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Amor Bandido

Amor BandidoExtremamente simbólico, o terceiro filme de Jeff Nichols (O Abrigo) é também uma espécie de rito de passagem que nos mostra a descoberta e decepção do amor, ao mesmo tempo que nos ensina o valor da amizade em uma espécie de construção cíclica.

Ellis é um garoto que adora sua vida simples, mas que a vê se desequilibrar aos poucos. Seus pais estão prestes a se separar e com isso, a casa onde vivem será tomada pelo governo. Em meio a isso, ele e seu amigo Neckbone encontram em uma ilha no rio Mississippi um homem escondido em um barco que está em cima de uma árvore. Este homem misterioso guarda uma arma e diversos segredos que levarão Ellis a escolhas e experiências que ele não pensava.

Amor BandidoÉ interessante a forma como Ellis se identifica com Mud e vice-versa, mesmo que aparentem ser tão diferentes. Ou, no mínimo, não conhecerem nada um do outro. Jeff Nichols nos dá vários reforços durante a narrativa, com direito a repetições de situações marcantes, é verdade. Mas, desde o princípio dá para perceber a identificação entre ambos, como espelho mais velho dos sonhos e desejos, inclusive da disponibilidade ao amor.

O amor é outro ponto importante na trama, já que as escolhas erradas que levaram Mud a se complicar na vida é devido ao amor pela jovem de sua infância. Mais ou menos à mesma época e local onde Ellis hoje se apaixona por uma menina mais velha que também pode decepcioná-lo e levá-lo a caminhos errados. Por isso, a escolha infeliz do título brasileiro, que se torna pobre diante de toda a composição simbólica do roteiro sobre o amor.

Amor BandidoHá ainda um clima de Conta Comigo na trama, com amizade, segredos, perigos e descobertas que marcam a passagem da infância para a vida adulta. O clima de cumplicidade nos envolve e nos faz querer ser parte daquela história de alguma maneira. Os personagens nos parecem sinceros, criando uma empatia especial e nos fazendo torcer pelo seu sucesso.

Muito desse clima, é graças aos atores Matthew McConaughey e Tye Sheridan que possuem uma boa química e nos convencem dessa relação espelho e amizade latente. O cansaço que McConaughey nos demonstra do seu Mud, sofrido, já tendo passado por muita coisa na vida, contrasta com a ânsia de descobertas do Ellis de Tye Sheridan. Mas, ao mesmo tempo nos faz perceber o quão semelhantes eles são em sua essência.

Amor BandidoJeff Nichols nos conta tudo isso com muita habilidade, equilibrando as cenas na ilha, na beira do rio e na cidade, construindo uma bela obra que não perde o ritmo ainda que extremamente longa. A fotografia também ajuda, intercalando planos mais próximos dos personagens com as paisagens à margem do Mississippi.

Porém, mais do que realista, o filme nos traz essa dimensão simbólica. Não por acaso estamos sempre à beira do rio. A maleabilidade da água e as possibilidades de caminhos por vias fluviais nos dá também a dimensão dos caminhos dos personagens, que mesmo que aparentem estar presos tal qual o barco em cima da árvore, têm a possibilidade de escolhas.

Amor Bandido é uma história envolvente que nos fala de valores humanos e suas escolhas de uma maneira bonita. Daqueles filmes que nos fazem ficar pensando nele, mesmo após o término da sessão.


Amor Bandido (Mud, 2012 / EUA)
Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
Com: Matthew McConaughey, Tye Sheridan, Jacob Lofland, Reese Witherspoon
Duração: 130 min.

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