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Batatinha, poeta do samba
Batatinha, poeta do samba
O Festival In-Edit deu hoje um presente a Salvador. Com a presença do diretor Marcelo Rabelo, foi exibido o filme Batatinha, poeta do samba. Oscar da Penha, nome de batismo do sambista é a cara da cidade escondida dos turistas, esquecida no tempo, perdida para sua própria população. Poucos são os que conhecem Batatinha, autor de 150 músicas que só gravou um único disco solo em toda sua vida. Sua família, composta por nove filhos, pouco vê de seus direitos autorais, perdidos em uma política complicada de excluídos.
O documentário é uma homenagem digna, conduzida pelos filhos do sambista que conversam com amigos, colegas e vizinhos do pai. O clima é intimista, de interação e diálogo franco. Não há a presença de pessoas famosas ou especialistas. E não poderia. Como disse o diretor após a sessão, seria uma afronta a um artista que morreu cheio de mágoas pelo não reconhecimento. Nada foi fácil em sua vida.
Batatinha, poeta do samba começa com uma aérea da Praia da Preguiça, local onde ele morou, com sua voz em over se apresentando. Temos então uma mistura de conversas, imagens de arquivo e fotos diversas. Mas, a linha condutora do roteiro é mesmo esse resgate dos filhos encontrando cada pessoa importante na vida do pai. E desses encontros saem coisas memoráveis como a entrevista com Ederaldo Gentil, recluso há anos, que nem mesmo olha para tela. Denise, sua irmã, lê uma carta que este escreveu e o sambista fica de costas o tempo todo. Temos também Riachão e Guiga de Ogum, mas é através dos rostos desconhecidos que vêm a verdadeira história.
Entre as imagens de arquivo, vemos Batatinha no programa da TV Cultura falando que foi o pioneiro a trazer a capoeira para o samba e não Baden Powell como ficou conhecido. São falhas de nossa história pouco registrada que fazem de um artista como esse um quase desconhecido. É com tristeza que um dos entrevistados fala o quanto lhe magoa encontrar um baiano que não conheça a obra de Batatinha.
O clima é nostálgico, apesar de repleto de música. O samba de Batatinha nunca foi de letras alegres, amenas. Essa tristeza, esse desabafo sempre casou muito bem com o batuque animado. Não por acaso outros poetas celebraram essa tristeza como Vinícius de Morais em Samba da Benção ou Caetano e Gil em Desde que o samba é samba. É emocionante, por exemplo, ver um dos depoentes falar de sua identificação com a música O circo, pois ele realmente não tinha dinheiro para entrar e ficava do lado de fora da lona. Ao mesmo tempo os versos "todo mundo vai ao circo, menos eu, como pagar ingresso se eu não tenho nada? Fico de fora escutando a gargalhada" são cantados com tanta alegria e entusiamo que gera a magnífica incongruência citada "cantando eu mando a tristeza embora".
A falta de Edil Pacheco, um dos fundamentais para o samba baiano é sentida, mas foi justificada por Marcelo Rabelo, sendo uma recusa do próprio sambista. Esta foi apenas uma dos obstáculos da produção que enfrentou dificuldades de acesso a material de arquivo e teve que recorrer a gravações ao vivo dos filhos para não pagar direitos autorais a gravadoras. Acabou ficando melhor, tornando o documentário mais rico e emocionante do que se tivesse seguido um padrão clássico que vemos em muitas obras, com entrevistas formais, imagens de arquivos e canções extra-diegéticas.
Batatinha, poeta do samba é um filme obrigatório para resgate da história cultural baiana e brasileira. Uma homenagem digna a um poeta do samba que merece ser lembrado, cantado e comemorado. Já passou por alguns festivais, tendo ganho quatro prêmios e foi passado para DVD pelo próprio diretor em 2009, com uma tiragem de mil cópias. Quem não teve a oportunidade de assistir no Festival, pode encontrar ainda na loja Pérola Negra e no Bar Toalha da Saudade, nos Aflitos. O bar é de propriedade dos filhos de Batatinha que querem tornar o espaço um memorial. Tomara que consigam e que muitos ainda possam conhecer um acervo tão rico.
