O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco : CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo

CinePipocaCult : blog de cinema

recentes

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr FrancoA equipe de O Palhaço, segundo filme de Selton Mello como diretor, primeiro em que ele também atua, está na estrada tal qual o Circo Esperança. Quinta-feira estiveram em Salvador, Selton Mello, Moacyr Franco, e parte da produção do filme para coletiva de imprensa e pré-estreia para convidados, encantando a todos com o trabalho apresentado.

O Palhaço é uma história sobre vocação, como definiu Selton Mello, que além de protagonista e diretor, assina também o roteiro do filme junto a Marcelo Vindicatto. Ambientá-lo no circo foi para deixá-lo mais plástico para o cinema. Benjamim é um palhaço em crise, faz os outros rirem, mas não consegue achar graça de nada em sua vida. Ao lado do pai, Valdemar, interpretado pelo sempre excelente Paulo José, ele forma a dupla Pangaré e Puro Sangue, e comandam o Circo Esperança pelo interior de Minas Gerais. Mas, ele vai ter que fazer sua própria jornada de auto-conhecimento para seguir em frente.

Na pré-estreia que aconteceu a noite, no Shopping Paralela, Selton disse que espera que o filme chegue ao coração de todos. Sempre simpático, Selton Mello atendeu a todos, ao lado de Moacyr Franco, que tem uma participação mais que especial como o delegado Justo que lhe deu o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia. Uma grande festa com direito a belo coquetel ao final da sessão. E durante a tarde, os dois receberam a imprensa em um animado bate-papo, vejam como foi:

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco
Como surgiu a idéia de fazer “O Palhaço”?
Selton Mello: Foi vontade de falar de vocação, das escolhas que a gente faz na vida, o peso e a beleza do nosso destino, falar disso. Então, através dos olhos de um palhaço, pode falar de uma coisa que é absolutamente humana e que é caro pra todo mundo. Eu fico imaginando um médico que é de uma família de médicos. Talvez ele passe por algum momento da vida que ele fala ‘o que é que eu tô fazendo aqui? Será que eu tô seguindo isso aqui só porque meu avô também foi médico? Será que isso aqui é a minha mesmo?’ Até ele descobrir que ele realmente é. Então é um pouco de vontade de falar disso.

Qual a sua relação com o circo?
SM: Eu sou mineiro, de uma cidade do interior chamada Passos, homenageada no filme, mas fui criado em São Paulo. Meu pai era bancário em São Paulo, então eu vivia entre o interior de Minas e a cidade grande. Fui muito ao circo na infância, tanto em Minas quanto em São Paulo, mas nunca tive uma relação tão profunda com o circo. Eu nunca fiz aula de clown, por exemplo. Na verdade quando veio a idéia de fazer o filme era um desejo de falar desse sentimento. E, como eu disse antes, poderia ser um filme todo passado num hospital, a mesmíssima história. Ou um advogado, filho de advogado. Eu achei que se eu colocasse esse dilema na pele de um palhaço seria mais cinematográfico. Aí sim eu aprofundei no universo circense, li tudo sobre, me aprofundei no tema. Foi um ano de pesquisa, eu tive o apoio de uma pessoa chamada Alessandra Brantes que é uma ex-artista de circo que trabalha com a política de circo, ela é muito próxima dos artistas, e me apresentou esse universo, me apresentou as pessoas. Ela trouxe o Palhaço Kuxixo, que hoje em dia se apresenta no circo do Beto Carreiro e é um dos melhores palhaços em atividade. Ele veio pro filme, ensaiou todas as cenas, minhas e do Paulo (José), me ajudou na coreografia.

Esse filme marca a sua segunda vez dirigindo um longa. Você nota algum amadurecimento, alguma diferença de lá pra cá?
SM: Sem dúvida. Eu acho que o melhor aprendizado é praticando, quanto mais você faz uma coisa a tendência é que você melhore. Tudo bem, você pode piorar também com a prática (risos), mas a tendência é que você vá melhorando. O que eu sinto de diferente do primeiro pro segundo é uma calma maior. O primeiro tem assim um desespero de fazer um filme, de querer contar uma história, enquanto no segundo você está mais pleno, sabe mais o que quer, já sabe como aquilo funciona, então as coisas se dão de uma forma mais amena assim. Acho que essa é a maior diferença, uma calma maior.

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr FrancoEm “Feliz Natal” você não atuou. Então, como é dirigir a si mesmo?
SM: Eu ouso dizer que é mais fácil. Porque, como eu escrevi esse roteiro, eu sabia exatamente como eu queria esse personagem, como eu queria que ele se comportasse na tela. Se fosse um outro ator fazendo eu teria que dirigir esse ator pra ele chegar naquilo que eu já sabia como eu queria. Eu simplesmente botava a roupa e fazia, não tinha nenhum psicologismo, não precisava de meia hora pra entrar no personagem, não precisava de nada disso, botava a roupa e fazia. Então, eu estava muito ligado na direção. Uma curiosidade, eu cogitei não fazer esse personagem e ofereci pro Wagner (Moura) e pro (Rodrigo) Santoro, dei o roteiro na mão dos dois. Convidei o Wagner primeiro. “Wagner, acho que isso aqui você vai se identificar porque é artista. Artista, em algum momento da vida, passa pelo que o Benjamim passa.” Ele se emocionou muito,  adoraria fazer um palhaço, só que na mesma data ele teria que fazer “Tropa de Elite 2”. Aí ele falou, "faça você mesmo, você escreveu isso aí, vai saber fazer melhor que eu". Aí eu dei na mão do Santoro, ele adorou também, se encantou com o personagem, mas tinha um filme pra fazer fora do país. E ele disse: "faça". Então eu falei, é pra eu fazer mesmo. Aí eu fiz.

