47 Ronins
Baseado em uma lenda do Japão, o filme de Carl Rinsch nos dá um vislumbre daquilo que é tão caro ao povo japonês, mas em uma miscelânea de história e honra com magia e mistérios que fica boba e didática ao extremo.
Na verdade, a história começa com um jogo político delicado que envolve traição e feitiçaria, culminando com a morte do Lord Assano através do harakiri (ritual suicida). Seus Samurais, agora sem mestre, se tornam Ronins e são banidos do feudo onde viviam e proibidos de se vingar pelo governante local. Assim, eles vagam pelo Japão enquanto planejam a vingança do seu senhor, contando com a ajuda fundamental do mestiço Kai (Keanu Reeves) que fora criado por Lord Assano e é apaixonado por sua filha.
Toda essa trama traz em sua essência a lealdade, capacidade de sacrifício, persistência e honra do povo japonês. Algumas delas são até difíceis de serem compreendidas por mentes ocidentais, como a felicidade de ter a honra de morrer em um ritual suicida. Tudo é construído de uma maneira rígida, quase irracional, mas que forma os alicerces de uma cultura milenar. Não por acaso, esta história inspira jovens ainda hoje.
O problema é que, apesar de nos dar essas nuanças, o filme de Carl Rinsch também não nos inspira. A história é exposta sem alma, sem nos envolver completamente. Primeiro, apesar de Keanu Reeves ser o nome mais forte do cartaz, acredito que o protagonista seja Ôishi, interpretado por Hiroyuki Sanada e não Kai.
Kai é um mestiço. Encontrado ainda criança no lago, não é morto pelos Samurais porque Lord Assano não vê nele o demônio que os seus servos vêem. Mas, ele cresce segregado, nas sombras, com grande capacidade de lutar, porém, sempre proibido de se mostrar. Os homens consideram que ele seja mau agouro e também se divertem machucando-o, humilhando-o. Quando seu Lord morre, ele é vendido como escravo.
Porém, é em Ôishi que está marcada a grande jornada mítica da trama. É ele quem carrega a responsabilidade da missão. Chefe dos Samurais, líder de um grupo sem dono, ele sofre em um buraco, preso até que tem a oportunidade de reunir novamente o seu povo para a tão sonhada vingança. Sem ela, seu senhor não descansará em paz. É nele que tudo se recaí. Ele é quem mais aprende em sua jornada, modificando o seu ser, até mesmo ao aceitar Kai ao seu lado, tornando-se seu braço direito na missão.
Protagonistas à parte, o que mais incomoda nesta versão americana dos 47 Ronins é o texto extremamente didático e repetitivo. Nem vou entrar no mérito de todos falarem inglês, mesmo quando escreve em japonês, sendo Keanu Reeves e alguns figurantes os únicos americanos. Faz parte da estrutura de Hollywood, não vale a pena reclamar, ainda que a interpretação dos atores japoneses em muitos momentos fique comprometida, parecendo que estão ditando palavras decoradas.
Mas, a todo momentos somos lembrados de detalhes explicativos. Os diálogos parecem os animes mais infantis onde o outro personagem sempre repete a fala do anterior antes de acrescentar seu raciocínio. Muita coisa é dita e redita, perdendo o ritmo. E a parte final se torna quase tola, com algumas atitudes que nos fazem temer por um final ainda pior. Acaba sendo um alívio o que vemos.
Temos também um desnecessário alívio cômico com um ronin gordinho que até em um momento-chave de sua vida, tem uma piada sendo feita com ele. Antes, ele é visto na água, seminu criando situações constrangedoras, assim como uma cena desnecessária de uma piada com sua espada. É como se dissesse, um filme precisa ter um personagem engraçado e gordo é engraçado. Lamentável.
De qualquer maneira, 47 Ronins não é uma bomba como muitos já estavam desconfiados devido à demora de estreia, com diversas remarcações de lançamento. É apenas um filme tolo de uma história incrível, que nossa vã filosofia ocidental ainda está longe de compreender.
47 Ronins (47 Ronin, 2013 / EUA)
Direção: Carl Rinsch
Roteiro: Chris Morgan e Hossein Amini
Com: Keanu Reeves, Hiroyuki Sanada, Ko Shibasaki
Duração: 118 min.
