
Em um futuro próximo, a frota policial da África do Sul é composta por robôs programados pelo cientista Deon, interpretado por Dev Patel. O que causa inveja no seu colega de trabalho, Vincent , vivido por Hugh Jackman. Mas, apesar do sucesso, Deon quer mais, projetando o seu projeto mais ambicioso, uma inteligência artificial. Quando um policial robótico é avariado em campo ele tenta testar seu novo invento, apesar da diretora da empresa de segurança, interpretada por Sigourney Weaver. Ele resolve realizar a experiência clandestinamente, mas tudo se complica quando um grupo de marginais rouba o invento.
Há um pouco de tudo em Chappie. A começar pelo mito tradicional do Frankenstein e a eterna vontade do homem em brincar de Deus. Há também muito de Distrito 9 com as metáforas características de desigualdade social e injustiça. Há ainda pinceladas de RoboCop inclusive no design do projeto rival criado pelo personagem de Hugh Jackman que em muito se assemelha ao outro robô da série. Isso sem falar em Exterminador do Futuro e qualquer outra ficção científica que fale em inteligência artificial. Ou seja, quase nada em Chappie nos soa original.

Uma questão que é muito interessante em Chappie é essa metáfora do homem produto do meio. Da violência como educação e os caminhos que uma criança pode seguir a partir dos exemplos. O robô Chappie é uma criança, faz questão de ressaltar Deon em diversos momentos. Uma criança que aprende rápido, é verdade, mas emocionalmente imatura e ingênua. Sua formação se faz da observação do outro e do pacto construído a partir da confiança construída com as figuras da "mãe" e do criador, principalmente. Mas, que se deixa levar pela manipulação do "pai".

O problema é que essa bela fábula, com momentos que merecem nossa atenção, acaba se perdendo em um roteiro confuso e repleto de incongruências esquemáticas, inclusive na noção de tempo. Chappie só teria cinco dias de bateria, mas sua jornada parece bem mais longa, principalmente quando é revelado no final outras situações vividas que foram elipsadas na exposição da trama. Temos também falhas inexplicáveis de segurança na empresa, com algumas sequências que não nos parecem verossímeis. Assim como esquecimentos quase tolos em situações decisivas como um certo gatilho.

Diante de tantas construções confusas e falhas, a boa ideia de Chappie acaba se perdendo. Apesar de termos a sensação de algo interessante ali, não conseguimos nos conectar completamente a obra, questionando muitos de seus problemas e não comprando totalmente a ideia daquele mundo proposto. Nos identificamos com seu protagonista e compreendemos seu papel ali, mas isso se torna muito pouco para uma experiência realmente satisfatória. Um filme que tinha potencial para muito mais.
Chappie (Chappie, 2015 / EUA)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp, Terri Tatchell
Com: Sharlto Copley, Dev Patel, Hugh Jackman, Sigourney Weaver, Jose Pablo Cantillo, Yo-Landi Visser, Ninja
Duração: 120 min.