A Festa da Menina Morta
Já dizia o ditado, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Em uma cidade ribeirinha, nos confins da Amazônia, uma população venera um rapaz há vinte anos como santo. Tudo porque no dia em que a mãe do mesmo cometeu suicídio, ele chamou por seu nome fazendo parecer que ela tinha ressucitado e, logo depois, um cachorro colocou em suas mãos um vestidinho rasgado de uma menina que estava desaparecida. O dito milagre ficou famoso e, todo ano, a cidade se prepara para comemorar A Festa da Menina Morta e ouvir as revelações da menina através da boca do "santinho".
Superstição, misticimo e ignorância são retratados de forma crua em uma história sensível e verdadeira. Primeira obra de Mateus Nachtergaele como diretor, o filme emociona e deixa um nó na garganta com a situação exposta da realidade humana. Porém, a narrativa se arrasta mais do que deveria, com cenas desnecessárias, incluindo um índio dançando break que não diz para que veio e uma participação gratuita de Paulo José. Daria um excelente média-metragem. Como longa, acaba sendo cansativo. Mesmo assim, vale a pena ser conferido.
A direção é correta, com boas passagens e o roteiro inteligente vai contando a história da tal festa e dos acontecimentos passados de forma diluída, sem didatismo. O personagem de Juliano Cazarré é a voz da razão em toda aquele fanatismo estranho e torna-se a melhor coisa do filme, com cenas de puro lirismo. É com Tadeu que o público se identifica. A fotografia de Lula Carvalho têm cores fortes e enquadramentos muito bonitos, sabendo explorar ao máximo o cenário que tem nas mãos.
A interpretação de Daniel Oliveira, no entanto, apesar de bastante elogiada, tendo ganho inclusive prêmios, passa um pouco do tom. Está certo que o Santinho é exagerado e dado a chiliques sem sentido. Porém, em muitos momentos, sua interpretação me lembra tiques do próprio diretor, que tem uma expressão exageradamente teatral e que ficam over em uma película. Sua relação com o pai, interpretado por Jackson Antunes também acaba sendo forte demais, sem justificativa, estragando, principalmente o final do filme.
Contudo, é uma obra verdadeira, de um país de excessos e de um povo ingênuo. Vale, principalmente pela reflexão sobre a forma como as pessoas se agarram a qualquer coisa para viver. Como crer que a aparição de um vestido de uma menina morta seja um grande milagre a ser cultuado, tornando um menino perturbado em santo e uma vida miserável em divina.
Como não tem o apoio da Globo Filmes, nem de grandes distribuidores, só agora o filme chega ao circuito oficial. Em Salvador, deve estrear no início de julho no Circuito Sala de Arte que teve uma pré-estréia no último sábado.
Prêmios
- Melhor Filme na categoria Novos Diretores, no Festival de Chicago.
- 6 Kikitos de Ouro no Festival de Gramado - Prêmio Especial do Júri, Melhor Ator (Daniel de Oliveira, Melhor Fotografia, Melhor Música, Prêmio da Crítica e Melhor Filme - Júri Popular.
- 2 Troféus Redentor no Festival do Rio - Melhor Diretor e Melhor Ator (Daniel de Oliveira).
- Melhor Ator (Daniel de Oliveira), no 12º Festival de Cinema Luso-Brasileiro.
- 2 prêmios no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles - Melhor Fotografia e Melhor Roteiro.
Superstição, misticimo e ignorância são retratados de forma crua em uma história sensível e verdadeira. Primeira obra de Mateus Nachtergaele como diretor, o filme emociona e deixa um nó na garganta com a situação exposta da realidade humana. Porém, a narrativa se arrasta mais do que deveria, com cenas desnecessárias, incluindo um índio dançando break que não diz para que veio e uma participação gratuita de Paulo José. Daria um excelente média-metragem. Como longa, acaba sendo cansativo. Mesmo assim, vale a pena ser conferido.
A direção é correta, com boas passagens e o roteiro inteligente vai contando a história da tal festa e dos acontecimentos passados de forma diluída, sem didatismo. O personagem de Juliano Cazarré é a voz da razão em toda aquele fanatismo estranho e torna-se a melhor coisa do filme, com cenas de puro lirismo. É com Tadeu que o público se identifica. A fotografia de Lula Carvalho têm cores fortes e enquadramentos muito bonitos, sabendo explorar ao máximo o cenário que tem nas mãos.
A interpretação de Daniel Oliveira, no entanto, apesar de bastante elogiada, tendo ganho inclusive prêmios, passa um pouco do tom. Está certo que o Santinho é exagerado e dado a chiliques sem sentido. Porém, em muitos momentos, sua interpretação me lembra tiques do próprio diretor, que tem uma expressão exageradamente teatral e que ficam over em uma película. Sua relação com o pai, interpretado por Jackson Antunes também acaba sendo forte demais, sem justificativa, estragando, principalmente o final do filme.
Contudo, é uma obra verdadeira, de um país de excessos e de um povo ingênuo. Vale, principalmente pela reflexão sobre a forma como as pessoas se agarram a qualquer coisa para viver. Como crer que a aparição de um vestido de uma menina morta seja um grande milagre a ser cultuado, tornando um menino perturbado em santo e uma vida miserável em divina.
Como não tem o apoio da Globo Filmes, nem de grandes distribuidores, só agora o filme chega ao circuito oficial. Em Salvador, deve estrear no início de julho no Circuito Sala de Arte que teve uma pré-estréia no último sábado.
Prêmios
- Melhor Filme na categoria Novos Diretores, no Festival de Chicago.
- 6 Kikitos de Ouro no Festival de Gramado - Prêmio Especial do Júri, Melhor Ator (Daniel de Oliveira, Melhor Fotografia, Melhor Música, Prêmio da Crítica e Melhor Filme - Júri Popular.
- 2 Troféus Redentor no Festival do Rio - Melhor Diretor e Melhor Ator (Daniel de Oliveira).
- Melhor Ator (Daniel de Oliveira), no 12º Festival de Cinema Luso-Brasileiro.
- 2 prêmios no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles - Melhor Fotografia e Melhor Roteiro.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Festa da Menina Morta
2009-06-29T11:18:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|drama|Sala de Arte|
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