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Noé
Noé
Durante uma época, os filmes bíblicos sustentaram o sucesso de Hollywood. Filmes como Os Dez Mandamentos arremataram grandes bilheterias, mas, com o tempo, essas histórias foram ficando de lado nos projetos de grandes estúdios ainda que filmes com temática religiosa existam sempre.
Não deixa de ser instigante ver um diretor como Aronofsky encabeçando um projeto como Noé. Sua filmografia sempre trouxe questionamentos do homem com o divino, a exemplo de Fonte da Vida e Pi. Mas, foi no homem e sua constituição psicológica que ele centrou seu maior interesse. É curioso, então, ver a forma como ele se apropria do personagem bíblico de quem pouco é exposto no texto sagrado, buscando conflitos e embates para além do dilúvio.
O roteiro parte da Bíblia, mas traz também textos apócrifos e uma certa liberdade criativa para construir a visão de um Deus cansado da humanidade, homens que o traíram e anjos caídos que estão presos e arrependidos na Terra. Interessante perceber que durante todo o filme a palavra Deus não é citada, sendo sempre referido como O Criador. Neste detalhe podemos interpretar a vontade de Aronofsky em não falar exatamente de religião, mas de posições existenciais, o que não deixa de trazer uma dimensão a mais para aquela história.
Partindo do pecado original e os filhos de Adão e Eva, vamos encontrar Noé como o último da linhagem de Set, enquanto os filhos de Caim dominam o mundo. O sonho de Noé, nos avisa da ira do Criador que pretende exterminar o homem e salvar os puros em um grande dilúvio. Mas, dentro do seio familiar, os conflitos internos nos mostram que o homem não precisa, necessariamente, ser extinto. Noé, no entanto, não partilha dessa ideia, crendo ser sua missão apenas salvar os animais e ver os homens serem exterminados aos poucos.
Nessa certeza e nos desafios que surgiram no embate com os filhos Sen e Cam, é que a construção psicológica de Noé vai sendo explorada. Um homem visto como bom e justo que vai escalando em sua visão determinista dos fatos ao ponto de se tornar um fanático demente que põe sua própria família em risco. Mas, até que ponto o que ele pensa entender do Criador é o real sentido das coisas?
Ainda que pomposo, com uma dimensão grandiosa dos cenários, arca e dilúvio, Noé traz muito das sensações e marcas de Aronofsky. Até sua câmera posicionada atrás do personagem, que não chega a ser subjetiva, mas também não vê de fora, está lá, no momento chave do protagonista.
A estética traz elementos do psicodélico, principalmente nos sonhos e na narração da origem do mundo que Noé conta à sua família. Em muitos momentos, a câmera também nos da visões 360 girando em torno do cenário, construindo sensações diversas. Tudo isso, nos da muito de Aronofsky, além de construir uma linguagem mais dinâmica à história bíblica.
Porém, a progressão do personagem não nos parece tão convincente ao ponto de chegar ao desespero em que se encontra em alto mar, após descobrir o que seu avô, Matusalém, fez. Noé acaba sendo pouco explorado diante das premissas construídas, não por demérito do seu intérprete, Russell Crowe, mas pela própria economia narrativa que joga informações em vez de trabalhá-las. Da mesma forma que o vilão acaba sendo maniqueísta ao extremo não nos dando muitas opções de empatia entre o herói perdido e o vilão exagerado.
De qualquer maneira, Noé é um filme que impressiona. Não pela força de seu diretor, que já nos ofertou emoções muito mais autênticas e trabalhadas, nem pelo 3D que passa quase despercebido. Mas, pelo próprio formato épico, grandioso com um bom ritmo que nos remete ao passado ao mesmo tempo que atualiza a linguagem. No final, acaba sendo uma boa experiência fílmica.
Noé (Noah, 2014 / 2014)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky, Ari Handel
Com: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Emma Watson, Logan Lerman, Anthony Hopkins, Nick Nolte, Frank Langella
Duração: 138 min.
Não deixa de ser instigante ver um diretor como Aronofsky encabeçando um projeto como Noé. Sua filmografia sempre trouxe questionamentos do homem com o divino, a exemplo de Fonte da Vida e Pi. Mas, foi no homem e sua constituição psicológica que ele centrou seu maior interesse. É curioso, então, ver a forma como ele se apropria do personagem bíblico de quem pouco é exposto no texto sagrado, buscando conflitos e embates para além do dilúvio.
O roteiro parte da Bíblia, mas traz também textos apócrifos e uma certa liberdade criativa para construir a visão de um Deus cansado da humanidade, homens que o traíram e anjos caídos que estão presos e arrependidos na Terra. Interessante perceber que durante todo o filme a palavra Deus não é citada, sendo sempre referido como O Criador. Neste detalhe podemos interpretar a vontade de Aronofsky em não falar exatamente de religião, mas de posições existenciais, o que não deixa de trazer uma dimensão a mais para aquela história.
Partindo do pecado original e os filhos de Adão e Eva, vamos encontrar Noé como o último da linhagem de Set, enquanto os filhos de Caim dominam o mundo. O sonho de Noé, nos avisa da ira do Criador que pretende exterminar o homem e salvar os puros em um grande dilúvio. Mas, dentro do seio familiar, os conflitos internos nos mostram que o homem não precisa, necessariamente, ser extinto. Noé, no entanto, não partilha dessa ideia, crendo ser sua missão apenas salvar os animais e ver os homens serem exterminados aos poucos.
Nessa certeza e nos desafios que surgiram no embate com os filhos Sen e Cam, é que a construção psicológica de Noé vai sendo explorada. Um homem visto como bom e justo que vai escalando em sua visão determinista dos fatos ao ponto de se tornar um fanático demente que põe sua própria família em risco. Mas, até que ponto o que ele pensa entender do Criador é o real sentido das coisas?
Ainda que pomposo, com uma dimensão grandiosa dos cenários, arca e dilúvio, Noé traz muito das sensações e marcas de Aronofsky. Até sua câmera posicionada atrás do personagem, que não chega a ser subjetiva, mas também não vê de fora, está lá, no momento chave do protagonista.
A estética traz elementos do psicodélico, principalmente nos sonhos e na narração da origem do mundo que Noé conta à sua família. Em muitos momentos, a câmera também nos da visões 360 girando em torno do cenário, construindo sensações diversas. Tudo isso, nos da muito de Aronofsky, além de construir uma linguagem mais dinâmica à história bíblica.
Porém, a progressão do personagem não nos parece tão convincente ao ponto de chegar ao desespero em que se encontra em alto mar, após descobrir o que seu avô, Matusalém, fez. Noé acaba sendo pouco explorado diante das premissas construídas, não por demérito do seu intérprete, Russell Crowe, mas pela própria economia narrativa que joga informações em vez de trabalhá-las. Da mesma forma que o vilão acaba sendo maniqueísta ao extremo não nos dando muitas opções de empatia entre o herói perdido e o vilão exagerado.
De qualquer maneira, Noé é um filme que impressiona. Não pela força de seu diretor, que já nos ofertou emoções muito mais autênticas e trabalhadas, nem pelo 3D que passa quase despercebido. Mas, pelo próprio formato épico, grandioso com um bom ritmo que nos remete ao passado ao mesmo tempo que atualiza a linguagem. No final, acaba sendo uma boa experiência fílmica.
Noé (Noah, 2014 / 2014)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky, Ari Handel
Com: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Emma Watson, Logan Lerman, Anthony Hopkins, Nick Nolte, Frank Langella
Duração: 138 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Noé
2014-04-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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