
Polêmico, Gaspar Noé sempre foi. Mas, parece que com Love, ao mesmo tempo em que ele queria chocar, queria também impor à tela a ideia de que tudo é natural, não tendo nada de chocante. Pelo menos é o que ele coloca na boca do seu protagonista. E é curioso também que, ao mesmo tempo em que ele tenta naturalizar, ele acaba condenando pelas brigas, jogos e culpas das personagens que já carregam em seus nomes parte dos complexos. Murphy e sua lei do dar errado. Electra e seu amor proibido.

Murphy entra, então, em um processo angustiante de rememorar tudo o que viveram, entre encontros, brigas, experimentações, amor, drogas e traição. A montagem do filme vai nos conduzindo em muitos momentos em uma interessante quase fusão entre passado e presente. Com dica principal, o atual bigode de Murphy que o deixa mesmo com cara de mais velho. Interessante perceber também que Gaspar Noé o coloca quase sempre do lado esquerdo do vídeo chegando em um momento a fazer ele trocar de lado, porque a câmera também irá virar, voltando a pegá-lo na esquerda.

"Sangue, esperma e lágrimas", segundo Murphy em uma espécie de alter-ego de Gaspar Nóe, é o princípio da vida e todos os filmes deveriam ter isso. Engraçado que logo depois, Electra pergunta qual o filme preferido do rapaz e ele responde 2001, que não tem nenhum dos três elementos. Mas, de qualquer maneira, enquanto aspirante a diretor de cinema, ele defende o fato de tudo poder estar na tela, traduzindo a essência da vida.

O seu maior problema está na duração. Em determinado momento, o que parecia curioso, envolvente e instigante demonstra sinais de cansaço. O tema e as cenas ficam repetitivos, como se rodando em círculos sem necessidade. Tudo poderia ser mais direto e intenso, nos dando um resultado mais agradável.
De qualquer maneira, Love é um bom filme. Não pelas cenas quentes ou pela polêmica, mas pelo tema que discute e a forma como a câmera e a montagem nos dão sua versão da história.
Love (Love, 2015 / França)
Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Com: Aomi Muyock, Karl Glusman, Klara Kristin
Duração: 135 min.