Grandes Cenas: Negócio Arriscado
Continuando a homenagem ao Dia do Rock que foi nessa sexta-feira, vamos relembrar aqui uma cena que ficou emblemática no cinema. Pode não ser a melhor cena de todos os tempos, nem mesmo de um grande filme. Vocês podem até alegar que existem milhares de outros filmes que representam o rock, seus ídolos, seus mitos, sim já falamos um pouco disso. Mas, há aqui uma atitude Rock'n Roll no personagem de Tom Cruise que me fez relembrar essa cena que já foi alvo até de paródia nas séries Alf - O Eteimoso, South Park e inúmeros clipes. Isso sem falar da escolha da música: Old Time Rock'n Roll.
Primeiro filme de Paul Brickman, Negócio Arriscado conta a história do garoto Joel, de apenas 17 anos, que ao se ver sozinho em casa ultrapassa todas as regras do bom comportamento. Sua maior travessura: transformar sua casa em um bordel. Como cafetão e dono do estabelecimento, ele recebe 50% de tudo que a call-girl vivida por Rebecca De Mornay ganha. Mas, claro que isso não pode dar em boa coisa...
Um filme divertido que fez sucesso na época. A interpretação de Tom Cruise foi reconhecida até com uma indicação ao Globo de Ouro. Mas, nada é mais lembrado nesse filme do que a cena em que o ator dubla e dança a música Old Time Rock'n Roll, vestido apenas de cueca, camisa social e meias brancas.
Esta cena é um ícone que expõe perfeitamente este paradoxo que é o garoto Joel, um adolescente comum, certinho até, mas que começa a quebrar barreiras, exacerbar a rebeldia. É quase um rito de passagem, uma auto-afirmação ainda ingênua. Os detalhes constroem muito bem esse personagem e o que ele traz em sua essência. Analisemos aqui os principais pontos: atitude, visual e trilha sonora.
A cena começa com um plano detalhe que é um símbolo dessa dualidade. Joel está começando a fazer sua refeição. Um copo vazio, uma garrafa de uísque sendo despejada em uma dose cavalar. E não é qualquer uísque, é um Chivas Regal. Porém, logo depois vem o resquício de um adolescente típico. Ele completa a dose com uma lata de Coca-cola, certamente um crime para qualquer bebedor do malte. Corta para um plano aberto e o garoto está sentado à mesa, com seu uísque com Coca-cola, uma vela acesa e uma comida congelada. Como está sentado, vemos apenas que está com uma camisa social rosa. A comida congelada é impossível de comer com talheres, mas Joel não se importa e come como se fosse um picolé.
Logo depois vemos detalhes dele ligando o som e um plano da entrada da sala, com a escada ao fundo. Quando a música começa a tocar, ele surge, com a mesma camisa rosa, só que embaixo só tem uma cueca branca e um par de meias. Em seu visual vemos mais uma vez a dualidade do menino travesso, rebelde, com o garoto certinho que já foi. A entrada triunfal, deslizando de costas e depois virando para começara a dublar a música com um candelabro na mão, virou ícone de uma geração.
E a música escolhida: Old Time Rock'n Roll. Ou seja, o garoto Joel antigo certinho, que começa a se rebelar marca seu rito de passagem com uma música que reafirma o antigo. A geração Rock´n Roll que não foi a sua, e sim de seus pais. A letra de Bob Seger, criada em 1978, nega o boom da "dance music" e discotecas que marcaram os anos 80. A escolha não poderia ser mesmo considerada aleatória. Joel seria uma espécie de rebelde "à moda antiga".
Tom Cruise faz, então, sua performance desajeitada sendo acompanhado pela câmera em vários ângulos. Paul Brickman pega detalhes de seu corpo dançando, de frente e de costas, planos gerais dele em cima da mesa de centro, ou no sófa. Além de plongées e câmeras altas dando ainda mais dinamismo à dança e a música. O espectador tem, então, uma sensação de rebeldia, de quebras de tabus, mas ao mesmo tempo de uma fantasia infantil. Afinal, é um garoto que ficou sozinho em casa e está fingindo ser um astro do rock com o som alto, de cuecas e meias em sua sala. Uma curtição.
