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Parasita

Parasita - filme

Palma de Ouro no último festival de Cannes, Parasita impacta em diversos aspectos. Desde O Hospedeiro, Bong Joon-ho chama a atenção do público ocidental, nunca foi simplesmente um filme de gênero, trazendo uma marca própria e uma forma especial de tratar de questões políticas e universais. Aqui, ele constrói uma crítica social extremamente bem planejada com doses irônicas e reviravoltas que nos deixam refletindo por muito tempo após a sessão.

Há uma construção de espelho instigante nas duas famílias retratadas. Um pai, uma mãe, um filho e uma filha. A primeira, família Ki-taek, vive em um subsolo de um bairro pobre, sobrevivendo de migalhas e sugando o que pode do que está ao seu redor. A segunda, família Park vive em uma bela mansão repleta de empregados e privilégios construindo uma espécie de redoma fantasiosa em torno de si.

Parasita - filmeAinda que exista uma estereotipação dos dois perfis à primeira vista, vamos nos aproximando aos poucos de ambos para ir compreendendo suas camadas. Nada ali está por acaso, mesmo a forma como o filme constrói os perfis nos fazendo crer em um caminho para depois desconstruí-lo é instigante. Inclusive a construção de efeito do riso é extremamente eficiente para preparar o que vem depois.

A discrepância social e a falta de oportunidade diante de uma sociedade estabelecida é demonstrado na estrutura e construção da cidade. Há um cuidado em pensar o enquadramento das cenas, como em um momento em que a parede de um bar faz a divisão da rua com a interna do estabelecimento trazendo um efeito estético e simbólico. Ou a composição da casa onde vivem com o banheiro tendo o vaso sanitário um pouco acima jogando imageticamente com o descer e subir em ações também simbólicas.

Mesmo tendo uma proposta de direção sofisticada e um cuidado estético com a construção de simbologias em diversas cenas, impressiona como Bong Joon-ho consegue construir uma trama extremamente popular, capaz de dialogar com diversos públicos, inclusive de países dos mais distintos. A realidade social com suas discrepâncias de classes não é algo exclusivo da Coréia e consegue ser transmitida com valores universais de uma maneira simples, mas eficiente.

Parasita - filmeA dinâmica de uma primeira parte mais leve, com um drama mais intenso após a tempestade é uma forma também de construir o efeito de impacto que a obra busca causar. É como se dialogasse com nossa própria inércia, já acostumados a realidade estabelecida, não nos fazendo questionar nossas próprias atitudes e privilégios, vide a cena em o Sr. Park fala do cheiro do Sr. Ki-taek demonstrando o enjoo com aquilo que representa a pobreza.

A cena da tempestade já citada é outra construção simbólica extremamente potente, construída a partir do próprio caminho da água e do regurgitar através do vaso sanitário que traduz um pouco do transbordar de uma realidade que tentamos esconder “embaixo do tapete” tantas vezes, mas que acaba por gritar em nossa frente.

Parasita é daqueles filmes que chamam a atenção pelo conjunto da obra. Impactante, criativo, bem construído e ao mesmo tempo com uma linguagem fácil, que dialoga com todos. Sofisticado e simples ao mesmo tempo, sem deixar de ser surpreendente. Nos pegamos pensando nele e refletindo sobre nossas próprias atitudes diante do mundo e dos outros que nos cercam. Em especial, se vivemos em situação de privilégio.


Parasita (Parasite, 2019 / Coréia do Sul)
Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Han Jin Won , Bong Joon Ho
Com: Kang-ho Song, Sun-kyun Lee, Yeo-jeong Jo
Duração: 132 min.

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