Velozes e Furiosos 5, Operação Rio
Roteiro inexistente, atuações pífias e uma sensação de que tudo está ali apenas para justificar a ação nas ruas. Talvez vocês reclamem que é isso mesmo, é um filme de gênero e que Velozes e Furiosos 5 é um bom entretenimento. Concordo que há uma capacidade técnica de anos de indústria que não farão nunca um filme com orçamento milionário e uma marca de franquia forte ser um fracasso completo. Mas, facilmente podemos comparar seu roteiro ao brasileiro Federal, tão criticado ano passado, por exemplo. É daqueles filmes sem pé nem cabeça. Então, desliguem o cérebro e vamos lá.
Estamos no Rio de Janeiro, quer dizer, os personagens dizem que estão e imagens aéreas nos são mostradas para localizar a cidade. Ao mesmo tempo a geografia nos dá um nó ao ver um trem em pleno deserto, que tem uma estrada abandonada que dá acesso à favela. Depois, temos personagens com sotaque espanhol e dublagens mal feitas. Tem ainda carros ingleses, com a direção do lado direito, transportes clandestinos e gangues de civis armados nas ruas. Afinal, eles não estão nos Estados Unidos "Isto aqui é Brasil", grita Vin Diesel em determinado momento. Tudo bem, é filme. Então, temos que relevar também a história de que todo policial é corruptível e que o chefe do FBI só confia na garota que perdeu o noivo por ter outra motivação. Ou mesmo aceitar sua entrada na favela como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
O que incomoda mesmo é, pensando como americano, o sentido daquilo tudo. Três foragidos da polícia vão ao Brasil para se esconder, lá se envolvem com um grupo de assaltantes, mas acabam virando alvo deles, da polícia brasileira e americana. Claro, que a americana é determinada a cumprir a lei, a brasileira só quer proteger o empresário corrupto que é seu chefe. Em meio a toda essa lei torta, os heróis são os bandidos e o policial do FBI quase um ciborgue a ser detonado, não apenas em sua composição física quanto na interpretação de Dwayne "The Rock" Johnson. Aliás, interpretação é um problema sério no filme. Todas as tentativas de emoções soam falsas. Isso sem contar com alguns clichês básicos como ânsia de vômito para indicar gravidez ou rixas que são resolvidas quase por milagre.
As cenas de ação tem técnicas e tecnologia para empolgar o público, mas há algumas piadas que se perdem no vazio e cenas exageradas. O que podemos dizer, por exemplo, do refrão "Vai, popozuda" na largada de uma corrida de carros? Ou uma corrida de carros com viaturas policiais? Ou o cofre e a perseguição final que destrói a cidade inteira? Vão aos ares postes, orelhões, árvores e até uma agência bancária inteira. Isso sem falar de carros, muros, meio fio. Mesmo assim é eletrizante, principalmente na cena da ponte (Rio/Niterói?). A cena inicial do trem também é boa, assim como as corridas nas ruas. Mas, a disputa na favela é tão gratuita que não consegue se salvar nem a ação.
Para não dizer que não achei nada interessante, tem um determinado momento que o empresário Hernan Reis, vivido por Joaquim de Almeida, explica o seu método de ação nas favelas que imita o que os portugueses fizeram com os índios ao chegar ao Brasil. Em sua explicação, enquanto os espanhóis tentaram com guerra, nossos colonizadores utilizaram de escambo, conquistando a confiança dos nativos. Ele dá coisas à população em troca de votos, apoio, etc. Nada mais do que a boa e velha política de pão e circo. Mas, a analogia com os portugueses abriu uma certa reflexão em relação a nossa atitude política neste país. Tirando isso, sobra apenas algumas manobras de ação.
Entendo perfeitamente a lógica de filme de gênero. O objetivo de entreter, a falta de preocupação com a razão, reflexão ou mesmo inovação. Mas, tem limites. O primeiro filme da franquia é uma prova de que ação não precisa ser gratuita, pode ter uma linha mínima de coerência. Velozes e Furiosos 5 é daqueles que não nos acrescentam nada. Mas, vai ter sempre alguém que ache que cumpriu o seu papel. Principalmente, de grandes bilheterias.
Ah, tem uma cena durante os créditos (após a animação e antes dos créditos tradicionais) que tem uma construção mais instigante que todo o roteiro de Chris Morgan para o filme inteiro.
