Aconteceu em Woodstock
Leve, foi essa a sensação com a qual sai do filme de Ang Lee sobre o lendário Festival de Woodstock. Na verdade, não é exatamente sobre o festival, mas sobre o responsável por levar à pequena cidade de Bethel Estado no estado de NY que a narrativa irá se debruçar para tentar passar um pouco da sensação de liberdade daquele momento único. Baseado no livro Taking Woodstock: A True Story of a Riot, A Concert, and A Life, autobiográfico de Elliot Tiber, a história irá mostrar a transformação daquele lugar esquecido com os ganhos e perdas para aquela família antes falida. Engraçado que o filme ensaia falar um pouco da população local, mas acaba esquecendo-a completamente na segunda parte do filme.
Elliot Tiber, vivido pelo comediante Demetri Martin, é um decorador que tenta a sorte em Nova York até que resolve voltar para sua cidade natal na tentativa de ajudar seus pais a saldar uma promissória que lhes tirará a casa e sustento, já que esta é também uma pousada decadente. Aproveitando-se do fato de ser responsável pela Câmara de Comércio da cidade, tem a idéia de trazer o festival de música que havia sido expulso de uma cidade vizinha por causa da insatisfação da população com a possível invasão hippie. Ele só não tinha noção de que mais de 500 mil pessoas iriam tornar sua cidade em um estado de calamidade pública.
O roteiro de James Schamus, como falei, até ensaia falar dessa calamidade e da revolta dos locais com Elliot, mas acaba esquecendo-a e concentrando na revolução pessoal de Elliot e seus pais. Imelda Staunton e Henry Goodman merecem aqui um destaque especial por suas interpretações do casal judeu que vê suas vidas transformadas com aquelas pessoas estranhas, vivenciando experiências novas, mas sem deixar de se preocupar com o filho. Outra caracterização impressionante é a de Jonathan Groff que encarna a tranquilidade e visual do produtor Michael Lang de uma forma impressionante. E ambos, personagem e persona inspiradora, me lembram muito Treat Williams em Hair e o estereótipo do "hippie cuca fresca".
A sempre elogiada fotografia de Eric Gautier nos conduz sempre à Elliot, nunca focando o festival, o que acho acertado, apelando muitas vezes para a já usada tela dividida, que busca dar conta de todas as instâncias daquele caos organizado. Algo, no entanto, fica faltando, seja no roteiro, na direção ou na fotografia para tornar a experiência realmente sublime. O filme não atinge o objetivo de construir um protagonista para aquela história, que é na verdade do fenômeno histórico e não de uma pessoa em particular. Por vezes, se perde em algumas experiências tolas de auto-descoberta, sem se aprofundar exatamente na construção desta. Afinal, Elliot se mostra um personagem raso, um recorte de várias sensações sem nexo. Há algumas cenas em que a catarse é pretendida, mas não se consuma exatamente pela falta dessa profundidade, como no momento em que encontra a mãe deitada no armário com os dólares ou na cena da boate.
Ainda assim, a experiência é sensitiva. Algo no clima e nas imagens que Ang Lee constrói como conjunto fílmico no leva para aquele espaço de transgressão, mesmo que esquecendo as questões políticas não abordadas no filme. Isso me fez sair leve. Com vontade de cantar e vivenciar algo parecido, coisa que é, infelizmente, impossível.
Elliot Tiber, vivido pelo comediante Demetri Martin, é um decorador que tenta a sorte em Nova York até que resolve voltar para sua cidade natal na tentativa de ajudar seus pais a saldar uma promissória que lhes tirará a casa e sustento, já que esta é também uma pousada decadente. Aproveitando-se do fato de ser responsável pela Câmara de Comércio da cidade, tem a idéia de trazer o festival de música que havia sido expulso de uma cidade vizinha por causa da insatisfação da população com a possível invasão hippie. Ele só não tinha noção de que mais de 500 mil pessoas iriam tornar sua cidade em um estado de calamidade pública.
O roteiro de James Schamus, como falei, até ensaia falar dessa calamidade e da revolta dos locais com Elliot, mas acaba esquecendo-a e concentrando na revolução pessoal de Elliot e seus pais. Imelda Staunton e Henry Goodman merecem aqui um destaque especial por suas interpretações do casal judeu que vê suas vidas transformadas com aquelas pessoas estranhas, vivenciando experiências novas, mas sem deixar de se preocupar com o filho. Outra caracterização impressionante é a de Jonathan Groff que encarna a tranquilidade e visual do produtor Michael Lang de uma forma impressionante. E ambos, personagem e persona inspiradora, me lembram muito Treat Williams em Hair e o estereótipo do "hippie cuca fresca".
A sempre elogiada fotografia de Eric Gautier nos conduz sempre à Elliot, nunca focando o festival, o que acho acertado, apelando muitas vezes para a já usada tela dividida, que busca dar conta de todas as instâncias daquele caos organizado. Algo, no entanto, fica faltando, seja no roteiro, na direção ou na fotografia para tornar a experiência realmente sublime. O filme não atinge o objetivo de construir um protagonista para aquela história, que é na verdade do fenômeno histórico e não de uma pessoa em particular. Por vezes, se perde em algumas experiências tolas de auto-descoberta, sem se aprofundar exatamente na construção desta. Afinal, Elliot se mostra um personagem raso, um recorte de várias sensações sem nexo. Há algumas cenas em que a catarse é pretendida, mas não se consuma exatamente pela falta dessa profundidade, como no momento em que encontra a mãe deitada no armário com os dólares ou na cena da boate.
Ainda assim, a experiência é sensitiva. Algo no clima e nas imagens que Ang Lee constrói como conjunto fílmico no leva para aquele espaço de transgressão, mesmo que esquecendo as questões políticas não abordadas no filme. Isso me fez sair leve. Com vontade de cantar e vivenciar algo parecido, coisa que é, infelizmente, impossível.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Aconteceu em Woodstock
2010-03-19T09:30:00-03:00
Amanda Aouad
Ang Lee|comedia|critica|Emile Hirsch|rock|
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