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O Bem Amado
O Bem Amado
Quando Dias Gomes chegou à televisão brasileira foi uma mudança na teledramaturgia. No lugar dos bons e velhos melodramas românticos, tramas mais politizadas começaram a invadir nossos lares, adaptadas de peças do autor. Foi assim que em 1973, estreava a primeira telenovela a cores na Rede Globo: O Bem Amado. Uma sátira aos políticos demagogos na figura de Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia Sucupira. O sucesso foi tanto que a trama virou uma série na década de 80, com 220 episódios. Agora, ela chega aos cinemas pelas mãos de Guel Arraes, o diretor já conhecido por seu tom farsesco, se encaixa muito bem na proposta original de Dias Gomes que foi amenizada na televisão pela censura e pela necessidade do meio.
"Mas deixemos os 'entretantos' e vamos logo aos 'finalmentes'". O Bem Amado retoma a história original da peça, repetida na telenovela, de uma cidadezinha do interior que elege seu prefeito com a promessa de construir um cemitério. O problema é que após terminada a obra, ninguém morre na cidade, adiando, sem previsão de prazo, a bendita inauguração. Guel Arraes, que também assina o roteiro junto a Cláudio Paiva, alterou alguns detalhes, fazendo um link da trajetória da cidade com a situação do país, incluindo a ditadura militar em um parelelo interessante, principalmente pelo seu final. Há ainda, o personagem de Tonico Pereira, o opositor de Odorico, que apesar de ser de esquerda também não tem escrúpulos, dando um tom maior de crítica à oposição também.
Guel Arraes é um diretor com estilo próprio, por isso é visto como vanguardista na televisão, sendo responsável por programas como Hipertensão ou TV Pirata. No cinema, é taxado de comercial, mas seus filmes são bem construídos, todos em tom de farsa, e sucesso de bilheteria. Vide, O Auto da Compadecida ou Lisbela e o Prisioneiro. Nesse ponto, O Bem Amado não acrescenta nada à sua trajetória, sendo apenas mais do mesmo. Porém, o texto de Dias Gomes se mostra atual, quarenta anos depois, sendo uma obra sempre a ser conferida.
O elenco cumpre o seu papel, não se tornando apenas uma caricatura do original. Apesar de não gostar do tom caricato ao extremo que Marco Nanini, provalvemente brifado por Arraes, dá à Odorico, tenho que reconhecer o talento do ator. Gosto mais do estilo canalha humanista de Paulo Gracindo, sem tantas caras e bocas, mas funciona no contexto do filme. Já Matheus Nachtergaele conseguiu fugir da caricatura ao construir um Dirceu Borboleta completamente diferente de Emiliano Queiroz, ficou sob medida e ainda evitou excessos. As irmãs Cajazeiras estão bem representadas por Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes (antes do agravamento da doença) que mantêm o bom humor a cada cena. Já José Wilker não consegue colocar medo com seu Zeca Diabo e Maria Flor está totalmente dispensável como a filha do prefeito Violeta. O filme é narrado por Caio Blat que dá vida ao jornalista Neco.
Uma coisa que me incomoda nos filmes produzidos por Paula Lavigne é a trilha sonora. Adoro Caetano Veloso, como cantor e compositor, mas as trilhas que ele assina têm um excesso de músicas que transforma toda cena em um videoclipe. As músicas incidentais, no entanto, são bastante felizes, principalmente nas cenas das irmãs Cajazeiras, ampliando ainda mais o tom de farsa.
Com excessos propositais do estilo, O Bem Amado é um filme que cumpre o seu papel, ao resgatar um personagem lendário da nossa dramaturgia em uma época em que estamos nos preparando para as próximas eleições presidenciais e para governador. Como diz o personagem de Caio Blat, "a solução está na democracia".
"Mas deixemos os 'entretantos' e vamos logo aos 'finalmentes'". O Bem Amado retoma a história original da peça, repetida na telenovela, de uma cidadezinha do interior que elege seu prefeito com a promessa de construir um cemitério. O problema é que após terminada a obra, ninguém morre na cidade, adiando, sem previsão de prazo, a bendita inauguração. Guel Arraes, que também assina o roteiro junto a Cláudio Paiva, alterou alguns detalhes, fazendo um link da trajetória da cidade com a situação do país, incluindo a ditadura militar em um parelelo interessante, principalmente pelo seu final. Há ainda, o personagem de Tonico Pereira, o opositor de Odorico, que apesar de ser de esquerda também não tem escrúpulos, dando um tom maior de crítica à oposição também.
Guel Arraes é um diretor com estilo próprio, por isso é visto como vanguardista na televisão, sendo responsável por programas como Hipertensão ou TV Pirata. No cinema, é taxado de comercial, mas seus filmes são bem construídos, todos em tom de farsa, e sucesso de bilheteria. Vide, O Auto da Compadecida ou Lisbela e o Prisioneiro. Nesse ponto, O Bem Amado não acrescenta nada à sua trajetória, sendo apenas mais do mesmo. Porém, o texto de Dias Gomes se mostra atual, quarenta anos depois, sendo uma obra sempre a ser conferida.
O elenco cumpre o seu papel, não se tornando apenas uma caricatura do original. Apesar de não gostar do tom caricato ao extremo que Marco Nanini, provalvemente brifado por Arraes, dá à Odorico, tenho que reconhecer o talento do ator. Gosto mais do estilo canalha humanista de Paulo Gracindo, sem tantas caras e bocas, mas funciona no contexto do filme. Já Matheus Nachtergaele conseguiu fugir da caricatura ao construir um Dirceu Borboleta completamente diferente de Emiliano Queiroz, ficou sob medida e ainda evitou excessos. As irmãs Cajazeiras estão bem representadas por Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes (antes do agravamento da doença) que mantêm o bom humor a cada cena. Já José Wilker não consegue colocar medo com seu Zeca Diabo e Maria Flor está totalmente dispensável como a filha do prefeito Violeta. O filme é narrado por Caio Blat que dá vida ao jornalista Neco.
Uma coisa que me incomoda nos filmes produzidos por Paula Lavigne é a trilha sonora. Adoro Caetano Veloso, como cantor e compositor, mas as trilhas que ele assina têm um excesso de músicas que transforma toda cena em um videoclipe. As músicas incidentais, no entanto, são bastante felizes, principalmente nas cenas das irmãs Cajazeiras, ampliando ainda mais o tom de farsa.
Com excessos propositais do estilo, O Bem Amado é um filme que cumpre o seu papel, ao resgatar um personagem lendário da nossa dramaturgia em uma época em que estamos nos preparando para as próximas eleições presidenciais e para governador. Como diz o personagem de Caio Blat, "a solução está na democracia".
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Bem Amado
2010-07-21T08:55:00-03:00
Amanda Aouad
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