Fica, no entanto, no superficial, construindo uma cinebiografia correta, mas sem maiores atrativos.
Simonal (Simonal, 2019 / Brasil)
Direção: Leonardo Domingues
Roteiro: Victor Atherino, Leonardo Domingues
Com: Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Leandro Hassum, Mariana Lima, Silvio Guindane, Bruce Gomlevsky
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Simonal
2019-08-24T14:19:00-03:00
Amanda Aouad
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