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O Duelo
O Duelo
Jorge Amado sempre foi um contador de histórias. Ele mesmo se definia como um contador de "causos" e não um escritor. E em Os Velhos Marinheiros essa característica chega ao extremo, onde personagens narram suas versões de fatos que não dá para saber ao certo quem fala a verdade e onde há exageros. E Marcos Jorge conseguiu passar isso para as telas de uma maneira bastante leve.
Diretor do intenso Estômago com João Miguel, Marcos Jorge foca nesse duelo entre o Capitão Vasco Moscoso de Aragão, vivido pelo ator português Joaquim de Almeida e o fiscal Chico Pacheco, interpretado por José Wilker em sua última participação cinematográfica. Enquanto o primeiro narra suas aventuras pelos sete mares, o segundo tenta desmascará-lo com uma versão bem diferente e cheia de tramoias.
Esta questão política vista na versão de Chico traz muito da crítica dessa literatura mais ativista que Jorge Amado imprimiu em uma época. E é triste perceber que até hoje pode representar a política e a sociedade do nosso país. Segundo Chico, Aragão fazia parte de um grupo de boêmios ricos que vivia em cabarés, encostados em cargos políticos ou vivendo de heranças. Conseguiu o seu título de Capitão de Longo Curso graças a artimanhas políticas e algumas propinas. Um festival de absurdos.
Mas, não menos absurdos que as viagens fantásticas da versão de Vasco, onde ele é um verdadeiro herói, extremamente experiente, cheio de mulheres, mas que deu o seu coração a uma única dama que acabou falecendo e por isso, encerrou sua carreira no mar. Na bucólica vila de Periperi, ele só quer esquecer as mágoas e lembrar as boas histórias.
Ainda que mais poética, também a história de Vasco tem suas questões políticas. Não apenas a que ele insiste da função do Capitão do navio e a ética de não se envolver com passageiros, como o fato de seus títulos e histórias chamar a atenção dos moradores da pequena vila, tendo inclusive prestígio com o prefeito local. Interesses e fascínio se misturam. E a própria investigação de Chico Pacheco só começa porque ele sente inveja por ter perdido o posto de contador de histórias da vila. A forma como Marcos Jorge apresenta isso de maneira rápida assim que Chico chega à vila é bastante feliz, por ser eficiente e ter uma boa economia narrativa.
Outra coisa que chama a atenção na escolha da direção é a maneira como as histórias de Vasco vão se embrenhando no cenário da vila à medida que ele conta os fatos. Isso traz a metáfora de que mergulhamos em uma história quando a ouvimos, como se fizéssemos parte dela. Mas, também traz ironias visuais interessantes como a bela Soraia dançando em meio ao velório da moça ou o navio passando pela janela da casa do Capitão.
Marcos Jorge ainda brinca com os westerns, gênero que tem como uma das suas marcas o duelo. A cena do jogo de poker é bem característico disso, com a trilha sonora própria e uma montagem que traz cortes rápidos, intercalados com congelamento da imagem para construir a tensão da disputa entre os lados, tanto em closes como em planos detalhes de olhos, mãos e a mesa do jogo.
É divertido ainda fazer a comparação entre as versões de cada história, principalmente ao constatar as diferenças e semelhanças em situações e personagens, como as das atrizes Cláudia Raia e Tainá Müller que representam um ponto central na trajetória de Vasco e tem ainda uma terceira versão quando o personagem conta a história para Clotilde, personagem de Patrícia Pillar. E é curioso também que esta personagem tenha seus próprios segredos passados contados em também duas versões.
O Duelo é um filme divertido que traz nuanças interessantes seja pela obra de Jorge Amado em que se baseia, seja pelo talento do diretor e seu elenco. Ainda assim, é uma obra sem maiores consequências que provavelmente não vai marcar a nossa história recente como foi o já citado Estômago. Mas, entre as adaptações da obra do escritor baiano está entre as melhores.
