![As cartas psicografadas por Chico Xavier As cartas psicografadas por Chico Xavier](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgrw1ICq4JIXS2Ok5UXN90zdRRm3JyC8YImeK__BxxWnPdZI8oaee4Oii0quzsNfSn8Y13YHrRLkQP6_QkcJ8zueUhBjt6VxaoJ1RWhUlSeY7ASKAnLFG4nuLkW0ZkVyjn3qfUv98jkEY/s1600/AsCartasPsicografadasPorChicoXavier-03.jpg)
O título do filme é enorme e já denuncia a falta de criatividade do longametragem de Cristiana Grumbach. Assistente e pesquisadora de vários filmes de Eduardo Coutinho, a diretora se preocupou tanto em respeitar a dor e crença daquelas mães que acabou fazendo um documentário frio. É um filme de ausência, sim, e o propósito de investigar a dor através dos depoimentos de mulheres que perderam seus filhos e encontraram um pouco de consolo nas cartas psicografadas por Chico Xavier está na tela e é interessante. Mas parece que falta algo. Ousar um pouco no formato não faria mal a ninguém, não seria um desrespeito. Acabou que a expectativa que demonstrei desde quando
soube dessa produção, foi um pouco frustrada.
O filme começa com a tela preta e a voz da diretora lendo uma carta que vamos compreendendo aos poucos. São alguns minutos de tela escura e voz nos fazendo viajar naquela mensagem. Era promissor. Porém, quando o
fade in nos revela a primeira mãe entrevistada, começamos a participar de um jogo com regras bem claras. Cristiana se aproxima aos poucos, não quer fazer muitas perguntas diretas, nem induzir a entrevistada. Sua voz é amiga, aprendeu bem com o mestre Coutinho. Ela também não pressiona lembranças tristes, nem apela, o que acho interessante. Mas, podia ter menos pudores ao investigar o tema principal: como as cartas modificaram a forma de lidar com o vazio deixado.
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Quando, pela primeira vez, Cristiana ilustra essa ausência com uma cadeira vazia é interessante, a carta sendo lida com aquela imagem parada. Mas, quando isso se repete nos depoimentos seguintes começa a ficar chato. O mesmo devo dizer da carta sendo mostrada. A primeira é interessante, a partir da segunda vai ficando monótono. O recurso de entrevistar mãe e pai torna algumas conversas mais dinâmicas, mas seguir uma ordem de entrevistas pode ser um erro. Talvez, o filme fosse mais interessante com uma montagem paralela de todos os depoimentos, até para ter uma comparação. Fica tudo muito cartesiano da forma como se apresenta na tela.
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Cristiana Grumbach, no entanto, acerta ao não se posicionar em relação ao fenômeno. Em um momento uma entrevistada até diz "eu sei que você não acredita, mas eu acredito". E ela pergunta: "por que você diz que eu não acredito?" Fica nisso. Não sabemos se a diretora acredita no fenômeno da psicografia, nem nos interessa. Não importa, nem mesmo se o espectador acredita. Ali, o que importa são as mães, seus filhos desencarnados e a forma como suas cartas lhe deram certo conforto. Essa é a força do documentário, as histórias. Temos depoimentos sinceros, sem máscaras nem receios. Pessoas abrindo seus corações para a câmera sobre um momento cruel. Ninguém merece perder um filho, diz uma das entrevistadas, é a pior das dores.
As cartas psicografadas por Chico Xavier pode não ser dos melhores filmes, mas é um belo registro de recuperação da fé. Pessoas que passaram pela mesma experiência podem ter um alento vendo aquelas mulheres falando. Até quando uma explicita a tentativa de suicídio interrompida por um grito estranho que foi confirmado em uma das cartas. As cartas lidas na íntegra são emocionantes e nos dão um vislumbre de que a morte deve mesmo ser apenas uma passagem para uma nova vida. Como disse uma das entrevistadas, uma vida muito melhor que esta.