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Bixa Travesty
Bixa Travesty
Um filme manifesto, com tanta verdade e criatividade que não tem como passar em branco. A artista Linn da Quebrada dá o tom do documentário Bixa Travesty. Suas músicas são a narração que explicita a mensagem, sua imagem nos conduz por toda a projeção e suas ideias recortam a trama, com direito a cenas em que discutem imagens no computador com uma amiga. Não por acaso ela assina o roteiro junto com os diretores.
Há uma dinâmica própria que trabalha intercalando imagens de shows, sua rotina em casa e uma performance em uma espécie de programa que vai reivindicando seu direito de ser mulher, ainda que com pênis e sem seios. Que traduza seu desejo pelo sexo masculino, ao mesmo tempo que menospreza o macho alfa padrão. As quebras de paradigma são também uma tradução da nossa época cada vez mais plus a ponto da sigla LGTB ter ganho um + para abarcar toda a diversidade.
Bixa Travesty impacta sem necessariamente querer chocar. Nada é gratuito, ainda que traga imagens que extravasem sensações diversas. O corpo aqui não é um tabu, exposto das mais diversas formas como mais um elemento de expressão artística. Sexualizado em palco em diversas performances. Mas também puro em um banho entre mãe e filho.
A linguagem também não sofre censura, sendo possível ouvir todos os tipos de palavras que nomeiam os órgãos sexuais da mesma forma que podemos ouvir Linn perguntar a mãe porque a calcinha dela molha. Sexo não é tabu, falar dele muito menos. A expressão da artista se impõe em tela de maneira virtuosa e nos conquista pela autenticidade.
Os números dos shows são outro ponto positivo, com letras afirmativas e provocativas, a artista canta, dança e interpreta em cena suas mais diversas facetas. As músicas possuem qualidade por si só. Se fosse só um cineshow já teria seu valor. A maneira como essas apresentações são costuradas com o resto faz o documentário crescer em experiência.
O mundo evoluiu e tem se tornado cada vez menos binário e heteronormativo por mais que movimentos extremistas exaltem preconceitos também dos mais diversos. A própria existência de artistas como Linn e a possibilidade desse filme já denota uma progressão de pensamento que deve, de certa maneira, ser valorizada em um país onde a quantidade de trans assassinados ainda bate recorde.
Provocativo, o documentário quer nos tirar do conforto e compreender que não há mais como voltar atrás por mais que muitos tenham a sensação de retrocesso. Um filme que nos ganha em diversos aspectos, inclusive no talento dessa cantora, compositora e performance chamada Linn da Quebrada.
Bixa Travesty (Bixa Travesty, 2019 / Brasil)
Direção: Claudia Priscilla, Kiko Goifman
Roteiro: Claudia Priscilla, Kiko Goifman, Linn da Quebrada
Direção: 75 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Bixa Travesty
2019-11-21T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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