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Hebe - A estrela do Brasil
Hebe - A estrela do Brasil
Uma das mais conhecidas comunicadoras do país, Hebe Camargo fez história por onde passou. Sua trajetória está tão ligada à televisão brasileira que seria ela a escolhida para cantar o hino da televisão na inauguração da Rede Tupi. Como não pode ir, sua amiga Lolita Rodrigues a substituiu. Com bordões como "gracinha" e "do meu jeitinho", além do hábito de dar selinho em seus convidados, a apresentadora tornou-se das mais queridas com grandes audiências, não é exagero, então, o título Hebe, a estrela do Brasil.
O filme de Maurício Farias, no entanto não tem a pretensão de abarcar tudo que envolve o seu nome, construindo um curioso arco a partir de um momento muito específico de sua carreira, a reabertura do país após a ditadura militar e sua passagem da Rede Bandeirantes para o SBT. Na verdade, a trama foca em um conflito específico, a luta de Hebe contra a censura, seja ela política ou relacionada aos temas polêmicos que gostava de levantar, em especial em defesa da causa LGBT.
Ao escolher esse arco, a roteirista Carolina Kotscho foge dos riscos que a maioria das cinebiografias correm, de ficar uma colcha de retralhos confusa. Sabemos pouco sobre o passado da apresentadora. As pistas são passadas em pequenos diálogos, como quando afirma que já passou fome ou que trabalha de carteira assinada desde os quatorze anos. O que acontece após o momento-chave do final do filme também fica no ar, mas traz uma escolha inteligente de fechamento que não nos deixa com a sensação de filme inacabado.
A obra, no entanto, parece não querer polemizar muito sua retratada. Mostra, de maneira superficial, sua relação com a bebida e algumas atitudes controversas, como um episódio com o sumiço de um brinco. Sua relação com Maluf, uma das facetas mais polêmicas, é abordada, mas também não aprofundada, fechando a questão com sua famosa afirmação: “A Hebe não é de direita, a Hebe não é de esquerda. A Hebe é direta”. Prefere focar na personalidade forte que lutava contra preconceitos e os excluídos.
Com essa proposta, Andréa Beltrão faz um belo trabalho ao desenvolver uma persona própria e não uma caricatura da apresentadora. Há verdade em tela, seja no palco ou nas cenas do convívio pessoal, ajudando na construção de camadas para a personagem que se comunica muito mais com o espectador em momentos de tensão familiar ou nos bastidores do seu programa. O resto do elenco também acompanha a boa atuação, com alguns destaques surpreendentes de figuras públicas que contracenam com a protagonista.
Ainda que tenha vivacidade, Hebe é um drama com grandes momentos de tensão. Há um contraste muito bem orquestrado pela direção e montagem desde o início da trama quando vemos o grupo Menudos no palco em paralelo com Hebe no camarim e a equipe tensa tentando falar com ela. A maneira como a luz é construída em momentos de tensão e os planos são conduzidos também ajuda na construção do efeito, como quando seu marido arromba a porta do quarto e a câmera o acompanha até revelar o closet.
Há alguns deslizes também, é verdade, como uma cena que traz uma música tensa para criar uma falsa expectativa. Ou mesmo algumas escolhas caricatas para se retratar a época. Alguns poderão sentir também a quase ausência das amigas Lolita Rodrigues e Nair Belo que aparecem apenas em uma cena rápida. Mas nada disso tira o brilho de uma obra que busca fugir ao lugar comum.
Hebe, a estrela do Brasil consegue cumprir o seu objetivo principal. Apresenta um filme competente em seus diversos aspectos, aprofundando a personagem título a partir de um momento de sua carreira, sem a necessidade de contar tudo sobre vida. Ficamos mais próximos da apresentadora, ainda que nos seja apresentada uma Hebe idealizada em muitos aspectos.
Hebe - A estrela do Brasil (Hebe, 2019 / Brasil)
Direção: Mauricio Farias
Roteiro: Carolina Kotscho
Com: Andrea Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello, Caio Horowicz, Ivo Muller
Duração: 112 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Hebe - A estrela do Brasil
2019-09-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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