Violeta foi para o Céu
Baseado no romance homônimo de seu filho, Ángel Parra, Violeta foi para o Céu conta a história da cantora, compositora e artista plástica chilena Violeta Parra. Contada de uma maneira não-linear, o filme foca a vida sofrida da artista e sua paixão pela cultura de sua terra natal que queria propagar para o mundo.
O roteiro é costurado pela entrevista que Parra deu à televisão chinela em 1962. E vai misturando imagens de sua infância em Ñuble, suas viagens pelo Chile, sua passagem pela Polônia e pela Europa, principalmente na França. Isso sem falar de todas as suas relações familiares. A dupla com a irmã, as decisões de mudança, a relação difícil com o primeiro marido, os filhos, o romance com o suíço Gilbert Favre. Mas, principalmente, mostra a sua luta para não se tornar uma artista medíocre.
Violeta queria cantar o seu povo para o mundo. Sua cultura, suas raízes. Comunista, tinha diversas músicas de protesto que buscavam acordar a população. Sua forma de se expressar sempre foi intuitiva, autodidata. Construiu sua carreira nesses alicerces, sempre se valorizando e valorizando o seu país, vide cenas no filme como o sucesso no festival na Polônia, a bronca dada no restaurante na França, ou sua chegada ao Louvre com sua tapeçaria recém feita, ou ainda quando se revolta pela forma como é tratada em uma festa em que é contratada para cantar.
O seu talento é inconteste, mas seu gênio também não era dos mais fáceis. E o interessante é que mesmo quando se auto-afirma, ela não soa arrogante, apenas amargurada. Porque se tem uma característica que o filme nos apresenta da artista é sua frustração na parte final da vida. Ela, que sempre quis ir além, nunca se acomodou ao mais fácil. "A vida não é uma festa", diz em determinado momento à sua irmã. Ou "canto para o meu povo", na entrevista na televisão.
Ao mesmo tempo, era uma mulher brincalhona, sempre com uma mania de pregar peças de desmaio. Fazia muita piada com situações diversas. Mas, a vida não foi fácil para ela, ainda que com todo aquele talento. Somos apresentados também a uma Violeta amargurada, irritadiça e até mesmo cruel em vários momentos da vida. Uma mulher que queria ser agradada, mas que, na verdade, só queria ser respeitada. E Francisca Gavilán consegue trazer todas essas nuanças de sua personalidade de uma forma muito fluida.
Pela escolha da não-linearidade, o filme ganha um ritmo interessante, com uma mistura de imagens de Violeta comendo uma fruta, olhos quase fechando, caminhos pelos campos no Chile e sua voz na televisão. A montagem se baseia muito em raccords de movimento e som. Em diversos momentos, os sons da próxima cena são antecipados, assim como vemos os passos no campo no Chile serem completados por passos nas ruas de Paris, por exemplo.
Mas, mesmo com a brincadeira de tempo, há também boas montagens em paralelo como ela cantando na Polônia, enquanto seus filhos estão no Chile. As duas músicas casam perfeitamente com as duas situações que nos são apresentadas, dando mais dramaticidade aos acontecimentos. A fotografia também é bem construída, dando a dimensão de cada momento da vida da artista. O frio da Polônia, o calor do Chile, a frieza de Paris, a paixão de sua tenda.
Violeta foi para o Céu é um filme muito bem construído sobre uma artista incrível. Mas, que não fica na zona de conforto de apenas recriar um mito. Mostra a mulher por trás da obra, suas dores, suas decisões, seus sonhos frustrados. Fica apenas a curiosidade de, com tantos sofrimentos, saber em que momento ela conseguiu criar a pérola Gracias a la vida.
Violeta foi para o céu (Violeta se Fue a Los Cielos, 2011 / Chile | Argentina | Brasil)
Direção: Andrés Wood
Roteiro: Eliseo Altunaga
Com: Francisca Gavilán, Thomas Durand e Christian Quevedo
Duração: 110 min.
O roteiro é costurado pela entrevista que Parra deu à televisão chinela em 1962. E vai misturando imagens de sua infância em Ñuble, suas viagens pelo Chile, sua passagem pela Polônia e pela Europa, principalmente na França. Isso sem falar de todas as suas relações familiares. A dupla com a irmã, as decisões de mudança, a relação difícil com o primeiro marido, os filhos, o romance com o suíço Gilbert Favre. Mas, principalmente, mostra a sua luta para não se tornar uma artista medíocre.
Violeta queria cantar o seu povo para o mundo. Sua cultura, suas raízes. Comunista, tinha diversas músicas de protesto que buscavam acordar a população. Sua forma de se expressar sempre foi intuitiva, autodidata. Construiu sua carreira nesses alicerces, sempre se valorizando e valorizando o seu país, vide cenas no filme como o sucesso no festival na Polônia, a bronca dada no restaurante na França, ou sua chegada ao Louvre com sua tapeçaria recém feita, ou ainda quando se revolta pela forma como é tratada em uma festa em que é contratada para cantar.
O seu talento é inconteste, mas seu gênio também não era dos mais fáceis. E o interessante é que mesmo quando se auto-afirma, ela não soa arrogante, apenas amargurada. Porque se tem uma característica que o filme nos apresenta da artista é sua frustração na parte final da vida. Ela, que sempre quis ir além, nunca se acomodou ao mais fácil. "A vida não é uma festa", diz em determinado momento à sua irmã. Ou "canto para o meu povo", na entrevista na televisão.
Ao mesmo tempo, era uma mulher brincalhona, sempre com uma mania de pregar peças de desmaio. Fazia muita piada com situações diversas. Mas, a vida não foi fácil para ela, ainda que com todo aquele talento. Somos apresentados também a uma Violeta amargurada, irritadiça e até mesmo cruel em vários momentos da vida. Uma mulher que queria ser agradada, mas que, na verdade, só queria ser respeitada. E Francisca Gavilán consegue trazer todas essas nuanças de sua personalidade de uma forma muito fluida.
Pela escolha da não-linearidade, o filme ganha um ritmo interessante, com uma mistura de imagens de Violeta comendo uma fruta, olhos quase fechando, caminhos pelos campos no Chile e sua voz na televisão. A montagem se baseia muito em raccords de movimento e som. Em diversos momentos, os sons da próxima cena são antecipados, assim como vemos os passos no campo no Chile serem completados por passos nas ruas de Paris, por exemplo.
Mas, mesmo com a brincadeira de tempo, há também boas montagens em paralelo como ela cantando na Polônia, enquanto seus filhos estão no Chile. As duas músicas casam perfeitamente com as duas situações que nos são apresentadas, dando mais dramaticidade aos acontecimentos. A fotografia também é bem construída, dando a dimensão de cada momento da vida da artista. O frio da Polônia, o calor do Chile, a frieza de Paris, a paixão de sua tenda.
Violeta foi para o Céu é um filme muito bem construído sobre uma artista incrível. Mas, que não fica na zona de conforto de apenas recriar um mito. Mostra a mulher por trás da obra, suas dores, suas decisões, seus sonhos frustrados. Fica apenas a curiosidade de, com tantos sofrimentos, saber em que momento ela conseguiu criar a pérola Gracias a la vida.
Violeta foi para o céu (Violeta se Fue a Los Cielos, 2011 / Chile | Argentina | Brasil)
Direção: Andrés Wood
Roteiro: Eliseo Altunaga
Com: Francisca Gavilán, Thomas Durand e Christian Quevedo
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Violeta foi para o Céu
2012-09-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Andrés Wood|cinema latino|critica|drama|Francisca Gavilán|
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