Velozes e Furiosos 5, Operação Rio (Fast Five: 2011 /EUA)
Direção: Justin Lin
Roteiro: Chris Morgan
Com: Paul Walker, Vin Diesel, Jordana Brewster, Tyrese Gibson.
Duração: 130 min
Estamos no Rio de Janeiro, quer dizer, os personagens dizem que estão e imagens aéreas nos são mostradas para localizar a cidade. Ao mesmo tempo a geografia nos dá um nó ao ver um trem em pleno deserto, que tem uma estrada abandonada que dá acesso à favela. Depois, temos personagens com sotaque espanhol e dublagens mal feitas. Tem ainda carros ingleses, com a direção do lado direito, transportes clandestinos e gangues de civis armados nas ruas. Afinal, eles não estão nos Estados Unidos "Isto aqui é Brasil", grita Vin Diesel em determinado momento. Tudo bem, é filme. Então, temos que relevar também a história de que todo policial é corruptível e que o chefe do FBI só confia na garota que perdeu o noivo por ter outra motivação. Ou mesmo aceitar sua entrada na favela como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
O que incomoda mesmo é, pensando como americano, o sentido daquilo tudo. Três foragidos da polícia vão ao Brasil para se esconder, lá se envolvem com um grupo de assaltantes, mas acabam virando alvo deles, da polícia brasileira e americana. Claro, que a americana é determinada a cumprir a lei, a brasileira só quer proteger o empresário corrupto que é seu chefe. Em meio a toda essa lei torta, os heróis são os bandidos e o policial do FBI quase um ciborgue a ser detonado, não apenas em sua composição física quanto na interpretação de Dwayne "The Rock" Johnson. Aliás, interpretação é um problema sério no filme. Todas as tentativas de emoções soam falsas. Isso sem contar com alguns clichês básicos como ânsia de vômito para indicar gravidez ou rixas que são resolvidas quase por milagre.
As cenas de ação tem técnicas e tecnologia para empolgar o público, mas há algumas piadas que se perdem no vazio e cenas exageradas. O que podemos dizer, por exemplo, do refrão "Vai, popozuda" na largada de uma corrida de carros? Ou uma corrida de carros com viaturas policiais? Ou o cofre e a perseguição final que destrói a cidade inteira? Vão aos ares postes, orelhões, árvores e até uma agência bancária inteira. Isso sem falar de carros, muros, meio fio. Mesmo assim é eletrizante, principalmente na cena da ponte (Rio/Niterói?). A cena inicial do trem também é boa, assim como as corridas nas ruas. Mas, a disputa na favela é tão gratuita que não consegue se salvar nem a ação.
Para não dizer que não achei nada interessante, tem um determinado momento que o empresário Hernan Reis, vivido por Joaquim de Almeida, explica o seu método de ação nas favelas que imita o que os portugueses fizeram com os índios ao chegar ao Brasil. Em sua explicação, enquanto os espanhóis tentaram com guerra, nossos colonizadores utilizaram de escambo, conquistando a confiança dos nativos. Ele dá coisas à população em troca de votos, apoio, etc. Nada mais do que a boa e velha política de pão e circo. Mas, a analogia com os portugueses abriu uma certa reflexão em relação a nossa atitude política neste país. Tirando isso, sobra apenas algumas manobras de ação.
Entendo perfeitamente a lógica de filme de gênero. O objetivo de entreter, a falta de preocupação com a razão, reflexão ou mesmo inovação. Mas, tem limites. O primeiro filme da franquia é uma prova de que ação não precisa ser gratuita, pode ter uma linha mínima de coerência. Velozes e Furiosos 5 é daqueles que não nos acrescentam nada. Mas, vai ter sempre alguém que ache que cumpriu o seu papel. Principalmente, de grandes bilheterias.
Ah, tem uma cena durante os créditos (após a animação e antes dos créditos tradicionais) que tem uma construção mais instigante que todo o roteiro de Chris Morgan para o filme inteiro.
Velozes e Furiosos 5, Operação Rio (Fast Five: 2011 /EUA)
Direção: Justin Lin
Roteiro: Chris Morgan
Com: Paul Walker, Vin Diesel, Jordana Brewster, Tyrese Gibson.
Duração: 130 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Velozes e Furiosos 5, Operação Rio
2011-05-22T11:30:00-03:00
Amanda Aouad
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