E a cena ainda termina com um olhar externo, da fachada da casa, com a janela fechada por uma cortina, mas com a silhueta do Tom Cruise pulando e dando uma cambalhota. É como se Paul Brickman quisesse que, depois de partilhar da intimidade do momento de transformação do garoto, a gente pudesse afastar o olhar e visse a cena de fora. O que nos faz afastar também emocionalmente do personagem e não levar aquilo tão a sério.
Veja a cena:
Primeiro filme de Paul Brickman, Negócio Arriscado conta a história do garoto Joel, de apenas 17 anos, que ao se ver sozinho em casa ultrapassa todas as regras do bom comportamento. Sua maior travessura: transformar sua casa em um bordel. Como cafetão e dono do estabelecimento, ele recebe 50% de tudo que a call-girl vivida por Rebecca De Mornay ganha. Mas, claro que isso não pode dar em boa coisa...
Um filme divertido que fez sucesso na época. A interpretação de Tom Cruise foi reconhecida até com uma indicação ao Globo de Ouro. Mas, nada é mais lembrado nesse filme do que a cena em que o ator dubla e dança a música Old Time Rock'n Roll, vestido apenas de cueca, camisa social e meias brancas.
Esta cena é um ícone que expõe perfeitamente este paradoxo que é o garoto Joel, um adolescente comum, certinho até, mas que começa a quebrar barreiras, exacerbar a rebeldia. É quase um rito de passagem, uma auto-afirmação ainda ingênua. Os detalhes constroem muito bem esse personagem e o que ele traz em sua essência. Analisemos aqui os principais pontos: atitude, visual e trilha sonora.
A cena começa com um plano detalhe que é um símbolo dessa dualidade. Joel está começando a fazer sua refeição. Um copo vazio, uma garrafa de uísque sendo despejada em uma dose cavalar. E não é qualquer uísque, é um Chivas Regal. Porém, logo depois vem o resquício de um adolescente típico. Ele completa a dose com uma lata de Coca-cola, certamente um crime para qualquer bebedor do malte. Corta para um plano aberto e o garoto está sentado à mesa, com seu uísque com Coca-cola, uma vela acesa e uma comida congelada. Como está sentado, vemos apenas que está com uma camisa social rosa. A comida congelada é impossível de comer com talheres, mas Joel não se importa e come como se fosse um picolé.
Logo depois vemos detalhes dele ligando o som e um plano da entrada da sala, com a escada ao fundo. Quando a música começa a tocar, ele surge, com a mesma camisa rosa, só que embaixo só tem uma cueca branca e um par de meias. Em seu visual vemos mais uma vez a dualidade do menino travesso, rebelde, com o garoto certinho que já foi. A entrada triunfal, deslizando de costas e depois virando para começara a dublar a música com um candelabro na mão, virou ícone de uma geração.
E a música escolhida: Old Time Rock'n Roll. Ou seja, o garoto Joel antigo certinho, que começa a se rebelar marca seu rito de passagem com uma música que reafirma o antigo. A geração Rock´n Roll que não foi a sua, e sim de seus pais. A letra de Bob Seger, criada em 1978, nega o boom da "dance music" e discotecas que marcaram os anos 80. A escolha não poderia ser mesmo considerada aleatória. Joel seria uma espécie de rebelde "à moda antiga".
Tom Cruise faz, então, sua performance desajeitada sendo acompanhado pela câmera em vários ângulos. Paul Brickman pega detalhes de seu corpo dançando, de frente e de costas, planos gerais dele em cima da mesa de centro, ou no sófa. Além de plongées e câmeras altas dando ainda mais dinamismo à dança e a música. O espectador tem, então, uma sensação de rebeldia, de quebras de tabus, mas ao mesmo tempo de uma fantasia infantil. Afinal, é um garoto que ficou sozinho em casa e está fingindo ser um astro do rock com o som alto, de cuecas e meias em sua sala. Uma curtição.
E a cena ainda termina com um olhar externo, da fachada da casa, com a janela fechada por uma cortina, mas com a silhueta do Tom Cruise pulando e dando uma cambalhota. É como se Paul Brickman quisesse que, depois de partilhar da intimidade do momento de transformação do garoto, a gente pudesse afastar o olhar e visse a cena de fora. O que nos faz afastar também emocionalmente do personagem e não levar aquilo tão a sério.
Veja a cena:
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Negócio Arriscado
2012-07-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
grandes cenas|rock|Tom Cruise|
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