Grandes Cenas: Cantando na Chuva
Sempre busco cenas que marcaram a história do cinema para uma análise mais detalhada nesta sessão. Mas, nunca tinha trazido essa que é das mais icônicas de todos os tempos. Talvez, porque mais do que a linguagem cinematográfica, ela seja marcante pela música e pelo talento de Gene Kelly como cantor e dançarino. De qualquer maneira, é possível perceber o cuidado para nos passar tudo isso.
Cantando na Chuva é um filme de 1952, época de ouro do cinema, onde os musicais tinham seu lugar especial. O filme é um símbolo também por tratar de um tema tão caro ao próprio gênero, a chegada do som direto e as mudanças na indústria. Mas, ao contrário do recente O Artista, o filme é bastante leve e divertido, pendendo mais para a comédia que para o drama.
O filme foi dirigido pelo próprio Gene Kelly em parceira com Stanley Donen e podemos perceber que tudo é grandioso. As danças são muito bem marcadas e a mise-en-scéne extremamente bem orquestrada. A música é tão importante que o roteiro só foi escrito depois delas estarem todas definidas.
Na cena em questão, a música não apenas é parte importante como dá nome ao filme. Talvez seja uma boa metáfora da forma como o personagem Don Lockwood encarava a vida. Apenas seguindo, cantando e dançando na chuva. Ela acontece em um momento de virada, quando ele engata o romance com Kathy Selden e sua carreira está ótima, mesmo com as mudanças.
Ele se despede dela e vai caminhando pela rua, debaixo de uma chuva forte. Mesmo com capa e guarda-chuva, ele se diverte, canta e dança, comemorando o momento. Boa parte da cena é construída em plano inteiro ou plano conjunto, com um travelling acompanhando os passos do personagem. É interessante perceber também o cuidado da fotografia em sempre enquadrá-lo no centro da tela, dando força a sua imagem.
Ainda que o canto e os passos de dança sejam o que importam aqui, podemos perceber momentos memoráveis, que são construídos nos detalhes. Como quando ele sobre na base de um poste e abre os braços. O plano constrói uma harmonia simétrica que não por acaso se tornou uma das imagens símbolos da cena e do filme. Logo depois, ainda neste poste, ele já no chão, se abraça a ele e a câmera dá um zoom, deixando-o em close, para que possamos contemplar sua expressão de êxtase.
Outro momento marcante é quando ele abre os braços e olha para cima, chamando a chuva. É o momento da virada da música, onde podemos sentir a base, marcando no mesmo ritmo dos gestos do ator, criando uma rima visual interessante. Logo depois, vamos para a parte instrumental, em que Gene Kelly dá um show de sapateado.
Nesse momento, a música cresce, os planos ficam mais abertos, tudo parece mais grandioso. O ator está solto, brincando com o jato d´água, as poças, o meio fio. Por um momento vai também para a rua, e a câmera acompanha seu giro, deixando tudo ainda mais solto e envolvente.
É uma cena divertida, nos divertimos junto com Don, que parece uma criança feliz, sem regras, sem pudores. Livre como a chuva. A cena passa essa sensação gostosa. E a forma como finaliza, com o guarda chegando e censurando-o e ele mesmo envergonhado por ter sido "pego", dá de ombros e finaliza "just dancin' and singin' in the rain", demonstrando que seu espírito continua curtindo aquilo. A figura do guarda, mais do que a autoridade cortando o desfrute, é uma piada extra, onde a gente não perde o bom humor e termina sorrindo depois dessa bela catarse. Não por acaso, é uma das cenas mais citadas e adoradas.
Cantando na Chuva é um filme de 1952, época de ouro do cinema, onde os musicais tinham seu lugar especial. O filme é um símbolo também por tratar de um tema tão caro ao próprio gênero, a chegada do som direto e as mudanças na indústria. Mas, ao contrário do recente O Artista, o filme é bastante leve e divertido, pendendo mais para a comédia que para o drama.
O filme foi dirigido pelo próprio Gene Kelly em parceira com Stanley Donen e podemos perceber que tudo é grandioso. As danças são muito bem marcadas e a mise-en-scéne extremamente bem orquestrada. A música é tão importante que o roteiro só foi escrito depois delas estarem todas definidas.
Na cena em questão, a música não apenas é parte importante como dá nome ao filme. Talvez seja uma boa metáfora da forma como o personagem Don Lockwood encarava a vida. Apenas seguindo, cantando e dançando na chuva. Ela acontece em um momento de virada, quando ele engata o romance com Kathy Selden e sua carreira está ótima, mesmo com as mudanças.
Ele se despede dela e vai caminhando pela rua, debaixo de uma chuva forte. Mesmo com capa e guarda-chuva, ele se diverte, canta e dança, comemorando o momento. Boa parte da cena é construída em plano inteiro ou plano conjunto, com um travelling acompanhando os passos do personagem. É interessante perceber também o cuidado da fotografia em sempre enquadrá-lo no centro da tela, dando força a sua imagem.
Ainda que o canto e os passos de dança sejam o que importam aqui, podemos perceber momentos memoráveis, que são construídos nos detalhes. Como quando ele sobre na base de um poste e abre os braços. O plano constrói uma harmonia simétrica que não por acaso se tornou uma das imagens símbolos da cena e do filme. Logo depois, ainda neste poste, ele já no chão, se abraça a ele e a câmera dá um zoom, deixando-o em close, para que possamos contemplar sua expressão de êxtase.
Outro momento marcante é quando ele abre os braços e olha para cima, chamando a chuva. É o momento da virada da música, onde podemos sentir a base, marcando no mesmo ritmo dos gestos do ator, criando uma rima visual interessante. Logo depois, vamos para a parte instrumental, em que Gene Kelly dá um show de sapateado.
Nesse momento, a música cresce, os planos ficam mais abertos, tudo parece mais grandioso. O ator está solto, brincando com o jato d´água, as poças, o meio fio. Por um momento vai também para a rua, e a câmera acompanha seu giro, deixando tudo ainda mais solto e envolvente.
É uma cena divertida, nos divertimos junto com Don, que parece uma criança feliz, sem regras, sem pudores. Livre como a chuva. A cena passa essa sensação gostosa. E a forma como finaliza, com o guarda chegando e censurando-o e ele mesmo envergonhado por ter sido "pego", dá de ombros e finaliza "just dancin' and singin' in the rain", demonstrando que seu espírito continua curtindo aquilo. A figura do guarda, mais do que a autoridade cortando o desfrute, é uma piada extra, onde a gente não perde o bom humor e termina sorrindo depois dessa bela catarse. Não por acaso, é uma das cenas mais citadas e adoradas.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Cantando na Chuva
2014-06-07T12:55:00-03:00
Amanda Aouad
Gene Kelly|grandes cenas|musical|
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