O Duelo (O Duelo, 2015 / Brasil)
Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge
Com: Joaquim de Almeida, José Wilker, Patrícia Pillar, Cláudia Raia, Márcio Garcia, Tainá Müller, Maurício Gonçalves, Munir Kanaan. Participações de Milton Gonçalves e Castrinho
Duração: 120 min.
Diretor do intenso Estômago com João Miguel, Marcos Jorge foca nesse duelo entre o Capitão Vasco Moscoso de Aragão, vivido pelo ator português Joaquim de Almeida e o fiscal Chico Pacheco, interpretado por José Wilker em sua última participação cinematográfica. Enquanto o primeiro narra suas aventuras pelos sete mares, o segundo tenta desmascará-lo com uma versão bem diferente e cheia de tramoias.
Esta questão política vista na versão de Chico traz muito da crítica dessa literatura mais ativista que Jorge Amado imprimiu em uma época. E é triste perceber que até hoje pode representar a política e a sociedade do nosso país. Segundo Chico, Aragão fazia parte de um grupo de boêmios ricos que vivia em cabarés, encostados em cargos políticos ou vivendo de heranças. Conseguiu o seu título de Capitão de Longo Curso graças a artimanhas políticas e algumas propinas. Um festival de absurdos.
Mas, não menos absurdos que as viagens fantásticas da versão de Vasco, onde ele é um verdadeiro herói, extremamente experiente, cheio de mulheres, mas que deu o seu coração a uma única dama que acabou falecendo e por isso, encerrou sua carreira no mar. Na bucólica vila de Periperi, ele só quer esquecer as mágoas e lembrar as boas histórias.
Ainda que mais poética, também a história de Vasco tem suas questões políticas. Não apenas a que ele insiste da função do Capitão do navio e a ética de não se envolver com passageiros, como o fato de seus títulos e histórias chamar a atenção dos moradores da pequena vila, tendo inclusive prestígio com o prefeito local. Interesses e fascínio se misturam. E a própria investigação de Chico Pacheco só começa porque ele sente inveja por ter perdido o posto de contador de histórias da vila. A forma como Marcos Jorge apresenta isso de maneira rápida assim que Chico chega à vila é bastante feliz, por ser eficiente e ter uma boa economia narrativa.
Outra coisa que chama a atenção na escolha da direção é a maneira como as histórias de Vasco vão se embrenhando no cenário da vila à medida que ele conta os fatos. Isso traz a metáfora de que mergulhamos em uma história quando a ouvimos, como se fizéssemos parte dela. Mas, também traz ironias visuais interessantes como a bela Soraia dançando em meio ao velório da moça ou o navio passando pela janela da casa do Capitão.
Marcos Jorge ainda brinca com os westerns, gênero que tem como uma das suas marcas o duelo. A cena do jogo de poker é bem característico disso, com a trilha sonora própria e uma montagem que traz cortes rápidos, intercalados com congelamento da imagem para construir a tensão da disputa entre os lados, tanto em closes como em planos detalhes de olhos, mãos e a mesa do jogo.
É divertido ainda fazer a comparação entre as versões de cada história, principalmente ao constatar as diferenças e semelhanças em situações e personagens, como as das atrizes Cláudia Raia e Tainá Müller que representam um ponto central na trajetória de Vasco e tem ainda uma terceira versão quando o personagem conta a história para Clotilde, personagem de Patrícia Pillar. E é curioso também que esta personagem tenha seus próprios segredos passados contados em também duas versões.
O Duelo é um filme divertido que traz nuanças interessantes seja pela obra de Jorge Amado em que se baseia, seja pelo talento do diretor e seu elenco. Ainda assim, é uma obra sem maiores consequências que provavelmente não vai marcar a nossa história recente como foi o já citado Estômago. Mas, entre as adaptações da obra do escritor baiano está entre as melhores.
O Duelo (O Duelo, 2015 / Brasil)
Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge
Com: Joaquim de Almeida, José Wilker, Patrícia Pillar, Cláudia Raia, Márcio Garcia, Tainá Müller, Maurício Gonçalves, Munir Kanaan. Participações de Milton Gonçalves e Castrinho
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Duelo
2015-03-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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