Locke
Um carro, uma estrada para Londres, um telefone ligado por bluetooth no painel do carro, um ator e toda a vida de um personagem em nossa tela. Assim é Locke, um thriller intenso que apesar de ficar confinado a um único cenário, nos faz viajar com ele.
Ivan Locke é o típico homem bem sucedido. Feliz em seu casamento de quinze anos, com dois filhos que adora, admirado no trabalho, onde é considerado o melhor em sua área, mestre de obras que coordena demolições e construções, responsável. Mas, um dia, ele tem que ir à Londres, deixando a mulher e os filhos esperando em um divertido encontro familiar assistindo a um jogo de futebol, além de seu trabalho que tem uma entrega importante, a mais importante da companhia. Tudo isso, para consertar o único erro que cometeu em todo esse tempo.
Com mais ou menos meia hora de projeção, você vai entender qual foi o erro de Locke e toda a dimensão que isso ganha, principalmente pelo eco familiar. Locke não quer repetir o erro de seu pai, com o qual sofreu por toda a vida. Ele quer fazer o que é certo. Ele quer assumir seus deslizes e adoraria conseguir isso, mantendo o que já conquistou. Mas, ele lida com pessoas. Com sua mulher que não aceita o erro, com seu chefe que não confia em sua coordenação à distância.
De tudo a nada, ele vai em apenas noventa minutos, enquanto dirige freneticamente até a capital da Inglaterra. E é impressionante que, apesar de estarmos lá, no carro junto com ele, vamos viajando mentalmente por onde as conversas nos levam. Então, acompanhamos os filhos dele vibrando com o jogo na televisão, sua esposa no banheiro chorando, seu chefe desesperado em casa, seu funcionário nervoso no escritório, e, claro, Bethan e os médicos no hospital.
Apesar de só ouvirmos suas vozes é como se conhecêssemos cada um daqueles personagens, suas angústias, sua personalidade, seus gestos. Tudo é passado pela voz. Assim como vamos nos tornando cada vez mais cúmplices de Locke em seu carro. Tom Hardy consegue nos prender a ele, em suas expressões, em seus gestos, seu olhar. A forma como fala com a mulher, por exemplo, é amorosa e suplicante, mas ao falar com o filho, percebemos a dimensão da emoção dele por não querer perder a família. Da mesma forma que suas conversas com o pai imaginário no banco traseiro nos mostram toda a sua mágoa e trauma da infância sem pai.
A câmera varia, nos mostrando partes da estrada, detalhes do painel, e até o banco traseiro, mas o foco é sempre Locke, suas expressões e suas emoções. E é impressionante como nada disso fica monótono ou cansativo. A ação se sustenta por toda a viagem, na tentativa de consertar cada ponta solta. Até os gols da partida perdida vamos sabendo com detalhes de dribles.
Locke é daqueles filmes intensos, instigantes e envolventes que nos prendem com muito poucos recursos. Um ótimo roteiro e bons atores que vão nos dando as ferramentas para acompanharmos tudo aquilo.
Locke (Locke, 2014 / Reino Unido)
Direção: Steven Knight
Roteiro: Steven Knight
Com: Tom Hardy, Olivia Colman, Ruth Wilson
Duração: 85 min.
Ivan Locke é o típico homem bem sucedido. Feliz em seu casamento de quinze anos, com dois filhos que adora, admirado no trabalho, onde é considerado o melhor em sua área, mestre de obras que coordena demolições e construções, responsável. Mas, um dia, ele tem que ir à Londres, deixando a mulher e os filhos esperando em um divertido encontro familiar assistindo a um jogo de futebol, além de seu trabalho que tem uma entrega importante, a mais importante da companhia. Tudo isso, para consertar o único erro que cometeu em todo esse tempo.
Com mais ou menos meia hora de projeção, você vai entender qual foi o erro de Locke e toda a dimensão que isso ganha, principalmente pelo eco familiar. Locke não quer repetir o erro de seu pai, com o qual sofreu por toda a vida. Ele quer fazer o que é certo. Ele quer assumir seus deslizes e adoraria conseguir isso, mantendo o que já conquistou. Mas, ele lida com pessoas. Com sua mulher que não aceita o erro, com seu chefe que não confia em sua coordenação à distância.
De tudo a nada, ele vai em apenas noventa minutos, enquanto dirige freneticamente até a capital da Inglaterra. E é impressionante que, apesar de estarmos lá, no carro junto com ele, vamos viajando mentalmente por onde as conversas nos levam. Então, acompanhamos os filhos dele vibrando com o jogo na televisão, sua esposa no banheiro chorando, seu chefe desesperado em casa, seu funcionário nervoso no escritório, e, claro, Bethan e os médicos no hospital.
Apesar de só ouvirmos suas vozes é como se conhecêssemos cada um daqueles personagens, suas angústias, sua personalidade, seus gestos. Tudo é passado pela voz. Assim como vamos nos tornando cada vez mais cúmplices de Locke em seu carro. Tom Hardy consegue nos prender a ele, em suas expressões, em seus gestos, seu olhar. A forma como fala com a mulher, por exemplo, é amorosa e suplicante, mas ao falar com o filho, percebemos a dimensão da emoção dele por não querer perder a família. Da mesma forma que suas conversas com o pai imaginário no banco traseiro nos mostram toda a sua mágoa e trauma da infância sem pai.
A câmera varia, nos mostrando partes da estrada, detalhes do painel, e até o banco traseiro, mas o foco é sempre Locke, suas expressões e suas emoções. E é impressionante como nada disso fica monótono ou cansativo. A ação se sustenta por toda a viagem, na tentativa de consertar cada ponta solta. Até os gols da partida perdida vamos sabendo com detalhes de dribles.
Locke é daqueles filmes intensos, instigantes e envolventes que nos prendem com muito poucos recursos. Um ótimo roteiro e bons atores que vão nos dando as ferramentas para acompanharmos tudo aquilo.
Locke (Locke, 2014 / Reino Unido)
Direção: Steven Knight
Roteiro: Steven Knight
Com: Tom Hardy, Olivia Colman, Ruth Wilson
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Locke
2015-03-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Olivia Colman|Ruth Wilson|Steven Knight|Tom Hardy|
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