Gran Torino
É interessante que este filme dirigido e protagonizado por Clint Eastwood, se chame Gran Torino. Não poderia mesmo ter um nome melhor, tanto que a distribuição brasileira não ousou uma versão.
Gran Torino é mais do que um carro na garagem do velho Walt Kowalski. É mais do que a relíquia que o jovem Thao é obrigado a roubar por uma gangue. É um símbolo de um tempo que não existe mais e, ao mesmo tempo, a aproximação de dois mundos tão díspares.
Walt Kowalski é um ex-combatente de guerra, rabugento, traumatizado e preconceituoso. Após a morte da esposa, sem muita aproximação com a família, sofre tentativas de ir para um asilo, mas resiste. Passa os dias em sua varanda tomando cerveja, conversando com sua cadela Daisy ou fazendo pequenos serviços pela vizinhança. O problema é que parte da vizinhança é composta por hmongs, etnia do Sudeste Asiático.
Entre os hmongs estão Thao e sua irmã Sue que vão se aproximando de Walt de uma maneira torta, por causa da tentativa de roubo, mas aos poucos vai sendo construída uma amizade verdadeira. Uma verdadeira quebra de barreiras de preconceitos e estereótipos em que um aprende a compreender e respeitar o outro.
Clint Eastwood tem uma capacidade imensa de construir bons melodramas sem exagerar na dose de emoção. Gran Torino vai nos envolvendo de uma maneira bastante particular. Não criamos facilmente uma empatia com os protagonistas. Vamos simpatizando com eles aos poucos, da mesma maneira que os dois lados que, à princípio vêem apenas o superficial, descobrem o que está por trás daquelas máscaras.
A fotografia do filme sempre lavada, sem ressaltar as cores, ajuda na composição daquele mundo cru, sem muitas fantasias onde os personagens estão inseridos. Não há glamour, nem heroísmo na vida daquelas pessoas. Ainda que Walt em determinado momento se torne um herói para os hmongs com direito a oferendas diárias em sua porta. Mas, a velha avó de Sue e Thao está ali para nos lembrar que ele traz má sorte. Uma referência ao fato da etnia ter sido expulsa de sua região por ter lutado ao lado dos americanos na Guerra do Vietnã.
Tem ainda a simbologia de ser um filme de crepúsculo de uma vida. Um homem que já foi um herói, se tornou um velho rabugento e depois novamente um herói, só que agora de um povo que ele despreza, não mais do seu "povo" norte-americano. E que traz uma certa referência à vida do próprio Eastwood, ator-símbolo dos western spaghetti que se redescobriu como diretor cinematográfico. O gesto do personagem atirando com o dedo nos seus desafetos, carrega muita simbologia.
De qualquer maneira, Gran Torino é uma bela história de resistência e redescoberta do outro. Da construção do respeito e dos laços mais indestrutíveis de amizade. Aquela que surge de quem menos se espera, mas se une e se fortalece pelos traços em comum que nem se imaginava ter.
Tudo isso coroado com a bela canção Gran Torino, cantada nos créditos pelo próprio Clint Eastwood.
Gran Torino (Gran Torino, 2008 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk, Dave Johannson
Com: Clint Eastwood, Bee Vang, Christopher Carley
Duração: 116 min.
Gran Torino é mais do que um carro na garagem do velho Walt Kowalski. É mais do que a relíquia que o jovem Thao é obrigado a roubar por uma gangue. É um símbolo de um tempo que não existe mais e, ao mesmo tempo, a aproximação de dois mundos tão díspares.
Walt Kowalski é um ex-combatente de guerra, rabugento, traumatizado e preconceituoso. Após a morte da esposa, sem muita aproximação com a família, sofre tentativas de ir para um asilo, mas resiste. Passa os dias em sua varanda tomando cerveja, conversando com sua cadela Daisy ou fazendo pequenos serviços pela vizinhança. O problema é que parte da vizinhança é composta por hmongs, etnia do Sudeste Asiático.
Entre os hmongs estão Thao e sua irmã Sue que vão se aproximando de Walt de uma maneira torta, por causa da tentativa de roubo, mas aos poucos vai sendo construída uma amizade verdadeira. Uma verdadeira quebra de barreiras de preconceitos e estereótipos em que um aprende a compreender e respeitar o outro.
Clint Eastwood tem uma capacidade imensa de construir bons melodramas sem exagerar na dose de emoção. Gran Torino vai nos envolvendo de uma maneira bastante particular. Não criamos facilmente uma empatia com os protagonistas. Vamos simpatizando com eles aos poucos, da mesma maneira que os dois lados que, à princípio vêem apenas o superficial, descobrem o que está por trás daquelas máscaras.
A fotografia do filme sempre lavada, sem ressaltar as cores, ajuda na composição daquele mundo cru, sem muitas fantasias onde os personagens estão inseridos. Não há glamour, nem heroísmo na vida daquelas pessoas. Ainda que Walt em determinado momento se torne um herói para os hmongs com direito a oferendas diárias em sua porta. Mas, a velha avó de Sue e Thao está ali para nos lembrar que ele traz má sorte. Uma referência ao fato da etnia ter sido expulsa de sua região por ter lutado ao lado dos americanos na Guerra do Vietnã.
Tem ainda a simbologia de ser um filme de crepúsculo de uma vida. Um homem que já foi um herói, se tornou um velho rabugento e depois novamente um herói, só que agora de um povo que ele despreza, não mais do seu "povo" norte-americano. E que traz uma certa referência à vida do próprio Eastwood, ator-símbolo dos western spaghetti que se redescobriu como diretor cinematográfico. O gesto do personagem atirando com o dedo nos seus desafetos, carrega muita simbologia.
De qualquer maneira, Gran Torino é uma bela história de resistência e redescoberta do outro. Da construção do respeito e dos laços mais indestrutíveis de amizade. Aquela que surge de quem menos se espera, mas se une e se fortalece pelos traços em comum que nem se imaginava ter.
Tudo isso coroado com a bela canção Gran Torino, cantada nos créditos pelo próprio Clint Eastwood.
Gran Torino (Gran Torino, 2008 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk, Dave Johannson
Com: Clint Eastwood, Bee Vang, Christopher Carley
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Gran Torino
2013-09-11T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
Clint Eastwood|critica|drama|
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