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A Invenção de Hugo Cabret

A Invenção de Hugo CabretNa discussão sobre a paternidade do cinema, sempre tive uma teoria. Thomas Edison pode ter criado a imagem em movimento e os irmãos Lumière podem ter criado a máquina de filmagem e projeção que tanto nos encantam, mas quem criou de fato a arte que amamos foi Georges Méliès. O mágico mostrou a verdadeira utilização daquela máquina onde os sonhos eram possíveis. E foi com esse sentimento de realizar sonhos que Brian Selznick criou o livro A Invenção de Hugo Cabret, transformada agora em uma candidata a obra-prima na mãos do roteirista John Logan e do cineasta Martin Scorsese.

A Invenção de Hugo CabretHugo é um orfão que vive escondido na torre do relógio da estação de trem de Paris. Seu pai morreu em um incêndio quando trabalhava em um projeto muito particular, tentar consertar um autônomo, uma espécie de robô mágico. O garoto passa, então, a dedicar-se a essa tarefa com uma esperança quase tola de que, ao terminar, a criaturinha teria uma mensagem de seu pai para ele. O grande problema é que para o autônomo funcionar é necessário encontrar uma pequena chave em formato de coração. Entre aventuras para sobreviver, fugir do inspetor que caça orfãos e tentar convencer o velho da loja de brinquedos a devolver seu caderno de anotações, Hugo conhece a pequena Isabelle. Curiosamente ela tem a chave que ele precisa, não apenas para o autônomo, mas para aventuras que ele nem imaginava.

A Invenção de Hugo Cabret"De onde vem os sonhos?" pergunta um personagem em determinado momento. A Invenção de Hugo Cabret está repleto de perguntas simbólicas, assim como metáforas imagéticas, além de ser todo construído em torno do encanto mais que é a realização de sonhos. A começar pela simbolismo de o autônomo só funcionar com uma chave em formato de coração e essa chave estar no pescoço da garotinha que Hugo conhece. Depois que conhecemos a verdadeira história da máquina fica ainda mais coerente toda essa metáfora. Além dos sonhos e da chave do coração, temos ainda o tempo. Hugo é um orfão que não tem tempo a perder e ao mesmo tempo vive dentro de um relógio. Sua construção é incrivelmente bem pensada. Afinal, são três conceitos-chaves para a felicidade de qualquer criança: o sonho, o tempo e o coração.

O mundo que o cerca é também quase todo mágico. Mesmo com a realidade tão dura de ter perdido o pai ainda jovem e depois ser criado por um tio bêbado que logo foi embora, Hugo vive em um mundo de fantasia. Até mesmo o inspetor vivido por Sacha Baron Cohen é uma caricatura engraçada de um antagonista que não chega a criar problemas de verdade. E após receber a mensagem do autônomo, Hugo vai embarcar em uma viagem ainda mais fascinante, que será melhor apreciada pelos amantes do cinema e sua história, mas que também funcionará como uma ótima fábula para os espectadores em geral.

A Invenção de Hugo CabretAlém de toda a fábula do livro de Brian Selznick e do ótimo roteiro de John Logan, não podemos esquecer que A Invenção de Hugo Cabret tem a mão de um dos maiores cineastas de todos os tempos. Martin Scorsese constrói um mundo incrível de imagens para nos conduzir nessa aventura que é uma verdadeira ode ao cinema. Ao até mesmo ingênuo cinema que encanta e nos faz sonhar. A construção de Hugo vendo o mundo pelo número do relógio é encantadora. As cenas na estação são cuidadosas, as referências que ele coloca como representações do escritor James Joyce, do político britânico Winston Churchill ou de Salvador Dalí enriquecem as cenas. Há momentos que chamam a atenção também pela boa construção de cena como quando a personagem de Chloe Moretz cai e vemos os "pés" a massacrando. A forma como insere imagens de filmes antigos também é bastante fluída.

Outra coisa que chama a atenção em Hugo é a utilização da técnica de 3D. Sem tanto alarde, Martin Scorsese conseguiu fazer aquilo que James Cameron propagandeou ao mundo, uma obra onde a tecnologia faça parte da trama de uma maneira mais harmônica e com utilidade. É incrível a forma como nos sentimos dentro do filme. A profundidade impressiona, a cara de Sacha Baron Cohen realmente encosta na gente, a descida em um escorregador quase nos dá vertigem. O mestre não iria mesmo se render ao 3D para ser apenas mais um efeito a dar um aumento na bilheteria.

A Invenção de Hugo CabretAs atuações também são destaque nessa pequena grande obra, a começar pelo garoto Asa Butterfield que nos emociona com seu personagem sofrido que nunca perde a esperança de sonhar. Chloe Moretz confirma seu talento com mais uma interpretação convincente e Ben Kingsley está ótimo como Papa Georges. Apesar de ser o alívio cômico da trama, Sacha Baron Cohen também está bem mais contido como o inspetor da estação, sendo até difícil de acostumar que ele não está em mais um falso documentário exagerado. Destaque ainda para participação de Christopher Lee como o dono da biblioteca.

A Invenção de Hugo Cabret é um convite especial para embarcarmos no mundo dos sonhos. Aquele que vemos quando somos crianças, aquele mundo que Georges Méliès imaginou com sua caixa mágica e que tornou possível ao cinema ser o que é hoje, a sétima arte e indústria de entretenimento, dois pólos colados em busca de obras como esta.


