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Treze Dias Que Abalaram o Mundo

Treze Dias Que Abalaram o Mundo - filme

Assistindo Treze Dias que Abalaram o Mundo (2000), de Roger Donaldson, sinto-me diante de uma obra que se esforça para capturar não só os fatos da Crise dos Mísseis de Cuba, mas também o peso moral, político e psicológico de uma liderança em sua hora mais crítica. A narrativa, centrada no assessor Kenny O’Donnell (Kevin Costner), John F. Kennedy (Bruce Greenwood) e Robert F. Kennedy (Steven Culp), traz em primeiro plano a urgência de decisões contra o risco de guerra nuclear: algo que o filme consegue transmitir sem alardear efeitos ou expoentes espetaculares, mas sim através da escalada crescente da tensão, detalhes de bastidores e diálogos apreensivos.

O ponto forte maior está nas atuações. Bruce Greenwood não tenta simplesmente imitar Kennedy, ele encarna um homem com falhas, dividido, que carrega a consciência de que seus atos podem significar não só vitórias políticas, mas a sobrevivência de milhões. Há uma humanidade nele: aquele equilíbrio entre autoridade e hesitação, entre possivelmente admitir que um erro pode ser fatal. Steven Culp como Robert Kennedy desempenha o papel de conselheiro incansável, a figura atrás das portas fechadas, lutando para manter aberta a via diplomática. Costner, embora não brilhe tanto quanto Greenwood em termos de presença histórica, cumpre seu papel como mediador, narrador informal das angústias, alguém que serve de ponte entre o público e o mundo de cifras, protocolos, militares dispostos à escalada beligerante.

Treze Dias Que Abalaram o Mundo - filme
A direção de Donaldson, aliada ao roteiro de David Self, mostra competência no modo como equilibra o pulso narrativo para evitar que o filme se torne mera aula de história. Ele nos coloca dia a dia, reunião a reunião, imprevisto a imprevisto, com relógio correndo, mostrando tanto as disputas internas entre militares belicosos e diplomatas cautelosos quanto a pressão externa, através de imagens ou discursos, que ameaça romper toda contenção. A fidelidade histórica, em linhas gerais, é respeitosa, embora o filme tome liberdades para dar dramaticidade, especialmente ao superdimensionar o papel de O’Donnell, algo compreensível em narrativas desse tipo, mas que exige que tenhamos consciência de que nem tudo será exato aos registros oficiais.

Há momentos marcantes: penso no ponto em que os chefes militares e o Pentágono pressionam Kennedy a autorizar bombardeios preventivos, enquanto ele pondera as consequências, não só políticas, mas éticas, de um ato que pode desencadear uma réplica soviética e arrastar o mundo para o precipício. Esse ímpeto dramático, sustentado pelo roteiro e pelas expressões contidas dos atores, é talvez o momento em que se torna mais claro que Treze Dias que Abalaram o Mundo não é só sobre política, mas sobre medo, responsabilidade e a tensão de uma liderança consciente do peso de cada palavra.

Treze Dias Que Abalaram o Mundo - filme
Há, entretanto, fragilidades. O ritmo surge lento em alguns trechos. São certas reuniões, longas trocas de discursos, que, por vezes, fazem o filme oscilar entre o envolvente e o expositivo demais. Para quem espera ação, o filme concentra-se nos bastidores, nos gabinetes, nos corredores da Casa Branca, no telefone, na sala de reunião. O que pode cansar quem prefere visual mais dinâmico. Outro aspecto é que, em nome da coesão dramática, personagens como O’Donnell têm sua importância inflada, podendo dar uma impressão distorcida para espectadores que não conhecem bem o histórico real. Esse herói nos bastidores funciona bem para narrativa, mas exige a tolerância de que o filme não seja uma reconstituição documental.

No balanço final, Treze Dias Que Abalaram o Mundo se firma como uma obra que merece ser vista não apenas por quem ama história, mas por quem se interessa por liderança, ética política, e o modo como crises extremas testam o caráter humano. É um thriller político que funciona melhor quando menos se deixa seduzir pela grandiosidade das bombas e mais joga com o dilema interno. Ele evidencia que a história cinematográfica pode emocionar sem cair na hipérbole, ainda que nem sempre evite o peso da exposição. Com suas virtudes de atuação, direção contida, atmosfera bem construída e suas imperfeições de ritmo e exagero de papel narrativo, o filme permanece um testemunho potente de um momento em que o mundo esteve à beira do abismo.


Treze Dias Que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000 / Estados Unidos)
Direção: Roger Donaldson
Roteiro: David Self
Com: Kevin Costner, Bruce Greenwood, Steven Culp, Dylan Baker
Duração: 145 min.

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