
Primeiro filme de Paul Brickman, Negócio Arriscado conta a história do garoto Joel, de apenas 17 anos, que ao se ver sozinho em casa ultrapassa todas as regras do bom comportamento. Sua maior travessura: transformar sua casa em um bordel. Como cafetão e dono do estabelecimento, ele recebe 50% de tudo que a call-girl vivida por Rebecca De Mornay ganha. Mas, claro que isso não pode dar em boa coisa...

Esta cena é um ícone que expõe perfeitamente este paradoxo que é o garoto Joel, um adolescente comum, certinho até, mas que começa a quebrar barreiras, exacerbar a rebeldia. É quase um rito de passagem, uma auto-afirmação ainda ingênua. Os detalhes constroem muito bem esse personagem e o que ele traz em sua essência. Analisemos aqui os principais pontos: atitude, visual e trilha sonora.
A cena começa com um plano detalhe que é um símbolo dessa dualidade. Joel está começando a fazer sua refeição. Um copo vazio, uma garrafa de uísque sendo despejada em uma dose cavalar. E não é qualquer uísque, é um Chivas Regal. Porém, logo depois vem o resquício de um adolescente típico. Ele completa a dose com uma lata de Coca-cola, certamente um crime para qualquer bebedor do malte. Corta para um plano aberto e o garoto está sentado à mesa, com seu uísque com Coca-cola, uma vela acesa e uma comida congelada. Como está sentado, vemos apenas que está com uma camisa social rosa. A comida congelada é impossível de comer com talheres, mas Joel não se importa e come como se fosse um picolé.

E a música escolhida: Old Time Rock'n Roll. Ou seja, o garoto Joel antigo certinho, que começa a se rebelar marca seu rito de passagem com uma música que reafirma o antigo. A geração Rock´n Roll que não foi a sua, e sim de seus pais. A letra de Bob Seger, criada em 1978, nega o boom da "dance music" e discotecas que marcaram os anos 80. A escolha não poderia ser mesmo considerada aleatória. Joel seria uma espécie de rebelde "à moda antiga".

E a cena ainda termina com um olhar externo, da fachada da casa, com a janela fechada por uma cortina, mas com a silhueta do Tom Cruise pulando e dando uma cambalhota. É como se Paul Brickman quisesse que, depois de partilhar da intimidade do momento de transformação do garoto, a gente pudesse afastar o olhar e visse a cena de fora. O que nos faz afastar também emocionalmente do personagem e não levar aquilo tão a sério.
Veja a cena: