
A ideia do CineClube é exatamente despertar essa paixão cinematográfica. "Queremos trabalhar o resgate dessa cinefilia que já foi tão forte em Salvador e que se perdeu. Fazer com que as pessoas se importem com o cinema, que curtam o cinema, que possam entender a diferença que é apreciar um filme em uma sala em condições especiais", explicou Cláudio em uma entrevista dada em 2013 aqui no site.
Após a exibição do filme, estava programado um debate com o crítico João Carlos Sampaio, que infelizmente foi chamado a outra esfera, onde, com certeza, tinha compromissos mais urgentes. Talvez esteja até ao lado de Kubrick, explicando o porquê de terem liberado a exibição do filme que este proibira após as críticas ferrenhas da época de lançamento.

O cinema é uma espécie de ícone da cidade, desde o tempo em que se chamava Cine Guarany. Inaugurado em 1919 como Cine-Theatro Kursaal-Baiano, no ano seguinte já tinha sido rebatizado, exibindo filmes vindos dos Estados Unidos e Europa. Instalado na Praça Castro Alves, que é do povo, abrigou também a época áurea do ciclo baiano de cinema. A estreia de Redenção, por exemplo, foi lá. Assim como tantos outros filmes que foram feitos na Bahia na década de 60.

Mas, o momento cinematográfico brasileiro na década de 80 não era bom, e o Cine Glauber Rocha (rebatizado em 1982) não durou muito tempo, fechando as portas em 1988 e ficando abandonado até sua reforma e relançamento em 2009. Foi uma grande notícia para o cinema baiano e para os cinéfilos que viram ali um porto importante.
E por isso, também, esse espaço que já foi Guarany e já foi Glauber Rocha, se transformou, e acertadamente, se manteve fiel às origens. O Espaço Itaú Glauber Rocha é um dos poucos cinemas de rua que ainda resiste na capital baiana. É comercial, também, claro, não dá para não ser em dias como esses. Suas quatro salas sempre equilibram blockbusters com filmes independentes. Mas, há um clima cinéfilo naquele local que não encontramos nos shoppings. Isso é gostoso de acompanhar. E ao mesmo tempo triste diante dos públicos cada vez menores e dos problemas cada vez maiores.

Por isso, também, o Cineclube Glauber Rocha chega em bom momento. Uma forma de reacender a cinefilia e o costume de ir ao cinema de rua. As sessões são especiais e o preço simbólico. R$ 1,00 a inteira, R$ 0,50 a meia. E Laranja Mecânica é apenas o primeiro de muitos outros grandes filmes da história que prometem povoar as noites baianas.