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Segredos de Sangue
Segredos de Sangue
Quem conhece a obra de Chan-wook Park sabe o que esperar de um filme seu. Autor da trilogia da vingança, onde se destaca Oldboy, seu filme mais famoso, chegou ainda para nós através de Sede de Sangue, uma saga de vampiros bem diferente do que vemos normalmente. É bom ver que mesmo em uma obra de Hollywood, ele consegue manter seu traço autoral, em um filme onde direção e montagem são os destaques de uma trama perturbadora.
Segredos de Sangue destrinchado possui um roteiro bastante simples e até clichê. É possível falar até em estereótipos que são utilizados sem pudores aqui. Porém, o como isso é feito é que faz toda a diferença, até porque é um filme de despertar, mais do que de suspense ou de psicopatia. O foco são as descobertas de uma garota. Descobertas sobre a sua família, sobre a vida, a sexualidade e, claro, sobre si mesma e seus instintos.
Trata-se de uma menina, aparentemente comum, que acaba de perder o pai. No velório, ela descobre que tem um tio que nunca ouviu falar. Charles passa a morar na casa junto com ela e sua mãe neurótica. E em um jogo duplo de sedução e mistério, a relação dos três vai se complicando até que alguns segredos sejam revelados.
Chan-wook Park nos apresenta, então, um suspense psicológico cheio de metáforas, simbolismos e montagem construtivista, onde dois objetos em paralelo significam uma terceira coisa. A escolha dos planos também é extremamente cuidadosa nos fazendo sentir medo de um simples freezer, por exemplo, pela forma como a luz aparece, os flashes da sala são montados ou os pedaços apenas da atriz são mostrados. Aliás, este jogo de cortes mostra-ou-não-mostra é também um dos destaques do cartaz de divulgação com o tio e a mãe sendo mostrados apenas no reflexo do piano.
O piano, por sua vez, é outro objeto essencial à narrativa. Através dele, temos cenas de ameaça, de compreensão, de sedução, de tensão, de apaziguamento. Destaque para a cena de sedução que é uma das mais marcantes e importantes do filme. Chan-wook Park utiliza os sons de uma maneira bastante peculiar. Não apenas a música do piano, como o titilar do relógio, os passos na escada, o assobio displicente de Charles, o toque do telefone em diversos momentos-chaves. Ele utiliza muito raccord de som, com um som de uma cena invadindo a outra. E alguns raccords de movimento, com o movimento de uma cena complementando o da outra, tornando a montagem mais ágil e funcional.
Pois, é na montagem que temos mesmo os momentos mais geniais do filme. Como uma certa sequência de sapatos em uma caixa que nos contam uma história e que nos revelam aos poucos um certo fascínio que é o ponto-chave da trama. Ou quando todos os personagens estão assistindo a um documentário sobre predadores na televisão, enquanto determinados acontecimentos são desencadeados. Ou ainda na cena inicial, em que pausas, como fotografias, nos apresentam a personagem.
Mia Wasikowska consegue nos convencer da personalidade dessa estranha menina chamada India. Uma garota reclusa que tinha como hobby sair com o pai para caçar, que é ridiculariza na escola, que não sabe como lidar com uma mãe como a sua, que teme, se irrita e ao mesmo tempo se sente fascinada por esse estranho tio. Já Nicole Kidman consegue trazer uma intensidade para o sofrimento e emoções de sua personagem, principalmente na parte final. Porém, parece mesmo que falta algo para torná-la mais crível. Talvez sua dubiedade volátil em relação aos sentimentos pelo marido e a filha, a atrapalhem. Já Matthew Goode passa um auto-controle necessário para o seu personagem.
Segredos de Sangue é daqueles filmes que impressionam por sua técnica, mais do que por sua história. Ainda que a história simples pelo viés que é contato e, principalmente, por seu desfecho ser também um atrativo. Daqueles filmes que nos impactam e ficam um tempo em nossa mente sendo digerido. É bom ver que mesmo em Hollywood, Chan-wook Park conseguiu manter seu estilo peculiar.
