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O Grande Gatsby
O Grande Gatsby
Dividindo a crítica em Cannes e em outros locais onde já estreou, O Grande Gatsby é um filme de altos e baixos. Muitos tem comparado sua estética à obra que consagrou seu diretor, Moulin Rouge. Lembrando que esta criou outras tantas polêmicas pela característica ame ou odeie. Mas, eu vejo muito de seu trabalho anterior a este, Romeu + Julieta, principalmente nas festas psicodélicas da mansão de Gatsby que tanto nos afastam da trama.
Baseado no livro de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby conta a história pela ótica de Nick Carraway, interpretado por Tobey Maguire. Um jovem que sempre ficou intrigado com seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby, que quase nunca aparece em público, mas dá festas espetaculares. Em determinado momento, ele acha que o vê no cais, tentando "pegar" uma luz verde que pisca do outro lado do lago, mas só irá se aproximar mesmo, no dia em que recebe um convite para uma de suas festas. A partir daí, surge uma amizade e Nick irá ajudar Gatsby a se aproximar de sua prima Daisy, por quem o milionário misterioso parece apaixonado. Porém, a garota é casada com Tom Buchanan e muitas coisas ainda irão se desenrolar dessa confusa relação.
Baz Luhrmann parece querer manter essa aura de mistério em torno de seus personagens, não apenas de Gatsby, e com isso, constrói um filme com uma atmosfera falsa, distante, estranha. Não nos aproximamos dos personagens, nem nos tornamos seus cúmplices, observando aquele mundo de aparências. Seja na casa de Tom e Daisy, seja nas farras em Nova York ou nas festas na mansão de Gatsby. Aliás, essas festas possuem uma atmosfera à parte, ainda mais impalpável. Como já foi dito, lembra muito a festa de Romeu + Julieta, onde o personagem título vê tudo sob o efeito do ácido. A trilha sonora moderna, com misturas estranhas, ajuda nessa construção onírica e exagerada, ainda que seu tom acima não incomode tanto.
O que falta mesmo são personagens mais humanos, mais próximos de alguma empatia com o público. E isso só acontece com o avançar da história, quando conhecemos um pouco da verdade por trás de Gatsby e todo aquele circo. De qualquer maneira, a personalidade de todos os envolvidos não fica muito clara. O jogo de máscaras é construído nos dando essa sensação de uma sociedade de aparências ao extremo. Mesmo quando Tom está com sua amante, vivida por Isla Fisher.
Ainda assim, o visual chama a atenção e a construção simbólica das imagens são muito boas. A começar pela luz verde, o verde da esperança ou de passagem liberada, por exemplo. Há também um telefone que toca constantemente chamando Gatsby, seja de Chicago, Detroit ou outras localidades suspeitas. E a forma como a tensão se faz, o mistério em torno da fortuna de Gatsby, tudo é bem construído. Em determinada cena, onde Daisy está na casa, o telefone toca e a porta da varanda se abre, com o vento invadindo o recinto e criando a tensão.
A tensão muitas vezes é construída também com os sons. Como na cena em que um dos personagens perde a calma aparente e ruídos em canais de áudio diferente nos dão a dimensão de sua perturbação e descontrole. E isso é possível, também, porque, a essa altura, já aconteceu a virada na trama e já estamos começando a nos aproximar mais de determinados personagens, participando da história.
Nas atuações, o grande destaque vai mesmo para Leonardo DiCaprio. O ator consegue construir a névoa de mistério de seu personagem e ir humanizando-o aos poucos aos nossos olhos. A carga dramática construída por ele em determinadas cenas é impressionante. E ele consegue se desnudar de qualquer vaidade e ao mesmo tempo, passar um charme e beleza encantadores. Fascínios necessários para o personagem. Já Tobey Maguire oscila entre bons e maus momentos, enquanto que Carey Mulligan parece uma menina assustada, pouco condizente com Daisy e seu poder de manipulação.
Não foi por acaso que O Grande Gatsby dividiu tanto as opiniões. O filme tem seus fascínios, tal qual o personagem símbolo. Mas, seus mistérios e aura fake afastam o espectador de sua história. Ele demora a nos deixar se aproximar dele. E quando isso acontece, pode acontecer uma decepção pelo verdadeiro produto, ou uma compaixão que nos aproxima e cria paralelos com o mundo que conhecemos. Há verdade em Gatsby, mas é preciso encontrá-lo em um local muito profundo. E é preciso disposição para isso, que muitos podem não ter.
