Hayao Miyazaki é um gênio dos
animes, mas nem só dele vive a filmografia do
Japão. Destaco hoje um filme de
Isao Takahata, que é um primor da animação japonesa, lançado em 1988:
Túmulo dos Vagalumes, baseado no livro semi-autobiográfico de Akiyuki Nosaka, que perdera a irmã por desnutrição. Daqueles
filmes que emocionam desde o início pela simbologia, pela construção do roteiro e pela beleza da amizade entre
dois irmãos.
![Túmulo dos Vagalumes](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbeoS3J0afyf3B0lGR5cs-nMghveOwtUWZT6MQUG6S2i8SDQ6EcjwOcdkMZiqS2VGPVFkZcy-NLUH6bTlW1d1E9auZdm6huGwMk1MsFy8ItmVqIU8_c9fNxeG8URc6wDX45t4ku42nbqzv/s320/tumulo-dos-vagalumes-01.jpg)
Seita e Setsuko são dois irmãos que ficam orfãos durante a
Segunda Grande Guerra Mundial, e vão passar por várias dificuldades até encontrar a inevitável morte diante da fome e dificuldade de viver na rua. Calma, não estou contando exatamente um
spoiler, já que o filme começa com
Seita dizendo que morreu em 1945 e logo depois o vemos como mendigo perdendo a vida. É aí que seu espírito encontra o de sua irmãzinha
Setsuko e vamos conhecer a história dos dois que vão em uma espécie de jornada de avaliação do passado. E só isso, já gera grandes momentos.
A construção em paralelo dos dois espíritos acompanhando
Seita até a casa de sua tia, por exemplo é muito bem feita. Emocionante a forma como os dois observam o
Seita ainda vivo carregando a caixa de cinzas da mãe. Ou quando
Setsuko viva chora desesperada na casa da tia e o
Seita em espírito não suporta ver o sofrimento da irmã. É impressionante como os japoneses sabem mostrar o sofrimento de uma forma poética, com cores e tons leves, contrastando com a dor que o roteiro expressa.
![Túmulo dos Vagalumes](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtYNe-CWMeHHkbIfE-d4OlTCFOaYRZM0B_w8Y3Y7uCKDAxobE1tVkfZdh9De-9TO_AyZjadQFEy9A1EhnKBYCYi6YQ_wR7oHkqd2O1cEB_mKZqxKOQcEnzVVatccdJfJKQAOjjC0vn9IqQ/s320/grave_of_fireflies.jpg)
A fotografia criada para a
animação chama a atenção, o céu quase sempre avermelhado indicando o sangue da guerra, contrastando com a grama verde ou o mar azul, por exemplo, dá sempre um equilíbrio de dor e esperança que segue os irmãos. O enquadramento da cena em que a mãe está a beira da morte, mas
Setsuko ainda não sabe e chora querendo vê-la, tendo
Seita ao fundo fazendo exercícios para distrair sua atenção é outro exemplo de cuidado com narrativa e imagem. Assim, como a forma como Seita carrega Setsuko, sempre com sua capinha, demonstrando o carinho e ao mesmo tempo o fardo que é a
garotinha para ele. Além de os detalhes na casa da tia que passa a desprezá-los, ou os vizinhos que tentam lhes dar conselhos.
![Túmulo dos Vagalumes](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjlI6RXXQJiX-l6N0nJsjtIRdRghKOdn6FKE9vrbapSmtsgDc8QmdOBU5Rqp2OXNm_sbS3kI1rzbZxF5zW6Xj6r84W9UX0-CrTJJTPWGEXqCWFKvEUGGNLRiUbFrzheWm1gaEof44XWopH/s320/tumulo-dos-vagalumes-poster.jpg)
A relação de Seita e Setsuko cresce a cada dia, um só tem o outro na vida. E diante de tantos horrores da
guerra, da carência de comida, do sumiço do pai, eles se bastam. Ou pelo menos, pensam se bastar. O mundo particular que criam no abrigo é belo e assustador ao mesmo tempo. Seja pela falta de higiene, pela comida escassa, ou pelas dificuldades de proteção. Ao mesmo tempo, a cena em que
Seita coloca os
vagalumes dentro da tenda de mosquitos para que
Setsuko não tenha medo do escuro, é uma das coisas mais belas já vistas. Seja pela simbologia ou pelo visual produzido.
Túmulo dos Vagalumes é daqueles filmes delicados, tristes, é verdade, mas de uma poesia imensa. Uma forma lúdica de demonstrar os horrores da
guerra e as consequências disso para
duas crianças que tinham sonhos pela frente. E uma forma de mostrar que
animação, mesmo que feita com crianças, nem sempre possui um tema infantil. Vinte anos depois, foi feito um filme
live action com a mesma história,
Cemitério dos Vagalumes, mas sem o mesmo encanto. Ainda assim, ambos são belos
filmes que merecem destaque.
Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no haka: 1988 / Japão)
Direção: Isao Takahata
Roteiro: Isao Takahata
Com: Tsutomu Tatsumi, Ayano Shiraishi e Akemi Yamaguchi (vozes)
Duração: 90 min.