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Shahab Hosseini
Taraneh Alidoosti
O Apartamento
O Apartamento
Diretor de obras como A Separação, À Procura de Elly e O Passado, Asghar Farhadi é um cineasta que consegue falar do drama individual de uma maneira universal e sem maniqueísmo. É forte, criativo e sempre nos surpreende em sua narrativa. Em O Apartamento, as características que o consagraram estão lá, ainda que escorregue em alguns problemas.
Na trama, o casal Emad e Rana tem que lidar com emoções diversas. Atores de uma companhia de teatro que está encenando "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller, eles tem que se mudar de seu apartamento que corre o risco de desabamento, indo morar em um local emprestado. O problema é que havia uma espécie de segredo da moradora anterior que acaba afetando o casal de uma maneira profunda, desestabilizando-os emocionalmente.
Talvez a questão mais instigante da obra seja exatamente a metáfora do apartamento condenado e o emocional do casal. Há cenas em que eles estão dentro do local que trazem essa carga com uma força impressionante. Há radicalismos em algumas atitudes, mas há também ponderações e reviravoltas interessantes que nos fazem questionar nossos próprios preconceitos.
Porém, o filme acaba trazendo uma carga muito forte da sociedade machista que é o Irã. A mulher ali não tem voz, nem é capaz de tomar atitudes por sua vida. São vistas como problemáticas ou tolas. A mulher que morava antes no apartamento, mesmo não aparecendo no filme, é uma dessas sombras que a narrativa parece julgar sem direito a defesa. Já Rana se torna um problema por não conseguir superar seu trauma, nem querer falar sobre ele. Isso sem falar que é quase acusada pelo que houve por imprudência. Até mesmo na peça há ecos desse processo quando uma atriz se irrita e sai do palco dizendo que seu colega a está julgando porque ela está interpretando uma prostituta.
Por sinal, um dos pontos frágeis do roteiro é a tentativa de criar paralelos entre a peça e a trama. Há sempre uma montagem intercalada de situações vividas com as cenas, inclusive com mudanças de texto para passar recados nas entrelinhas. Porém, algo ali não funciona a contento, o que acaba enfraquecendo a história. De qualquer maneira, é preciso ressaltar a bela composição da mis-en-scène desses momentos, compondo encenação com plateia e momentos no camarim.
A maneira como Asghar Farhadi também cria o suspense do acontecido e nunca nos mostra de fato o que houve naquele banheiro também chama a atenção. A maneira como a câmera se fixa na porta entreaberta, cortando para o supermercado e depois para o hospital cria um impacto que nos deixa na posição do marido Emad, em busca de respostas. E isso acaba ajudando na emoção das reviravoltas posteriores. Além de nos deixar refletindo e imaginando algumas questões. Nos deixar sem todas as respostas, por sinal, é outra característica do cineasta.
O Apartamento é um filme que nos faz pensar. Bem construído, com boas atuações e algumas surpresas, tem sua força nas imagens e nas metáforas que constrói, principalmente com o apartamento. Sua história, porém, traz problemas, enfraquecendo a experiência. Ainda assim, mais um filme a nos fazer refletir.
O Apartamento (Forushande, Irã, 2017)
Direção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Com: Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi
Duração: 125 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Apartamento
2017-01-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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