Batatinha, poeta do samba (Batatinha, poeta do samba: 2008 / Brasil)
Direção: Marcelo Rabelo
Roteiro: Marcelo Rabelo
Duração: 62 min.
O documentário é uma homenagem digna, conduzida pelos filhos do sambista que conversam com amigos, colegas e vizinhos do pai. O clima é intimista, de interação e diálogo franco. Não há a presença de pessoas famosas ou especialistas. E não poderia. Como disse o diretor após a sessão, seria uma afronta a um artista que morreu cheio de mágoas pelo não reconhecimento. Nada foi fácil em sua vida.
Batatinha, poeta do samba começa com uma aérea da Praia da Preguiça, local onde ele morou, com sua voz em over se apresentando. Temos então uma mistura de conversas, imagens de arquivo e fotos diversas. Mas, a linha condutora do roteiro é mesmo esse resgate dos filhos encontrando cada pessoa importante na vida do pai. E desses encontros saem coisas memoráveis como a entrevista com Ederaldo Gentil, recluso há anos, que nem mesmo olha para tela. Denise, sua irmã, lê uma carta que este escreveu e o sambista fica de costas o tempo todo. Temos também Riachão e Guiga de Ogum, mas é através dos rostos desconhecidos que vêm a verdadeira história.
Entre as imagens de arquivo, vemos Batatinha no programa da TV Cultura falando que foi o pioneiro a trazer a capoeira para o samba e não Baden Powell como ficou conhecido. São falhas de nossa história pouco registrada que fazem de um artista como esse um quase desconhecido. É com tristeza que um dos entrevistados fala o quanto lhe magoa encontrar um baiano que não conheça a obra de Batatinha.
O clima é nostálgico, apesar de repleto de música. O samba de Batatinha nunca foi de letras alegres, amenas. Essa tristeza, esse desabafo sempre casou muito bem com o batuque animado. Não por acaso outros poetas celebraram essa tristeza como Vinícius de Morais em Samba da Benção ou Caetano e Gil em Desde que o samba é samba. É emocionante, por exemplo, ver um dos depoentes falar de sua identificação com a música O circo, pois ele realmente não tinha dinheiro para entrar e ficava do lado de fora da lona. Ao mesmo tempo os versos "todo mundo vai ao circo, menos eu, como pagar ingresso se eu não tenho nada? Fico de fora escutando a gargalhada" são cantados com tanta alegria e entusiamo que gera a magnífica incongruência citada "cantando eu mando a tristeza embora".
A falta de Edil Pacheco, um dos fundamentais para o samba baiano é sentida, mas foi justificada por Marcelo Rabelo, sendo uma recusa do próprio sambista. Esta foi apenas uma dos obstáculos da produção que enfrentou dificuldades de acesso a material de arquivo e teve que recorrer a gravações ao vivo dos filhos para não pagar direitos autorais a gravadoras. Acabou ficando melhor, tornando o documentário mais rico e emocionante do que se tivesse seguido um padrão clássico que vemos em muitas obras, com entrevistas formais, imagens de arquivos e canções extra-diegéticas.
Batatinha, poeta do samba é um filme obrigatório para resgate da história cultural baiana e brasileira. Uma homenagem digna a um poeta do samba que merece ser lembrado, cantado e comemorado. Já passou por alguns festivais, tendo ganho quatro prêmios e foi passado para DVD pelo próprio diretor em 2009, com uma tiragem de mil cópias. Quem não teve a oportunidade de assistir no Festival, pode encontrar ainda na loja Pérola Negra e no Bar Toalha da Saudade, nos Aflitos. O bar é de propriedade dos filhos de Batatinha que querem tornar o espaço um memorial. Tomara que consigam e que muitos ainda possam conhecer um acervo tão rico.
Batatinha, poeta do samba (Batatinha, poeta do samba: 2008 / Brasil)
Direção: Marcelo Rabelo
Roteiro: Marcelo Rabelo
Duração: 62 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Batatinha, poeta do samba
2011-06-07T08:32:00-03:00
Amanda Aouad
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