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As Sessões

As SessõesAs Sessões é um filme difícil de ser analisado. Parece aquelas coisas que você gosta e não sabe por quê. Não tem nada de especial que possa ser apontado como qualidade, assim como também não tem defeitos aparentes. É daqueles trabalhos que nos encanta.

Baseado em uma história real do poeta e jornalista Mark O'Brien, mostra a vida desse homem que respirava através de uma equipamento que chama de pulmão de aço, devido a poliomielite que teve na infância. Mais especificadamente, mostra um momento, digamos, crítico de sua existência, quando resolve que não quer morrer virgem. Com quase quarenta anos, ele nunca teve uma relação mais íntima com mulheres, nunca conseguiu nem mesmo se masturbar. É quando ele contrata a terapeuta sexual Cheryl, vivida por Helen Hunt.

As SessõesCheryl não é uma sexóloga, mas também não é uma prostituta, como gosta de afirmar. Uma mulher bem resolvida, casada e com filho, mas que tem como profissão fazer sexo com pessoas deficientes até que eles possam se desbloquear e encontrar outras parceiras. É importante lembrar que Mark não é um tetraplégico, seus músculos não funcionam, mas ele tem sensibilidade em todo corpo, inclusive ereção, e até ejaculação precoce. Cabe a Cheryl ir criando um vínculo e um ritmo para que o paciente possa lidar melhor com a situação.

E o diretor e roteirista Ben Lewin lida muito bem com tudo isso. De maneira delicada e sem tabus, ele constrói essa relação de uma forma que nos envolve e emociona. Tudo é feito com muito cuidado, não apenas as sessões em si, como todo o entorno. Principalmente a relação de Mark com sua fé, através do padre confessor e com suas assistentes. Temos uma gradação interessante de relação entre as três mulheres que trabalham para durante o filme Mark. A primeira que ele não suportava, a segunda pela qual se apaixona e a terceira que se torna uma amiga fiel e cúmplice da jornada com Cheryl.

As SessõesA religiosidade de Mark é outro ponto fundamental da existência do personagem e do filme. Sempre preocupado com o conceito de pecado e como deve guiar a sua vida, Mark divide com o padre interpretado por William H. Macy todos os seus medos e anseios. Até se deve demitir a primeira assistente ele pergunta ao confessor. Quando decide perder a virgindade, é a primeira pessoa a quem vai pedir conselhos e é interessante ver o jogo de papel da fé e amigo que o padre Brendan precisa fazer. Afinal, a Igreja diz que sexo só depois do casamento, senão é fornicação. Mas, ao mesmo tempo, ele vê a situação do homem à sua frente, com quase quarenta anos e sem perspectiva de algo próximo disso.

As SessõesA forma como Ben Lewin constrói a relação entre o padre Brendan e Mark é muito boa. Sempre com pausas, sem pressa, intercalando as conversas com imagens de Jesus e Maria pela Igreja ou no quarto de Mark. Tudo é muito bem cuidado e tenta ser feito de uma maneira leve, sem tanta pressão ou drama. Assim como as sessões com Helen Hunt. Apesar do estranhamento inicial, no medo e nervosismo do personagem, cada passo vai sendo dado de uma vez, com muito cuidado e carinho. Não por acaso, cria-se um vínculo entre eles. Mark nos parece mesmo um homem adorável. E nesse ponto, é preciso elogiar as atuações não apenas de Helen Hunt que concorre ao Oscar, mas do próprio John Hawkes que faz Mark e William H. Macy que faz o padre.

No final de As Sessões temos uma sensação de paz. Vimos uma história difícil de um homem que tinha pouco da vida. Mesmo assim, Mark O'Brien nunca se sentiu amaldiçoado, nem pediu para morrer. Talvez sua fé o confortasse, talvez a escrita fosse sua válvula de escape. O fato é que, diante das dificuldades da vida, ele tentou viver da melhor forma possível. E encontrou pessoas que o ajudaram nisso. Uma história bonita que nos encanta, apesar de não ter nada que possa ser apontado como excepcional.


As Sessões (The Sessions, 2012 / EUA)
Direção: Ben Lewin
Roteiro: Ben Lewin
Com: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood
Duração: 95 min.

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