Micmacs - Um plano complicado
Micmacs - Um plano complicado é um típico filme de Jean-Pierre Jeunet. Primeiro dirigido pelo diretor francês desde Eterno Amor (2004), traz uma história divertida, que mistura realidade com fantasia em um ritmo ágil e com personagens interessantíssimos.
Bazil é daquelas pessoas fadadas à tragédia. Quando era pequeno, seu pai morreu ao pisar em uma mina terrestre. Já adulto, quando trabalhava em uma locadora de vídeo acabou sendo vítima de uma bala perdida. Consegue se salvar, mas a bala fica alojada no seu cérebro. Como já era dado como morto, ao sair do hospital não tem mais casa, roupas, nem emprego, passando a viver nas ruas. Aí é que sua vida vai mudar, pois encontra uma trupe diferente, uma espécie de família do lixo. Eles moram em uma casa reciclada e vivem da venda de ferro velho. Mas, Bazil não está satisfeito com aquilo, seu sonho é se vingar das empresas fabricantes de armas que mataram seu pai e deixaram uma bala em seu cérebro. E aí começa a planejar uma vingança mirabolante com a ajuda de seus amigos.
O grande diferencial de Micmacs - um plano complicado é o visual. A forma como Jean-Pierre Jeunet constrói as piadas através da junção de um filme com o que acontece na rua, por exemplo. O Bazil dublando uma cantora na estação de trem e ganhando mais dinheiro que ela. Ou ainda quando o cartaz do filme é formado em uma cena de perseguição. Ou ainda, quando Bazil faz xixi no telhado de uma casa, o líquido desce pela calha e vai parar em baixo de um cachorrinho, como se ele estivesse fazendo aquilo tudo. Tudo é bem construído, arquitetado, sempre com muitas cores e uma fotografia bastante saturada.
Já o roteiro, não chega a ser dos mais inspirados como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain ou Delicatessen, mas é inteligente e brinca com as situações o tempo todo. Uma bandeira anti-armamentista de forma bem humorada e sem se levar muito a sério. Para facilitar o plano, os dois alvos de Bazil possuem uma empresa em frente da outra. De um lado da rua "La Vigilante De L’Armement", de propriedade de François Marconi, fabrica minas terrestres que mataram seu pai, e do outro Nicolas Thibault de Fenouillet com a sua fábrica de balas “Les Arsenaux D’Aubervilliers”, responsável pelo projétil dentro da cabeça do protagonista.
A ironia está presente em toda a projeção. Desde a sala de cirurgia quando o médico decide a vida de Bazil através de uma moeda até os nomes dos personagens que fazem parte da família no ferro-velho. Todos possuem apelidos relacionados a sua personalidade. Como Calculadora, para a moça que é boa de cálculos, ou Remington para o homem que vive em sua máquina de escrever. Isso sem falar em Gororoba, a mãezona da trupe que toma conta da casa e é responsável pela alimentação. Os personagens são o ponto mais forte do filme, bem construídos, divertidos e bem interpretados por atores como Danny Boon de A Riviera Não é Aqui, que interpreta Bazil, ou Julie Ferrer, do recente Como Arrasar um Coração, que faz a mulher elástica.
Um ponto que pode ser considerado negativo é a quantidade de planos que começam a ser realizados pela trupe. Uma espécie de missão em etapas para cumprir a vingança de Bazil, mas que acaba se tornando repetitiva, principalmente na piada da mulher-elástica e a caixa. São todos planos mirabolantes, possuem gradações tanto de dificuldade quanto de situações engraçadas, mas acaba se tornando algo esquemático. O espectador fica esperando qual será a próxima etapa, perdendo um pouco da naturalidade com que a história era contada no início. Mesmo assim não perdemos o interesse. Tentando entender como tudo aquilo vai terminar. E, sem querer dar spoilers, o final é genial em todos os aspectos.
Micmacs - Um plano complicado pode não ser o melhor filme de Jean-Pierre Jeunet, mas tem a sua cara. É divertido, com um estilo incomum e personagens marcantes. Os fãs do diretor não vão se decepcionar. Mais uma daquelas obras que ficam em nossa memória.
Micmacs - Um plano complicado (Micmacs à Tire-larigot: 2009 /França)
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Roteiro: Guillaume Laurant e Jean-Pierre Jeunet
Com: Dany Boon, André Dussolier, Nicolas Marié, Jean-Pierre Marielle, Julie Ferrer.