A Invenção de Hugo Cabret (Hugo: 2012 / EUA)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Com: Asa Butterfield, Chloe Moretz, Emily Mortimer, Jude Law, Sacha Baron Cohen, Ben Kingsley, Christopher Lee, Helen McCrory.
Duração: 126 min.

Comentários (22)

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Raramente leio a crítica de um filme que não assisti, mas não me segurei ao ler essa daqui e fiquei ainda mais ansioso pela homenagem de Scorsese ao cinema. HÁ! Roendo as unhas... este tem que ser conferido no cinema, não há dúvidas!

Bjs!
1 resposta · ativo 698 semanas atrás
Sem dúvidas, Elton, esse tem que ver no cinema.

bjs
Ansiosíssimo Amanda! Não sei quantas vezes já assisti ao trailer (inclusive no cinema).

Scorsese teve aqui uma oportunidade de ouro para homenagear o cinema e poder trabalhar em um projeto diferente, infanto-juvenil e familiar. Curioso mesmo!

Também acho que Georges Méliès foi o responsável pelo impulso cinematográfico em todos os sentidos, ele é o pai dos efeitos especiais e porque não dizer da sétima arte? Uma pena que tenha morrido na miséria e hoje poucas pessoas sabem quem ele realmente foi.

Um elenco fantástico, o jovem Asa, aquele garotinho do pijama listrado e a ótima Chloe Moretz, a hitgirl em seus dias de menina, rs! Bom, o cast adulto também é bastante reforçado.

Para se ver no cinema e o 3D deve ser apropriado aqui. Forte candidado no Oscar, creio.

Bj.
1 resposta · ativo 698 semanas atrás
É verdade, Rodrigo, mas Hugo corrige bem essa injustiça com Georges Méliès. E o 3D aqui vale, sim.

bjs
Assisto na próxima semana. Todos os comentários são excelentes, o que me faz ficar muito ansiosa para conferir mais esse filme do Mestre Scorsese.
1 resposta · ativo 698 semanas atrás
Muito ansioso para ver Hugo! Achei que viesse em IMAX também, mas ao que parece só em 3D mesmo. Vejo no fim de semana e volto para comentar, tudo bem?
1 resposta · ativo 698 semanas atrás
Concordo com sua teoria, Amanda. É como se o Méliès tivesse dado vida ao cinema, potencializado seus atributos para que o cinema se transformasse na arte do sonho, do artifício, o lugar da imaginação. E que filme lindo o Scorsese fez. Acho que uma vez ou outra o longa perde um tanto o ritmo, além de algumas pessagens que se alongam demais na emoção, mas nada que estrague o deleite de ver a bela homenagem que o Scorsese nos deu. E desde Avatar que o 3D não se justifica tanto como aqui, usado com parcimônia, mas com todo o cuidado e deleite.
1 resposta · ativo 697 semanas atrás
Exato, Rafael, ele deu um sentido a aquilo. E de fato, o 3D está muito bem aplicado aqui, finalmente, depois de tanto dinheiro gasto em bobagens.
Mas que beleza de filme... candidato a obra-prima mesmo... olha quero ver de novo ainda no cinema. Incrível!
1 resposta · ativo 697 semanas atrás
Revi ontem, Bruno, é sempre uma grande aventura.
Que pena, me desanimei tanto com o 3D e quando assisto um filme em 2D aí dizem que seu 3D é ótimo. Fazer o quê né. Pelo menos gostei do filme, nas acho que ele é um azarão na corrida pelo Oscar.
1 resposta · ativo 697 semanas atrás
Pena, Marcos, mas o filme deve ser bom mesmo em 2D.
Finalmente pude vim ver sua crítica, Amandinha, gostei muito!! Chega coloquei a trilha pra tocar aqui, não consigo parar de ouvir. De fato, um filme que vai ficar pra história. A emoção que senti assistindo transcende qualquer tipo de crítica maldosa e tecnocentrista.
2 respostas · ativo 697 semanas atrás
Sem dúvidas, Klaus. E a trilha é ótima também. :)
GESUS, ESSE É O MELHOR FILME DO ANO (apesar de pessoalmente ter gostava mais de outros) mas espero que leve o oscar de melhor filme, e não o chatinho do Artista.

E tem um dos melhores 3D que já vi desde TRON....
1 resposta · ativo 697 semanas atrás
Tirando o fato de vc chamar O Artista de chatinho, concordo, Marcilio.
Um filme encantador mesmo, Amanda, achei sensível ao extremo e me tocou muito. De uma qualidade técnica e emocional, precisas! Que bom que ainda existe filme dessa forma, né? Espero que ganhe Oscar de direção, ao meu ver, Marty está muito seguro e intenso no comando. Beijo!
1 resposta · ativo 697 semanas atrás
É mesmo encantador, Cris, e estou torcendo por isso também, melhor filme para O Artista e melhor direção para Martin Scorsese, assim ficou feliz de meus dois filmes preferidos ao Oscar serem contemplados, hehe.

bjs
Não sei se foi por influência dos trechos de filmes antigos que passavam, mas você não achou que em certas tomadas do rosto do Asa, ele estava a cara do Buster Keaton ? Os olhos claros, a cara de perdido no ar...
1 resposta · ativo 693 semanas atrás
Pôxa, Gustavo, confesso que não pensei nisso quando vi, mas agora você falando, pode ser mesmo, nos momentos em que ele está com um semblante mais triste, sério, como no cartaz.

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