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Querida, Encolhi as Crianças

Querida, Encolhi as Crianças - filme

Eu preciso confessar: revisitar Querida, Encolhi as Crianças é como entrar numa máquina do tempo. Não só pela estética encantadora dos anos 80, mas pelo sentimento de pura curiosidade e medo misturados. A premissa é simples, quase infantil na sua ingenuidade: um pai cientista distraído, Wayne Szalinski, acidentalmente reduz seus filhos e os filhos dos vizinhos ao tamanho de insetos, lançando-os numa jornada épica no quintal de casa. Mas, exatamente por se manter num ambiente limitado, o filme transforma objetos corriqueiros como uma garrafa de refrigerante, um cortador de grama e uma lâmina de grama em ameaças reais, implacáveis, às vezes até poéticas.

Os efeitos práticos merecem um entendimento generoso: há sabor ali, uma textura que o CGI jamais capturaria. Assistir de novo é ver esse quintal virar um mundo inteiro. Uma mosca vira um monstro alado, uma gota d’água se transforma num dilúvio devastador. Tudo com o talento do diretor Joe Johnston, chegando pelo mundo dos efeitos visuais dos clássicos da Lucasfilm, e estampando essa inventividade nas paisagens domésticas. Essa coragem de brincar com escala, luz e sombra, eleva um enredo simples à dimensão de fábula moderna.

Querida, Encolhi as Crianças - filme
Rick Moranis
, no papel de Wayne, caminha numa linha delicada: o cientista atrapalhado sem traços de antipatia. Ele é paternal, ansioso, bom pai, mas obcecado pela criação. A cena dele circulando o jardim com lupa e holofotes deveria ser cômica, e é, mas ressoa como uma metáfora dolorosa. O pai só percebe os filhos quando algo sai errado. Forçosamente, encontramos ali uma sutil tensão familiar, após um espetáculo visual vibrante. Isso os caminhos do roteiro não deixam esconder, mas naquele momento, a emoção brota também da identificação silenciosa de quem já foi pai ou mãe distraída.

As crianças (Amy, Nick, Russ e Ron) não têm arcos profundos, mas estão longe de uma caricatura. Amy, especialmente, aparece como voz de equilíbrio, e Nick personifica a curiosidade destemida. Seus momentos ao lado de uma formiga protetora, que se aproxima quase como um Frankenstein minúsculo, me atingiram com força: num segundo, a amizade entre espécies, no outro, a condição trágica do inseto herói. É visceral. E me fez pensar: o filme fala, suavemente, sobre empatia, responsabilidade e a fragilidade de vínculos que só percebemos quando ameaçados.

Querida, Encolhi as Crianças - filme
Não é perfeito. O roteiro se perde às vezes em repetições. A cena do pai procurando por horas carece de uma profundidade dramática maior. Mas há beleza na contenção: não precisamos de explosões, dramas ou reflexões filosóficas. Só um formigueiro que devora sonhos e de um cortador de grama que se torna um terremoto. E isso é suficiente. Porque quem já foi criança sabe: para ela, o mundo é feito de proximidade ampliada, de perigos minusculamente gigantes; nesse caso, o que é banal para nós, pode ser gigante para quem tem um centímetro de altura.

Existem outros pontos fracos, como a antecipação emocional fraca entre Russ e Amy, ou o vilão de sequências futuras que permanece em suspenso. Mas precisamos abrir concessão diante de uma aventura que ainda prende, ainda provoca risadas e sustos, quase 35 anos depois. E, convenhamos, nostalgicamente agradecemos à Disney de outrora por ter confiado na imaginação das crianças mais do que em efeitos digitais.

No fim, o que sobra em Querida, Encolhi as Crianças é aquele sentimento infantil de que o quintal é um universo inteiro, que uma gota pode afogar e que quatro crianças podem ser minúsculas, mas viverem algo imenso. O filme cumpre seu propósito com dignidade, oferecendo uma aventura familiar carregada de gentileza e insetos grandiosos.


Querida, Encolhi as Crianças (Honey, I Shrunk the Kids, 1989 / Estados Unidos)
Direção: Joe Johnston
Roteiro: Ed Naha, Tom Schulman, Stuart Gordon, Brian Yuzna
Com: Rick Moranis, Matt Frewer, Marcia Strassman, Amy O’Neill, Robert Oliveri, Thomas Wilson Brown, Jared Rushton
Duração: 93 min.

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