Segredos de Sangue (Stoker, 2013 / EUA)
Direção: Chan-wook Park
Roteiro: Wentworth Miller, Erin Cressida Wilson
Com: Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode, Alden Ehrenreich, Phyllis Somerville e Jacki Weaver
Duração: 99 min.
Segredos de Sangue destrinchado possui um roteiro bastante simples e até clichê. É possível falar até em estereótipos que são utilizados sem pudores aqui. Porém, o como isso é feito é que faz toda a diferença, até porque é um filme de despertar, mais do que de suspense ou de psicopatia. O foco são as descobertas de uma garota. Descobertas sobre a sua família, sobre a vida, a sexualidade e, claro, sobre si mesma e seus instintos.
Trata-se de uma menina, aparentemente comum, que acaba de perder o pai. No velório, ela descobre que tem um tio que nunca ouviu falar. Charles passa a morar na casa junto com ela e sua mãe neurótica. E em um jogo duplo de sedução e mistério, a relação dos três vai se complicando até que alguns segredos sejam revelados.
Chan-wook Park nos apresenta, então, um suspense psicológico cheio de metáforas, simbolismos e montagem construtivista, onde dois objetos em paralelo significam uma terceira coisa. A escolha dos planos também é extremamente cuidadosa nos fazendo sentir medo de um simples freezer, por exemplo, pela forma como a luz aparece, os flashes da sala são montados ou os pedaços apenas da atriz são mostrados. Aliás, este jogo de cortes mostra-ou-não-mostra é também um dos destaques do cartaz de divulgação com o tio e a mãe sendo mostrados apenas no reflexo do piano.
O piano, por sua vez, é outro objeto essencial à narrativa. Através dele, temos cenas de ameaça, de compreensão, de sedução, de tensão, de apaziguamento. Destaque para a cena de sedução que é uma das mais marcantes e importantes do filme. Chan-wook Park utiliza os sons de uma maneira bastante peculiar. Não apenas a música do piano, como o titilar do relógio, os passos na escada, o assobio displicente de Charles, o toque do telefone em diversos momentos-chaves. Ele utiliza muito raccord de som, com um som de uma cena invadindo a outra. E alguns raccords de movimento, com o movimento de uma cena complementando o da outra, tornando a montagem mais ágil e funcional.
Pois, é na montagem que temos mesmo os momentos mais geniais do filme. Como uma certa sequência de sapatos em uma caixa que nos contam uma história e que nos revelam aos poucos um certo fascínio que é o ponto-chave da trama. Ou quando todos os personagens estão assistindo a um documentário sobre predadores na televisão, enquanto determinados acontecimentos são desencadeados. Ou ainda na cena inicial, em que pausas, como fotografias, nos apresentam a personagem.
Mia Wasikowska consegue nos convencer da personalidade dessa estranha menina chamada India. Uma garota reclusa que tinha como hobby sair com o pai para caçar, que é ridiculariza na escola, que não sabe como lidar com uma mãe como a sua, que teme, se irrita e ao mesmo tempo se sente fascinada por esse estranho tio. Já Nicole Kidman consegue trazer uma intensidade para o sofrimento e emoções de sua personagem, principalmente na parte final. Porém, parece mesmo que falta algo para torná-la mais crível. Talvez sua dubiedade volátil em relação aos sentimentos pelo marido e a filha, a atrapalhem. Já Matthew Goode passa um auto-controle necessário para o seu personagem.
Segredos de Sangue é daqueles filmes que impressionam por sua técnica, mais do que por sua história. Ainda que a história simples pelo viés que é contato e, principalmente, por seu desfecho ser também um atrativo. Daqueles filmes que nos impactam e ficam um tempo em nossa mente sendo digerido. É bom ver que mesmo em Hollywood, Chan-wook Park conseguiu manter seu estilo peculiar.
Segredos de Sangue (Stoker, 2013 / EUA)
Direção: Chan-wook Park
Roteiro: Wentworth Miller, Erin Cressida Wilson
Com: Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode, Alden Ehrenreich, Phyllis Somerville e Jacki Weaver
Duração: 99 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Segredos de Sangue
2013-06-17T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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