Categorizado como cinebiografia do rei do rock, Elvis não é exatamente um filme sobre o cantor, mas sim, sobre a fama e a relação tóxica com seu empresário que estava mais interessado no dinheiro que aquele produto em suas mãos poderia proporcionar. Na verdade, o protagonista da narrativa da nova obra de Baz Luhrmann, é Tom Parker, interpretado de maneira impressionante por um Tom Hanks quase desfigurado. Ele possui um conflito que guia a curva dramática da trama que é provar sua inocência no fim trágico do ídolo mais icônico da nossa cultura musical recente.
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Categorizado como cinebiografia do rei do rock, Elvis não é exatamente um filme sobre o cantor, mas sim, sobre a fama e a relação tóxica com seu empresário que estava mais interessado no dinheiro que aquele produto em suas mãos poderia proporcionar. Na verdade, o protagonista da narrativa da nova obra de Baz Luhrmann, é Tom Parker, interpretado de maneira impressionante por um Tom Hanks quase desfigurado. Ele possui um conflito que guia a curva dramática da trama que é provar sua inocência no fim trágico do ídolo mais icônico da nossa cultura musical recente.
Percorrendo a vida de Elvis Presley de maneira não-linear, o roteiro vai construindo sua tese, assim como Parker construiu seu produto. Vendo o potencial daquele garoto tão influenciado pela cultura black, mas sendo o rosto branco que a América aceitaria, começa a costurar sua carreira com acordos absurdos que só beneficiam a si mesmo e esgotam o artista. Uma lógica vampiresca que vemos em diversos empresários em ramos também diversos até hoje. Mas ainda que este seja o fio condutor do roteiro, não é exatamente o que mais importa na obra.
Sem lançar um filme desde 2013 quando estreou O Grande Gatsby, o australiano Baz Luhrmann mantém a sua marca autoral, experimentando a linguagem que flerta sempre com o videoclipe e valoriza a musicalidade. Para uma obra sobre Elvis Presley isso acaba sendo um grande acerto que nos ganha, independente de quaisquer outros aspectos técnicos. Afinal, ele é o rei e suas músicas ecoam até hoje em nossas mentes. É sempre bom ver e ouvir o artista no palco, mesmo que personificado através do ator Austin Butler, que se esforça nos rebolados e charme.
Um ponto que chama a atenção na obra é a maneira como Luhrmann faz uma reparação histórica com o movimento black, verdadeiros criadores do rock. Em especial a Sister Rosetta Tharpe e todas as influências que levaram a criação do estilo musical que consagrou o belo homem branco que ousava dançar e cantar como os negros. As cenas da infância e adolescência de Elvis, com os paralelos entre a boate escondida e a igreja gospel trazem a tela questões que mesmo que pareçam óbvias não costumam ser tratadas de maneira tão explícitas no cinema.
É curioso perceber também a influência do Hip Hop no filme, mesmo que retrate uma época em que o gênero musical ainda não existia, mas acaba construindo um diálogo perfeito com o que temos hoje de preconceito e quebras de barreiras em uma possível busca para dialogar com novas gerações que talvez não captassem o quão subversivo era, para a época, aquele homem branco rebolando e cantando rock. Vale lembrar que Baz Luhrmann também é o criador da série The Get Down, reforçando o interesse por essa estética musical periférica do diretor.
O filme não busca aprofundar o ser humano por trás do mito, ainda que passe superficialmente por sua vida pessoal, destacando em especial a relação com a mãe e com a esposa. Pouco sabemos das dores e sonhos de Elvis para além dos palcos. É nele que o diretor e roteirista se concentram, tal qual um objeto de estudo, buscando entender o fascínio que seu talento exercia e o quanto ele foi explorado como uma máquina de fazer shows, gerar produtos e, consequentemente, dinheiro.
Não há interesse em quebrar a aura do artista e a construção é puramente estética. Visual e sonora. São quase três horas de músicas, clipes e imersões imagéticas em busca de talento e mistura de referências que fazem desse nome algo maior que um ser humano. Um verdadeiro herói mítico, e como tal, trágico. Elvis Presley não morreu, diz sua legião de fãs. Baz Luhrmann demonstra que eles estão certos. A cada batida, a cada mexida de pernas, a cada nota dada por aquela voz, somos lembrados de sua presença.
Elvis (Estados Unidos, 2022)
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce
Com: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr.
Duração: 160 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Elvis
2022-09-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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