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Real Beleza
Real Beleza
É difícil não comparar Real Beleza com A Coleção Invisível. Primeiro temos Vladimir Brichta como protagonista, depois ele sai da cidade grande para uma cidade do interior para buscar algo. Esse algo está em uma fazenda que fica ainda mais distante da cidadezinha em que ele se hospeda. E nela vivem uma família, um pai, uma mãe e uma filha. Sendo que o pai é um homem velho, com problemas de visão, culto e com uma mentalidade retrógrada.
Isso não quer dizer que o filme de Jorge Furtado seja uma cópia do de Bernard Attal. Ainda que na estrutura se assemelhem, caminham por temas e escolhas próprias, construindo experiências igualmente diversas. Particularmente gosto mais das soluções do francês radicado na Bahia, ainda que o cineasta gaúcho me seja caro por toda sua filmografia. Talvez o elemento surpresa e a construção da emoção no primeiro tenha faltado aqui.
A grande questão de Real Beleza é a falta de uma unidade em sua abordagem. Começamos como um filme que fala da questão da beleza, a busca pela menina perfeita, que não necessariamente é a mais bonita, mas a que passa a melhor imagem, que funciona na foto. Depois temos um melodrama que traz muito das questões de As Pontes de Madison com o encontro da mulher interiorana, dona de casa, com aquele forasteiro que lhe traz novas e antigas emoções esquecidas. Por fim, temos o drama da menina que sonha em ser modelo, mas é barrada por um pai que não acredita ou não entende esse sonho.
Talvez falte conflito à trama, mas ele necessariamente não é obrigatório. Ou melhor, a intenção de Furtado possa ser retratar a vida, com seus pequenos conflitos aparentes que no fundo podem ser resolvidos de uma maneira muito simples, mas como somos seres humanos complicamos tudo. A busca pela poesia, pelas referências de livros e peças citados a todo momento, a simplicidade do dia a dia são explorados de uma maneira singela. Chama a atenção negativamente, apenas alguns excessos de zoom que buscam construir uma desnecessária tensão.
Mas, ao mesmo tempo, o filme está sempre construindo uma expectativa de tensão, como as cenas na fazenda que envolvem o estranho personagem vivido por Samuel Reginatto. Ou uma espécie de raccord de situação quando ouvimos a frase "tira uma foto minha". Ou ainda na expectativa das reações do velho Pedro, em uma interpretação convincente de Francisco Cuoco. O casal Adriana Esteves e Vladimir Brichta também constrói uma relação delicada e consegue nos passar verdade, ainda que nenhum ator nos traga uma interpretação acima da média.
Apesar de ter ficado famoso com seus filmes de comédia (O Homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara, Saneamento Básico), Jorge Furtado sempre teve um viés crítico e ao mesmo tempo poético em suas obras, vide o famoso curta Ilha das Flores ou o seu primeiro longametragem Houve uma Vez Dois Verões. Real Beleza traz muito dessa composição mais intimista e pessoal, mas com uma linguagem universal. Há momentos extremamente belos como a conversa entre Pedro e Anita.
Não é um filme especial, mas é uma boa história, contada com delicadeza e sem maiores pretensões. Daqueles que são também necessários em nossa filmografia.
Real Beleza (Real Beleza, 2015 / Brasil)
Direção: Jorge Furtado
Roteiro: Jorge Furtado
Com: Adriana Esteves, Vladimir Brichta, Vitória Strada, Francisco Cuoco, Thiago Prade, Samuel Reginatto
Duração: 84 min.
Isso não quer dizer que o filme de Jorge Furtado seja uma cópia do de Bernard Attal. Ainda que na estrutura se assemelhem, caminham por temas e escolhas próprias, construindo experiências igualmente diversas. Particularmente gosto mais das soluções do francês radicado na Bahia, ainda que o cineasta gaúcho me seja caro por toda sua filmografia. Talvez o elemento surpresa e a construção da emoção no primeiro tenha faltado aqui.
A grande questão de Real Beleza é a falta de uma unidade em sua abordagem. Começamos como um filme que fala da questão da beleza, a busca pela menina perfeita, que não necessariamente é a mais bonita, mas a que passa a melhor imagem, que funciona na foto. Depois temos um melodrama que traz muito das questões de As Pontes de Madison com o encontro da mulher interiorana, dona de casa, com aquele forasteiro que lhe traz novas e antigas emoções esquecidas. Por fim, temos o drama da menina que sonha em ser modelo, mas é barrada por um pai que não acredita ou não entende esse sonho.
Talvez falte conflito à trama, mas ele necessariamente não é obrigatório. Ou melhor, a intenção de Furtado possa ser retratar a vida, com seus pequenos conflitos aparentes que no fundo podem ser resolvidos de uma maneira muito simples, mas como somos seres humanos complicamos tudo. A busca pela poesia, pelas referências de livros e peças citados a todo momento, a simplicidade do dia a dia são explorados de uma maneira singela. Chama a atenção negativamente, apenas alguns excessos de zoom que buscam construir uma desnecessária tensão.
Mas, ao mesmo tempo, o filme está sempre construindo uma expectativa de tensão, como as cenas na fazenda que envolvem o estranho personagem vivido por Samuel Reginatto. Ou uma espécie de raccord de situação quando ouvimos a frase "tira uma foto minha". Ou ainda na expectativa das reações do velho Pedro, em uma interpretação convincente de Francisco Cuoco. O casal Adriana Esteves e Vladimir Brichta também constrói uma relação delicada e consegue nos passar verdade, ainda que nenhum ator nos traga uma interpretação acima da média.
Apesar de ter ficado famoso com seus filmes de comédia (O Homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara, Saneamento Básico), Jorge Furtado sempre teve um viés crítico e ao mesmo tempo poético em suas obras, vide o famoso curta Ilha das Flores ou o seu primeiro longametragem Houve uma Vez Dois Verões. Real Beleza traz muito dessa composição mais intimista e pessoal, mas com uma linguagem universal. Há momentos extremamente belos como a conversa entre Pedro e Anita.
Não é um filme especial, mas é uma boa história, contada com delicadeza e sem maiores pretensões. Daqueles que são também necessários em nossa filmografia.
Real Beleza (Real Beleza, 2015 / Brasil)
Direção: Jorge Furtado
Roteiro: Jorge Furtado
Com: Adriana Esteves, Vladimir Brichta, Vitória Strada, Francisco Cuoco, Thiago Prade, Samuel Reginatto
Duração: 84 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Real Beleza
2015-08-09T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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