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Uma Invenção de Natal
Uma Invenção de Natal
Uma Invenção de Natal (2020) é um filme natalino de David E. Talbert que vai muito além do tradicional conto de Natal. Com esta obra, Talbert, já conhecido por explorar a temática festiva em outros projetos como Um Quase Natal Perfeito (2016) e Natal em El Camino (2017), mergulha em um universo mágico e altamente visual. Desta vez, o diretor investe em uma narrativa musical e lúdica, guiada pelo poder da fantasia e pela nostalgia de brinquedos que ganham vida, sem deixar de lado a essência de união e esperança que marca essa época do ano. Lançado pela Netflix, Uma Invenção de Natal é uma produção claramente pensada para encantar toda a família e oferecer uma visão renovada dos filmes natalinos tradicionais, um gênero que em muitos momentos parece estagnado no previsível.
O protagonista, Jeronicus Jangle, interpretado por Forest Whitaker, é o coração da trama. Jeronicus é um inventor de talento prodigioso e autêntico, cujo gênio criativo é eclipsado por uma série de infortúnios: a perda do livro de invenções, roubado por seu aprendiz Gustafson (Keegan-Michael Key), e o afastamento emocional de sua filha, Jessica. A partir desse ponto de virada, acompanhamos a queda de Jeronicus, que vive na melancolia e se isola do mundo. O desenrolar da trama ganha novo fôlego com a chegada de Journey (Madalen Mills), sua neta ambiciosa e brilhante, que luta para trazer seu avô de volta à sua antiga glória. O filme assume um tom de redenção e de reavivamento do espírito criativo, marcado por uma sucessão de descobertas e de superação. Mills, em sua estreia nas telas, entrega uma atuação admirável para alguém de sua pouca experiência e, com charme e carisma, garante que Journey seja uma personagem memorável e envolvente.
Talbert, que além de dirigir assina o roteiro, consegue unir as nuances de uma fantasia infantil e o drama familiar de forma equilibrada. O estilo visual é um dos maiores atrativos, com uma estética que remete a filmes como A Invenção de Hugo Cabret (2011) e O Mundo Encantado dos Brinquedos (1961). O design de produção merece destaque: é um espetáculo de detalhes minuciosos, onde cada objeto, desde os cenários até os próprios brinquedos, ganha vida e cria uma ambientação imersiva. As escolhas cromáticas são vibrantes, e o CGI de alta qualidade eleva essa dimensão lúdica e transforma a loja de Jeronicus em um mundo mágico e pulsante. O uso de stop-motion, embora pontual, traz uma textura nostálgica que evoca memórias dos filmes de animação mais antigos, tornando essa uma experiência estética única e totalmente envolvente.
O elenco é outro ponto de destaque. Forest Whitaker mostra uma versatilidade impressionante, alternando entre momentos de tristeza e fragilidade e os de esperança renovada. Whitaker, acostumado a papéis dramáticos mais densos, surpreende ao se lançar no canto e na dança, trazendo um calor genuíno ao papel de Jeronicus. Já Keegan-Michael Key, no papel do antagonista Gustafson, confere um tom cômico ao personagem e imprime um carisma natural, mesmo nas cenas onde seu lado vilanesco é mais acentuado. Ricky Martin, que dá voz ao boneco Don Juan Diego, se sobressai nas sequências mais humorísticas e consegue tornar a figura do boneco divertida, ainda que caia, em alguns momentos, no exagero. O filme apresenta um elenco majoritariamente negro, um acerto tanto estético quanto narrativo que confere autenticidade e diversidade ao gênero natalino, muitas vezes associado a personagens brancos e estereotipados.
No entanto, Uma Invenção de Natal tem seus clichês. A trajetória de Jeronicus, marcada por perdas e reencontros, é previsível, e o roteiro cai em soluções fáceis, especialmente no desfecho. O personagem de Journey, ainda que encantador, entra como a peça que resolve praticamente todos os conflitos, uma escolha narrativa que reduz um pouco o impacto da redenção de Jeronicus e entrega sempre uma resolução um tanto previsível. Além disso, alguns diálogos beiram o didático e simplista, o que, embora adequado para o público infantil, pode decepcionar aos adultos que esperavam uma construção mais sofisticada. Mas Talbert compensa essas fragilidades com ritmo envolvente e habilidade de construir cenas memoráveis, especialmente nas sequências musicais.
As músicas, que mesclam ritmos de soul e R&B com canções tradicionais de musicais, são a alma do filme. A produção musical é refinada e coerente, explorando estilos que vão do gospel ao funk e aproveitando cada momento musical para intensificar o tom de celebração e de emoção do filme. A música "Make It Work", interpretada por Anika Noni Rose, é um exemplo marcante: seu tom potente e a energia que emana na cena envolvem e criam uma das passagens mais impactantes do filme. O diretor acerta ao dosar as canções de modo a não sobrecarregar a narrativa e a utilizar a música como uma ferramenta de reforço emocional.
A direção de arte e a fotografia merecem um destaque especial. Com uma paleta de cores exuberante e uma composição cenográfica rica em detalhes, Talbert cria um ambiente que, mesmo carregado de fantasia, parece tangível e genuíno. Essa atenção ao visual reforça o apelo nostálgico e permite que Uma Invenção de Natal atinja o ponto alto da imaginação, onde a magia não é apenas uma alegoria, mas se torna palpável. Em muitas cenas, as cores quentes do Natal se misturam com os tons frios de um ambiente industrial, criando uma dualidade que reflete a luta entre o sucesso e a queda de Jeronicus. O filme claramente bebe na fonte dos musicais da Broadway, mas também sabe modernizar o formato, dialogando com um público contemporâneo e explorando um formato visual que remete às melhores fantasias natalinas.
Uma Invenção de Natal é, ao final, um convite à esperança e ao reencontro consigo mesmo. A mensagem principal – acreditar no impossível e recuperar o espírito natalino – ressoa em cada camada do filme, e é, de fato, o que deixa o público com um sentimento genuíno de encantamento. Para aqueles que buscam uma narrativa comovente e uma experiência visual deslumbrante, esta é uma bela adição ao acervo de filmes de Natal, que frequentemente se atém a fórmulas repetitivas.
Enfim, Uma Invenção de Natal conquista pelo visual rico e pela musicalidade vibrante, ao mesmo tempo que reafirma a importância da representatividade nas telas e da fantasia como veículo para transmitir as emoções mais humanas. É, acima de tudo, um filme que homenageia o poder da invenção, seja ela concreta, como os brinquedos de Jeronicus, ou simbólica, como a reconstrução de laços familiares que, por mais frágeis que sejam, nunca se perdem completamente. Em resumo, é o tipo de filme que renova o espírito natalino e transforma a tela em um portal para um mundo onde tudo é possível.
Uma Invenção de Natal (Jingle Jangle: A Christmas Journey, 2020 / Estados Unidos)
Direção: David E. Talbert
Roteiro: David E. Talbert
Com: Forest Whitaker, Justin Cornwell, Phylicia Rashad, Keegan-Michael Key, Hugh Bonneville, Anika Noni Rose, Diaana Babnicova, Lisa Davina Phillip, Marisha Wallace, Kieron L. Dyer, Ricky Martin, Jonny Labey, Madalen Mills
Duração: 122 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Uma Invenção de Natal
2024-12-25T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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