Quais as suas influências como diretor? Aqui eu percebo algo de Fellini, um certo lirismo.
SM: Quando você vai fazer um filme de circo, é inevitável a comparação com Fellini que imortalizou isso de uma maneira mais bela que já teve. Mas, têm outros também. A diferença de um segundo filme é que você se sente mais livre para contar a história desapegado das referências. Então, não fiquei vendo muitos filmes para fazer O Palhaço. Mas, evidente que tem outras referências como Ettore Scola, que poucos identificam. Tem minha memória afetiva da infância, da época áurea dos Trapalhões. Estou falando do início dos anos 80, filmes muito bem produzidos. Tem também (Charles) Chaplin, Jacques Tati e outras coisas. Mas, principalmente tem um jeito meu de olhar aquela história.

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco
E o elenco? Tem uma mistura, tem Paulo José e atores mais novos como a Giselle Motta, as participações especiais como o Moacyr, que é uma participação, mas é fundamental. Como foi escolhê-los?
SM: Era um roteiro com muitos personagens e a minha vontade era exatamente fazer essa mistura de novatos com veteranos. E eu tenho esse interesse, que já fica claro desde “Feliz Natal” que eu trago a Darlene Glória, que estava há muito tempo afastada, o Paulo Guarnieri que não atuava também há muito tempo. Eu acho que é muito cruel o mercado. O mercado tem uma ânsia muito grande de lançar gente, mas e as pessoas incríveis que não são chamadas também? Eu também tenho muito interesse nisso, então acaba que fica uma bela mistura. E a trupe do circo, tem de tudo ali. A Teuda Bara, que é do Grupo Galpão, por exemplo. Aí tem atores absolutamente virgens, o Álamo Facó que já é um ator de teatro. (nesse momento Moacyr Franco chega à coletiva) O Moacyr Franco. Eu assistia o programa dele na infância, era um grande fã. E quando surgiu nesse roteiro o personagem do Delegado, que é um monólogo, imediatamente eu pensei no Moacyr: "Ele pode dar uma credibilidade, com um humor e verdade a esse personagem". E aí eu fui atrás, procurei o Guto, filho dele, foi ele quem fez a ponte entre a gente, e o Moacyr me deu a alegria de topar essa aventura. O filme estreou em Paulínia e o Moacyr já ganhou um prêmio de cara, de melhor ator coadjuvante, fazendo uma cena. É raro isso. Então, só mostrou o acerto que foi o nosso encontro.

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco
Moacyr, você teve alguma inspiração para fazer o Delegado Justo?
Moacyr Franco: Não, eu tive direção. O meu filho Guto é um excelente diretor. E nós fizemos o seriado “Ô... Coitado!”, depois fizemos “Meu Cunhado”, com o Golias, e o Guto insistia muito nesse tipo de comportamento de ator. E o Selton foi muito gentil comigo. Nós passamos uma noite na caçamba de um caminhão escutando música e ele conversando comigo sobre como ele achava que tinha que ser, mas me deixando muito livre. Aí eu fiz a primeira vez, ele achou que tava muito bom. Pronto.

Como foi fazer esse filme para você?
MF: Esse filme me comoveu desde o primeiro momento que tive contato com a produção, que eu fui encontrando os atores, o pessoal da direção de arte. Esse filme tem uma comunhão. Eu não faço cinema, mas é difícil, pelo menos em televisão nunca vi isso, uma comunhão tão grande entre todos. E o roteiro é espetacular, as piadas são inéditas, são engraçadas.

A impressão que eu tenho na divulgação do filme é que tem um muito obrigado de todos pelo que você fez e representa para o cinema nacional, faz sentido?
SM: Sim, faz sentido. E isso tem se estendido para o público. Em todos os lugares que ele foi exibido causou encantamento, a impressão é que o público está assim: "obrigado, porque tiro, violência já tá dando". Nós somos muita coisa. O país é enorme, nós temos outros temas também para explorar.
MF: É tão importante isso, que até na situação em que o personagem do Selton teria que dizer um palavrão, ele olha e as pessoas riem. Os filmes que a gente têm visto por aí cheios de palavrões, ninguém ri. E o filme têm isso, as pessoas riem entendendo o que ele quer dizer, isso é arte.

O Palhaço vem aí: entrevista com Selton Mello e Moacyr Franco
O Benjamim questiona no filme: “Eu faço todo mundo rir, mas quem vai me fazer rir?” Então, quem faz vocês rirem?
SM: Bom, o Moacyr me faz rir. Mas acho que no conceito do filme, a grande questão é: Quem faz você rir? Você mesmo! Você, com seus botões. Você que tem que resolver suas questões. Alguém de fora pode ajudar, mas se você não quiser, não tem como.
MF: Eu convivi 40 anos com o Golias, eu não conheci nada na minha vida como o Golias. Ele nasceu personagem, e me fazia rir demais.


Agradecimentos a João Veríssimo do Salada Cultural pelas fotos. Todas as fotos você pode ver no Facebook.

CinePipocaCult :: bom cinema independente de estilo Designed by Templateism.com Copyright © 2014

Tecnologia do Blogger.