O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013 / EUA)
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce
Com: Leonardo DiCaprio, Joel Edgerton, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Elizabeth Debicki, Isla Fisher e Jason Clarke
Duração: 142 min.
Baseado no livro de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby conta a história pela ótica de Nick Carraway, interpretado por Tobey Maguire. Um jovem que sempre ficou intrigado com seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby, que quase nunca aparece em público, mas dá festas espetaculares. Em determinado momento, ele acha que o vê no cais, tentando "pegar" uma luz verde que pisca do outro lado do lago, mas só irá se aproximar mesmo, no dia em que recebe um convite para uma de suas festas. A partir daí, surge uma amizade e Nick irá ajudar Gatsby a se aproximar de sua prima Daisy, por quem o milionário misterioso parece apaixonado. Porém, a garota é casada com Tom Buchanan e muitas coisas ainda irão se desenrolar dessa confusa relação.
Baz Luhrmann parece querer manter essa aura de mistério em torno de seus personagens, não apenas de Gatsby, e com isso, constrói um filme com uma atmosfera falsa, distante, estranha. Não nos aproximamos dos personagens, nem nos tornamos seus cúmplices, observando aquele mundo de aparências. Seja na casa de Tom e Daisy, seja nas farras em Nova York ou nas festas na mansão de Gatsby. Aliás, essas festas possuem uma atmosfera à parte, ainda mais impalpável. Como já foi dito, lembra muito a festa de Romeu + Julieta, onde o personagem título vê tudo sob o efeito do ácido. A trilha sonora moderna, com misturas estranhas, ajuda nessa construção onírica e exagerada, ainda que seu tom acima não incomode tanto.
O que falta mesmo são personagens mais humanos, mais próximos de alguma empatia com o público. E isso só acontece com o avançar da história, quando conhecemos um pouco da verdade por trás de Gatsby e todo aquele circo. De qualquer maneira, a personalidade de todos os envolvidos não fica muito clara. O jogo de máscaras é construído nos dando essa sensação de uma sociedade de aparências ao extremo. Mesmo quando Tom está com sua amante, vivida por Isla Fisher.
Ainda assim, o visual chama a atenção e a construção simbólica das imagens são muito boas. A começar pela luz verde, o verde da esperança ou de passagem liberada, por exemplo. Há também um telefone que toca constantemente chamando Gatsby, seja de Chicago, Detroit ou outras localidades suspeitas. E a forma como a tensão se faz, o mistério em torno da fortuna de Gatsby, tudo é bem construído. Em determinada cena, onde Daisy está na casa, o telefone toca e a porta da varanda se abre, com o vento invadindo o recinto e criando a tensão.
A tensão muitas vezes é construída também com os sons. Como na cena em que um dos personagens perde a calma aparente e ruídos em canais de áudio diferente nos dão a dimensão de sua perturbação e descontrole. E isso é possível, também, porque, a essa altura, já aconteceu a virada na trama e já estamos começando a nos aproximar mais de determinados personagens, participando da história.
Nas atuações, o grande destaque vai mesmo para Leonardo DiCaprio. O ator consegue construir a névoa de mistério de seu personagem e ir humanizando-o aos poucos aos nossos olhos. A carga dramática construída por ele em determinadas cenas é impressionante. E ele consegue se desnudar de qualquer vaidade e ao mesmo tempo, passar um charme e beleza encantadores. Fascínios necessários para o personagem. Já Tobey Maguire oscila entre bons e maus momentos, enquanto que Carey Mulligan parece uma menina assustada, pouco condizente com Daisy e seu poder de manipulação.
Não foi por acaso que O Grande Gatsby dividiu tanto as opiniões. O filme tem seus fascínios, tal qual o personagem símbolo. Mas, seus mistérios e aura fake afastam o espectador de sua história. Ele demora a nos deixar se aproximar dele. E quando isso acontece, pode acontecer uma decepção pelo verdadeiro produto, ou uma compaixão que nos aproxima e cria paralelos com o mundo que conhecemos. Há verdade em Gatsby, mas é preciso encontrá-lo em um local muito profundo. E é preciso disposição para isso, que muitos podem não ter.
O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013 / EUA)
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce
Com: Leonardo DiCaprio, Joel Edgerton, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Elizabeth Debicki, Isla Fisher e Jason Clarke
Duração: 142 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Grande Gatsby
2013-06-06T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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