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A Melhor Mãe do Mundo
A Melhor Mãe do Mundo
Uma catadora de material reciclado, com dois filhos, um marido violento e uma sociedade que não a protege. Este é o mote do novo filme de Anna Muylaert, A Melhor Mãe do Mundo. Mais do que uma obra sobre questões sociais ou feministas, no entanto, o filme é uma experiência imersiva emocional.
Conhecida por obras como Que Horas Ela Volta? e Mãe Só Há Uma, a diretora demonstra mais uma vez sua sensibilidade e coragem nessa narrativa. Ao longo de sua filmografia, a diretora transita entre gêneros e estilos, mas mantém uma marca autoral firme, voltada ao universo feminino, às personagens à margem e à criação de situações de desconforto que nos fazem refletir sobre as estruturas sociais. Neste novo trabalho, Muylaert explora o drama com intensidade e minimalismo, e reafirma sua capacidade de dar voz aos invisíveis por meio de histórias íntimas, mas profundamente políticas.
Acompanhamos por quase duas horas, Gal, essa mulher determinada, puxando uma carroça com seus filhos dentro, nessa jornada, sem um plano exato, apenas a vontade de fugir para o mais longe possível daquele homem. Tal qual Guido (o pai de A Vida é Bela), Gal pinta uma realidade fantasiosa para as crianças, dizendo que estão vivendo uma aventura, a começar por um acampamento em um gramado qualquer.
E esse é um dos méritos do roteiro também escrito por Muylaert, a sutileza com a qual trata de temas densos, nos dando pistas e informações nas entrelinhas. As situações se apresentam em gestos, poucas palavras, trocas de olhares. Com a cena em que ela entra em casa para resgatar os filhos. Ou em um momento chave na casa da prima. É poética a maneira como temos momentos singelos e divertidos, a exemplo das cenas no parque de diversões, ou um lanche em um fast food.
A montagem da obra ajuda na imersão daquele mundo. Repleto de planos longos, acompanhamos o ritmo daquela jornada , quase nos sentindo ali, juntos na carroça. Ao mesmo tempo, somos surpreendidos por raccords instigantes como quando Gal faz um movimento de mergulho com a carroça e corta para uma montanha russa completando a movimentação.
O elenco é outra força da obra. A começar por Shirley Cruz que mimetiza toda a força, dor e diversidade de Gal com tanta verdade que é possível sentir sua entrega. As crianças Rihanna Barbosa e Benin Ayo demonstram uma naturalidade e entrosamento impressionantes. Destaque especial para Rihanna que consegue nos passar muito com olhares e gestos. Seu Jorge, apesar do pouco tempo de tela, também nos dá bons momentos. Assim como Luedji Luna, Rubens S. Santos, Rejane Faria e Lourenço Mutarelli que dão suporte à trama.
A Melhor Mãe do Mundo é um filme que emociona sem recorrer ao exagero, que denuncia sem sermão. Uma obra que carrega no título uma provocação (ou um reconhecimento) e nos entrega, sobretudo, um retrato terno e corajoso da luta pela sobrevivência, pelo afeto e pela dignidade. Anna Muylaert nos lembra, mais uma vez, que as maiores revoluções podem nascer dentro de uma carroça empurrada por uma mulher que ama.
A Melhor Mãe do Mundo (Brasil, 2025)
Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Com: Shirley Cruz, Rihanna Barbosa, Benin Ayo, Seu Jorge, Luedji Luna, Rubens S. Santos, Rejane Faria, Lourenço Mutarelli
Duração: 105 min.

Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Melhor Mãe do Mundo
2025-07-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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