Na verdade, a história começa com um jogo político delicado que envolve traição e feitiçaria, culminando com a morte do Lord Assano através do harakiri (ritual suicida). Seus Samurais, agora sem mestre, se tornam Ronins e são banidos do feudo onde viviam e proibidos de se vingar pelo governante local. Assim, eles vagam pelo Japão enquanto planejam a vingança do seu senhor, contando com a ajuda fundamental do mestiço Kai (Keanu Reeves) que fora criado por Lord Assano e é apaixonado por sua filha.
Toda essa trama traz em sua essência a lealdade, capacidade de sacrifício, persistência e honra do povo japonês. Algumas delas são até difíceis de serem compreendidas por mentes ocidentais, como a felicidade de ter a honra de morrer em um ritual suicida. Tudo é construído de uma maneira rígida, quase irracional, mas que forma os alicerces de uma cultura milenar. Não por acaso, esta história inspira jovens ainda hoje.
O problema é que, apesar de nos dar essas nuanças, o filme de Carl Rinsch também não nos inspira. A história é exposta sem alma, sem nos envolver completamente. Primeiro, apesar de Keanu Reeves ser o nome mais forte do cartaz, acredito que o protagonista seja Ôishi, interpretado por Hiroyuki Sanada e não Kai.
Kai é um mestiço. Encontrado ainda criança no lago, não é morto pelos Samurais porque Lord Assano não vê nele o demônio que os seus servos vêem. Mas, ele cresce segregado, nas sombras, com grande capacidade de lutar, porém, sempre proibido de se mostrar. Os homens consideram que ele seja mau agouro e também se divertem machucando-o, humilhando-o. Quando seu Lord morre, ele é vendido como escravo.
Porém, é em Ôishi que está marcada a grande jornada mítica da trama. É ele quem carrega a responsabilidade da missão. Chefe dos Samurais, líder de um grupo sem dono, ele sofre em um buraco, preso até que tem a oportunidade de reunir novamente o seu povo para a tão sonhada vingança. Sem ela, seu senhor não descansará em paz. É nele que tudo se recaí. Ele é quem mais aprende em sua jornada, modificando o seu ser, até mesmo ao aceitar Kai ao seu lado, tornando-se seu braço direito na missão.
Protagonistas à parte, o que mais incomoda nesta versão americana dos 47 Ronins é o texto extremamente didático e repetitivo. Nem vou entrar no mérito de todos falarem inglês, mesmo quando escreve em japonês, sendo Keanu Reeves e alguns figurantes os únicos americanos. Faz parte da estrutura de Hollywood, não vale a pena reclamar, ainda que a interpretação dos atores japoneses em muitos momentos fique comprometida, parecendo que estão ditando palavras decoradas.
Mas, a todo momentos somos lembrados de detalhes explicativos. Os diálogos parecem os animes mais infantis onde o outro personagem sempre repete a fala do anterior antes de acrescentar seu raciocínio. Muita coisa é dita e redita, perdendo o ritmo. E a parte final se torna quase tola, com algumas atitudes que nos fazem temer por um final ainda pior. Acaba sendo um alívio o que vemos.
Temos também um desnecessário alívio cômico com um ronin gordinho que até em um momento-chave de sua vida, tem uma piada sendo feita com ele. Antes, ele é visto na água, seminu criando situações constrangedoras, assim como uma cena desnecessária de uma piada com sua espada. É como se dissesse, um filme precisa ter um personagem engraçado e gordo é engraçado. Lamentável.
De qualquer maneira, 47 Ronins não é uma bomba como muitos já estavam desconfiados devido à demora de estreia, com diversas remarcações de lançamento. É apenas um filme tolo de uma história incrível, que nossa vã filosofia ocidental ainda está longe de compreender.
47 Ronins (47 Ronin, 2013 / EUA)
Direção: Carl Rinsch
Roteiro: Chris Morgan e Hossein Amini
Com: Keanu Reeves, Hiroyuki Sanada, Ko Shibasaki
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
47 Ronins
2014-01-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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