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O Lado Bom da Vida
O Lado Bom da Vida
Doenças mentais já foram tratadas de diversas maneiras no cinema. A mente humana fascina e assusta em proporções parecidas. Baseado na obra de Matthew Quick, O Lado Bom da Vida trata de maneira delicada e leve o transtorno bipolar, nos proporcionando emoções diversas. Curiosamente, o diretor David O. Russell fez esse filme para o seu filho, que sofre da doença.
A trama conta a história de Pat, vivido por Bradley Cooper, que acaba de sair do hospital psiquiátrico e precisa se readaptar ao mundo. Sua mãe (Jacki Weaver), sempre solícita, tenta ajudá-lo da forma que pode. Já seu pai, interpretado por Robert De Niro, tem uma relação mais complexa, até porque ele mesmo sobre de TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Querendo retomar a sua vida e rever sua esposa, apesar de ter que cumprir uma distância de 150 metros dela, Pat tenta seguir uma rotina própria, até que ele conhece Tiffany, vivida por Jennifer Lawrence, que também sofre de bipolaridade e ambos vão encontrar uma forma própria de se comunicar e se ajudar.
A estrutura do roteiro é bem simples, ingênua até em sua composição de conto de fadas às avessas. Diante de uma doença, a família não sabe mesmo como lidar com situações cotidianas, mas a forma como a família de Pat embarca em algumas aventuras como uma aposta tola que pode comprometer a situação financeira de todos, enquanto a família de Tiffany se resume a observar com olhares assustados pela janela, é estranha. Assim como algumas questões e atitudes da vizinhança e dos policiais que observam Pat em sua condicional. Isso sem falar no amigo Danny, vivido por Chris Tucker, que sempre surge do nada, com a mesma piada da fuga.
Mas, o bom do roteiro simples de O Lado Bom da Vida está exatamente nos diálogos e construção do cotidiano de uma maneira tão envolvente que é gostoso de acompanhar. Nos sentimos bem após a sessão. A mensagem é otimista, ainda que as dificuldades e preconceitos da doença sejam expostos. Preconceitos até com a própria família do doente, que chega a dizer "essa menina é complicada, não ande com ela", quando o próprio filho também é doente.
Impressiona o ritmo bem construído das situações tão próximas da realidade do transtorno. Da forma como raciocinam, das atitudes intempestivas, da forma rápida de falar e o raciocínio lógico que constroem em suas próprias cabeças, sendo impossível convencê-los do contrário. A mudança repentina do humor também é bem construída, apesar de que ambos se encontram na fase da mania durante todo o filme. Da mesma forma como o TOC do personagem de Robert De Niro se torna uma piada divertida na trama, com um certo exagero até, mas que traduz bem esses seres humanos que precisam fazer algo de certa forma ou o mundo desaba.
E claro que, diante de um cenário tão propício, as atuações se destacam. Não por acaso, quatro atores estão entre os indicados ao Oscar. É interessante que logo vem à cabeça que fazer um personagem com problemas mentais seja algo que chama a atenção e comove academias. Mas, o que chama a atenção nas atuações de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro é exatamente a não apelação para estereótipos e emoções forçadas.
Todos os três possuem um trabalho de construção de personagem feita nos detalhes. Na postura corporal, no olhar, no tom de voz, na forma como se comportam em cada situação. O ritmo acelerado de raciocínio traduzido em agonia física como Bradley Cooper faz em diversas situações. As atitudes contidas de Jennifer Lawrence e sua capacidade de explosão. E o olhar perdido de De Niro a cada jogo perdido ou mesmo ao dar por falta de um envelope em seu escritório. Jacki Weaver, a outra indicada, está bem também no papel da mãe amorosa de Pat, sua preocupação genuína nos comove, mas acaba ofuscada pelo brilho dos outros três.
O Lado Bom da Vida é isso. Acho que o título nacional nunca foi tão feliz. É uma maneira de encarar os problemas de forma positiva, vendo possibilidades e não entregas deterministas. Ainda que exagere nesse mundo perfeito, nos encanta, diverte e emociona de forma bastante harmônica.