Duração: 105 min
Bazil é daquelas pessoas fadadas à tragédia. Quando era pequeno, seu pai morreu ao pisar em uma mina terrestre. Já adulto, quando trabalhava em uma locadora de vídeo acabou sendo vítima de uma bala perdida. Consegue se salvar, mas a bala fica alojada no seu cérebro. Como já era dado como morto, ao sair do hospital não tem mais casa, roupas, nem emprego, passando a viver nas ruas. Aí é que sua vida vai mudar, pois encontra uma trupe diferente, uma espécie de família do lixo. Eles moram em uma casa reciclada e vivem da venda de ferro velho. Mas, Bazil não está satisfeito com aquilo, seu sonho é se vingar das empresas fabricantes de armas que mataram seu pai e deixaram uma bala em seu cérebro. E aí começa a planejar uma vingança mirabolante com a ajuda de seus amigos.
O grande diferencial de Micmacs - um plano complicado é o visual. A forma como Jean-Pierre Jeunet constrói as piadas através da junção de um filme com o que acontece na rua, por exemplo. O Bazil dublando uma cantora na estação de trem e ganhando mais dinheiro que ela. Ou ainda quando o cartaz do filme é formado em uma cena de perseguição. Ou ainda, quando Bazil faz xixi no telhado de uma casa, o líquido desce pela calha e vai parar em baixo de um cachorrinho, como se ele estivesse fazendo aquilo tudo. Tudo é bem construído, arquitetado, sempre com muitas cores e uma fotografia bastante saturada.
Já o roteiro, não chega a ser dos mais inspirados como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain ou Delicatessen, mas é inteligente e brinca com as situações o tempo todo. Uma bandeira anti-armamentista de forma bem humorada e sem se levar muito a sério. Para facilitar o plano, os dois alvos de Bazil possuem uma empresa em frente da outra. De um lado da rua "La Vigilante De L’Armement", de propriedade de François Marconi, fabrica minas terrestres que mataram seu pai, e do outro Nicolas Thibault de Fenouillet com a sua fábrica de balas “Les Arsenaux D’Aubervilliers”, responsável pelo projétil dentro da cabeça do protagonista.
A ironia está presente em toda a projeção. Desde a sala de cirurgia quando o médico decide a vida de Bazil através de uma moeda até os nomes dos personagens que fazem parte da família no ferro-velho. Todos possuem apelidos relacionados a sua personalidade. Como Calculadora, para a moça que é boa de cálculos, ou Remington para o homem que vive em sua máquina de escrever. Isso sem falar em Gororoba, a mãezona da trupe que toma conta da casa e é responsável pela alimentação. Os personagens são o ponto mais forte do filme, bem construídos, divertidos e bem interpretados por atores como Danny Boon de A Riviera Não é Aqui, que interpreta Bazil, ou Julie Ferrer, do recente Como Arrasar um Coração, que faz a mulher elástica.
Um ponto que pode ser considerado negativo é a quantidade de planos que começam a ser realizados pela trupe. Uma espécie de missão em etapas para cumprir a vingança de Bazil, mas que acaba se tornando repetitiva, principalmente na piada da mulher-elástica e a caixa. São todos planos mirabolantes, possuem gradações tanto de dificuldade quanto de situações engraçadas, mas acaba se tornando algo esquemático. O espectador fica esperando qual será a próxima etapa, perdendo um pouco da naturalidade com que a história era contada no início. Mesmo assim não perdemos o interesse. Tentando entender como tudo aquilo vai terminar. E, sem querer dar spoilers, o final é genial em todos os aspectos.
Micmacs - Um plano complicado pode não ser o melhor filme de Jean-Pierre Jeunet, mas tem a sua cara. É divertido, com um estilo incomum e personagens marcantes. Os fãs do diretor não vão se decepcionar. Mais uma daquelas obras que ficam em nossa memória.
Micmacs - Um plano complicado (Micmacs à Tire-larigot: 2009 /França)
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Roteiro: Guillaume Laurant e Jean-Pierre Jeunet
Com: Dany Boon, André Dussolier, Nicolas Marié, Jean-Pierre Marielle, Julie Ferrer.
Duração: 105 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Micmacs - Um plano complicado
2011-07-06T08:10:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|comedia|critica|Jean-Pierre Jeunet|
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