
Neste ponto, recordo de outro filme brasileiro: Jean Charles. A escolha narrativa de Ryan Coogler é exatamente a mesma de Henrique Goldman e Marcelo Starobinas. E faz algum eco também com o filme de Bruno Barreto que dirigiu a ficção baseada no Ônibus 174. Ou seja, todos eles procuram nos mostrar a pessoa por trás da tragédia. Porém, enquanto Barreto nos mostrava o lado bom e mau de Sandro. Jean Charles e Oscar, o protagonista de Fruitvale Station, são quase endeusados.

Não que seja errado mostrar quem foi Oscar. E, sem dúvidas, ele deve ter sido um cara legal. Mas, o filme parece pesar as tintas para suas qualidades, escondendo os defeitos. Uma forma de manipular nossas emoções para fiquemos completamente colados a ele e nos sintamos também atingidos pelo que está por vir. Mas, não precisava exagerar na dose da emoção. Tem até filha tendo uma espécie de premonição.

Já o tom de Octavia Spencer como a mãe de Oscar, incomoda. Em nenhum momento, ela nos passa esse sentimento da forma como deveria. Sempre com um olhar blasé e uma expressão de irritação por estar ali em cada cena, seja na cadeia, em casa ou no hospital. Só tem um momento que ela se desarma e nos passa um sentimento verdadeiro, mas é pouco para uma atriz que já tem um Oscar nas costas e um papel que tinha tudo para mostrar a que veio. Os demais atores cumprem seus papéis.

No final, Fruitvale Station: A Última Parada é um filme denúncia. Ryan Coogler, em seu trabalho de estreia quer expor uma situação desumana para que todos tenham conhecimento, se revoltem e também lutem por justiça. Ele faz a cartilha direitinho começando com um detalhe que aguça nossa curiosidade, apresentando o personagem, nos fazendo gostar dele, para só então mostrar o acontecido. Filme feito quase sob encomenda de manuais de roteiro. Pena que caia em algumas armadilhas na hora de utilizar o melodrama para dar o tom da história.
Fruitvale Station: A Última Parada (Fruitvale Station, 2013 / EUA)
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Com: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer
Duração: 85 min.