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012 / EUA)
Direção: David O. Russell
Roteiro: David O. Russell
Com: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker
Duração: 122 min.
A trama conta a história de Pat, vivido por Bradley Cooper, que acaba de sair do hospital psiquiátrico e precisa se readaptar ao mundo. Sua mãe (Jacki Weaver), sempre solícita, tenta ajudá-lo da forma que pode. Já seu pai, interpretado por Robert De Niro, tem uma relação mais complexa, até porque ele mesmo sobre de TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Querendo retomar a sua vida e rever sua esposa, apesar de ter que cumprir uma distância de 150 metros dela, Pat tenta seguir uma rotina própria, até que ele conhece Tiffany, vivida por Jennifer Lawrence, que também sofre de bipolaridade e ambos vão encontrar uma forma própria de se comunicar e se ajudar.
A estrutura do roteiro é bem simples, ingênua até em sua composição de conto de fadas às avessas. Diante de uma doença, a família não sabe mesmo como lidar com situações cotidianas, mas a forma como a família de Pat embarca em algumas aventuras como uma aposta tola que pode comprometer a situação financeira de todos, enquanto a família de Tiffany se resume a observar com olhares assustados pela janela, é estranha. Assim como algumas questões e atitudes da vizinhança e dos policiais que observam Pat em sua condicional. Isso sem falar no amigo Danny, vivido por Chris Tucker, que sempre surge do nada, com a mesma piada da fuga.
Mas, o bom do roteiro simples de O Lado Bom da Vida está exatamente nos diálogos e construção do cotidiano de uma maneira tão envolvente que é gostoso de acompanhar. Nos sentimos bem após a sessão. A mensagem é otimista, ainda que as dificuldades e preconceitos da doença sejam expostos. Preconceitos até com a própria família do doente, que chega a dizer "essa menina é complicada, não ande com ela", quando o próprio filho também é doente.
Impressiona o ritmo bem construído das situações tão próximas da realidade do transtorno. Da forma como raciocinam, das atitudes intempestivas, da forma rápida de falar e o raciocínio lógico que constroem em suas próprias cabeças, sendo impossível convencê-los do contrário. A mudança repentina do humor também é bem construída, apesar de que ambos se encontram na fase da mania durante todo o filme. Da mesma forma como o TOC do personagem de Robert De Niro se torna uma piada divertida na trama, com um certo exagero até, mas que traduz bem esses seres humanos que precisam fazer algo de certa forma ou o mundo desaba.
E claro que, diante de um cenário tão propício, as atuações se destacam. Não por acaso, quatro atores estão entre os indicados ao Oscar. É interessante que logo vem à cabeça que fazer um personagem com problemas mentais seja algo que chama a atenção e comove academias. Mas, o que chama a atenção nas atuações de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro é exatamente a não apelação para estereótipos e emoções forçadas.
Todos os três possuem um trabalho de construção de personagem feita nos detalhes. Na postura corporal, no olhar, no tom de voz, na forma como se comportam em cada situação. O ritmo acelerado de raciocínio traduzido em agonia física como Bradley Cooper faz em diversas situações. As atitudes contidas de Jennifer Lawrence e sua capacidade de explosão. E o olhar perdido de De Niro a cada jogo perdido ou mesmo ao dar por falta de um envelope em seu escritório. Jacki Weaver, a outra indicada, está bem também no papel da mãe amorosa de Pat, sua preocupação genuína nos comove, mas acaba ofuscada pelo brilho dos outros três.
O Lado Bom da Vida é isso. Acho que o título nacional nunca foi tão feliz. É uma maneira de encarar os problemas de forma positiva, vendo possibilidades e não entregas deterministas. Ainda que exagere nesse mundo perfeito, nos encanta, diverte e emociona de forma bastante harmônica.
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012 / EUA)
Direção: David O. Russell
Roteiro: David O. Russell
Com: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker
Duração: 122 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Lado Bom da Vida
2013-02-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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